[UM MÊS DEPOIS]Camila precisou ficar mais um mês internada. Foram quatro semanas intensas e exaustivas, cheias de exames, sessões de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e consultas com o neurologista.
A impaciência e a irritação ainda a acompanhavam diariamente, mas Luan percebeu que Benjamin tinha um efeito tranquilizador sobre ela. Por isso, fez questão de levá-lo ao hospital todos os dias.
Havia progresso, mesmo que lento. Camila já conseguia dar alguns passos com a ajuda de um andador, pentear o próprio cabelo, beber água com um canudo. Mas ainda precisava de auxílio para tarefas simples, como se vestir e tomar banho. Ficar em pé no box sozinha estava fora de questão—não apenas por causa da falta de coordenação, mas pela fraqueza física que ainda a limitava. Segurar um garfo sem que as mãos tremessem era um desafio, mas, se fosse algo que não exigisse talheres, conseguia se alimentar sozinha. Tudo demandava um esforço imenso... e uma paciência que ela simplesmente não tinha.
Os médicos disseram que a recuperação seguiria nesse ritmo pelos próximos seis meses. Qualquer alteração nos exames, e ela teria que voltar ao hospital.
Diante de tudo o que aconteceu—e do que agora tinha plena consciência—, era impossível negar que sua sobrevivência tinha sido um verdadeiro milagre. E, por mais irônico que parecesse, Camila, que nunca soube rezar um Pai-Nosso direito, agora agradecia todos os dias pela sua vida e pela de sua família.
Às vezes, sentia que havia estado no céu... mas sem ver a face de Deus.
...— Pronta? — Luan perguntou ao entrar no quarto.
Ele havia saído para resolver a papelada da alta com o médico e avisar Roberval que logo estariam saindo.
— S-sim. — Camila respondeu com dificuldade, mas com um sorriso no rosto. Estava feliz por finalmente poder ir para "casa".
— Nem acredito que esse dia chegou! — Luan sorriu, olhando para ela com ternura e gratidão. Beijou sua testa antes de ajudá-la a descer da maca e sentar na cadeira de rodas.
— Olha, eu não avisei ninguém sobre a sua alta, mas... — Ele suspirou. — Todos os dias tem uma meia dúzia de fotógrafos e repórteres na frente do hospital. Eu não posso evitar que te vejam assim... O testa está trazendo o carro. Ele vai parar bem na entrada, e eu vou tentar ser o mais rápido possível.
Camila apenas assentiu. Ambos sabiam que esse momento chegaria.
Assim que saíram do elevador, os flashes começaram. Na recepção, entregou os últimos papéis e recebeu de volta os documentos, guardando tudo dentro da pequena mala de mão onde estavam os pertences de Camila.
— Agora, hein! Três, dois, um...
Saíram porta afora. Alguns reporters dispararam perguntas, mas Luan os ignorou. Como combinado, Testa já os esperava com o carro. Luan acomodou Camila no banco do carona e ajeitou seu cinto de segurança, enquanto Testa guardava a mala no porta-malas. Em seguida, abriu a porta de trás e se acomodou no banco do passageiro.
Luan entrou no carro, ligou o motor e sinalizou a saída. Não dirigiu uma palavra sequer aos fotógrafos.
Iria se pronunciar mais tarde.
Talvez, amanhã.
...
— Surpresa!
Assim que Luan abriu a porta de sua nova casa, Camila se deparou com uma recepção inesperada.
Beatriz, Tio Ricardo, Tia Patrícia, Stacy, Zac, Marizete, Amarildo, Benjamin... e uma linda bebê que já dava seus primeiros passinhos.
Scarlett, sua pequena afilhada.

VOCÊ ESTÁ LENDO
ABISMO
RomanceEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...