Preface

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Cris falava algo sobre um bolo que ela havia comido no centro, mas Lirio não deu tanto crédito ao que ela falava, já que estava focada em organizar todos os livros na enorme estante do escritório. Comprar novas leituras era sempre uma ótima diversão, arruma-las que não era a parte favorita, ter que organizar livro por livro, era cansativo e tedioso.

Chamava a melhor amiga — Cris — toda vez para ajudar, mas ela nunca deixava do jeito que a mulher gostava então, ela mesma acabava fazendo, como agora.

— Aposto que eles tem uma conta no Instagram. — Disse, já com o telefone em mãos, abrindo o aplicativo para pesquisar pela doceira. — Serio, você precisa experimentar, planta.

— Cris, da pra você me ajudar aqui? — Questionou, apontando para a enorme estante e ignorando o assunto dos bolos.

— Você não ouviu nada do que eu disse, né? — Cruzou os braços, a olhando um pouco brava. Lirio negou e a cacheada bufou. — Chata.

— Cuida logo. — Resmungou.

Ela pegou uma das caixas novas e já abertas, e foi entregando a amiga, que sorriu agradecida. Os livros eram organizados por cor e categoria, esses seriam colocados nos que ainda não foram lidos. As duas conseguiram arrumar tudo de forma bem rápido, e Cris voltou a falar do bolo delicioso que comeu bem próximo a vinte e cinco, e Lirio concordou em ir la algum dia, para provar do doce.

— Viu só? Era só ter jogado eles aí antes. — Cruzou os braços, olhando para os livros orgulhosa pelo mínimo esforço.

— Não. — Vilhena respondeu.

A morena bufou, recolhendo as caixas e saindo do recinto, as deixando na sala e caminhando para a cozinha, com a cacheada lhe seguindo em todo esse trajeto. O cheiro dos biscoitos estava por todo o ambiente, que assavam no forno e douravam pouco a pouco. Quem ensinou a receita foi Cris, que também havia aprendido com sua mãe.

Lirio se sentia orgulhosa por ter acertado finalmente o ponto da massa, já que desta vez eles não haviam derretido ou crescido demais ao ponto de virar um bolo. A mulher era boa com doces, mesmo que nunca tivesse a ambição de investir naquilo, se divertia muito e se sentia mais calma quando estava na cozinha fazendo algo para alimentar a glicose.

A mãe dela, sempre foi uma amante de flores — por isso o nome de planta —, e quando conheceu o pai da mesma, ele era bibliotecário. Foi como amor à primeira vista, dona Luiza entrou livraria que o homem trabalhava, no auge dos seus dezenove anos, para revender as flores que comprava em uma floricultura, tudo para ter seu próprio dinheiro. Apesar da alergia com todo e qualquer flor, Ricardo comprou duas rosas vermelhas e segurou ao máximo o espirro.

Os dois então não pararam de se ver após isso, começaram a namorar e logo noivaram, em seguida casaram. No primeiro ano do casamento, Floribella a filha mais venha nasceu, e três anos depois Lirio veio ao mundo também. Então, o casal criou sua independência, enquanto Luiza abriu sua floricultura de garagem, Ricardo finalmente teve sua livraria, comprando com seu dinheiro suado.

Cada uma das filhas, se identificou com uma área, a mais velha assumiu a floricultura e a mais nova, a livraria do pai. Agora, somente Ricardo permanecia vivo.

— Parece que agora deu certo. — Cris comentou, enquanto olhava para o forno elétrico.

— Óbvio que deu, dona Sida é uma mestre cuca. — Respondeu, Lirio e ela concordou. — Vou por para esfriar.

Ela assentiu sorridente, e então voltou a mexer no telefone, talvez em busca do Instagram que havia comentado minutos atrás. Enquanto, a livraria — que amava cozinhas — fazia um esforço para não queimar as mãos, a ouviu suspirar e olhar boba para o celular.

𝐒𝐨𝐧𝐡𝐨𝐬 & 𝐑𝐨𝐬𝐚𝐬 ━━ Emiliano Rigoni Onde histórias criam vida. Descubra agora