Era uma vez: Parte II

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Pedimos dois pratos distintos e enquanto esperávamos, conversavamos, bebemos o mesmo vinho, foi a primeira vez que tomei álcool na minha vida inteira, a minha expressão ao beber o vinho não disfarçou a ocasião, ele pensou que eu não tivesse gostado e disse "tu és mais maluca do que eu pensava, se não achas que isto é a melhor coisa que alguma vez provaste". Talvez seja, mas tenho a certeza que seja porque a minha língua nunca saboreou tal coisa e não acho que seja imperioso que ele saiba que eu ainda não tenho vinte e um anos para legalmente beber com ele. Mas sejamos honestos, nenhum de nós quer saber.

Ele tem vinte e um anos, nasceu e cresceu aqui em Chicago. Os pais estão mortos e ele é filho único, até agora temos isso em comum, é viciado em vídeo jogos e tem medo de alturas. Afirma que não existe coisa melhor que pizza no mundo, diz que até o sexo fica de joelhos para pizzas, porque simplesmente não existe coisa melhor.

Tirando a aparência e as boas intenções que ele até agora mostrou, devo dizer que o sentido de humor dele apanhou a minha atenção e a simpatia também apesar de não ser tão sorridente.

- E o que é que o Mason faz para pagar a conta de um sítio sofisticado como este a uma rapariga que mal conhece?

Ele sorriu sem revelar os dentes antes de dar um gole na taça de vinho.

- Sou narcotraficante, ahm...faço lavagem de dinheiro e já fui um franco-atirador. Mas por enquanto estou só no narcotráfico.

Ri-me ligeiramente porque não estava a conseguir dizer se ele estava a brincar ou se estava mesmo a falar a sério. Mas até agora ele não disse nada que pareceu estar a brincar, porquê é que ele faria isso agora?

- Estás a falar a sério?
- Antes de entramos em detalhes, seria melhor se colocasses a tua canivete por cima da mesa.
- Canivete? - fiz uma careta

Ele não estava a vacilar e não parecia estar a brincar. Narcotraficante meu cú, eu estou a jantar com um assassino.

Boa Munich, eis as consequências de comeres em todos os pratos que te entregam, se desses-te o trabalho de ver quem está a dar-te o prato, não estarias aqui.

Ao menos vou morrer de barriga cheia.

Mas de novo, não deixei o meu medo passar para o exterior. Ele não deixou de olhar para mim e eu também não, ele pode estar só a tentar a sorte, mas mesmo assim, como é que ele saberia que é especificamente uma canivete?

- Eu vou começar. - ele disse e colocou duas armas de fogo por cima da mesa que estavam presas as suas calças de moletom.

O garçom que nos estava a servir deixou os nossos pratos na mesa, como se não tivesse visto que o Mason havia deixado armas ali. Foi então quando percebi que o Mason anda mais no Elysian do que o normal, no sentido de provavelmente ser o dono do sítio por isso o senhor não lhe disse palavras como "por favor retire a sua arma da mesa, pois vai afugentar a clientela", nenhum deles quis saber, o que significa que provavelmente seja normal que alguém o faça...especificamente o Mason.

Puxei a minha saia, sem quebrar o olhar com o Mason e tirei a canivete, deixei-a ao lado dos talheres que estavam ao meu lado e lancei um sorriso rápido falso.

- Ótimo. - ele disse.

O garçom apareceu com um ficheiro que o Mason recebeu depois de comer um pouco a sua carne. Assim que o Mason recebeu, o garçom deu uma vénia e foi-se embora.

- Três horas foi suficiente para procurar um pouco de ti e devo confessar que para alguém que furta com frequência és má a esconder traços. - ele voltou a comer.

Eu continuei a olhar para ele na busca de tentar perceber como é que ele sabe tudo isso. Será que ele escolheu a hora e local porque lhe favorecia? Sim, claro que sim. Agora resta saber porquê ele quer saber.

- Usaste a mesma canivete para matar o teu papá.
- Não.
- Não estava a perguntar. - ele fitou-me seriamente e passou-me o ficheiro com as fotos de um homem coberto de sangue e outras do mesmo homem deitado na morgue. - Estás a ver as facadas no pescoço dele? - ele puxou o braço para pegar na minha canivete e eu num instante peguei na mão dele. - Calma, quero só mostrar-te algo. - Sem quebrar contacto, larguei a mão e ele clicou o botão que tira a faca da canivete - São cortes curtos, profundos e sem dentes, essa canivete cobre o perfil da facada. Mas por causa do local do crime, posso dizer que sei porquê o fizeste e eu sem dúvidas faria o mesmo.
- És do FBI? CIA?

Ele riu-se.

- Eu já te disse o que faço. Simplesmente gosto de saber com quem trabalho.
- Com quem trabalhas? Eu não trabalho contigo e nem para ti. E não tenciono mudar isso.

Ele não disse nada, continuou a olhar para o meu ficheiro e abriu os olhos ao ver algo, depois voltou a encarar-me.

- Tens dezassete anos?! - Mason deu um gole no vinho e depois sorriu com os olhos ainda na pequena brochura - Mataste a tua mãe com o vosso telemóvel fixo! Interessante. O que aconteceu?
- Mason, o que é que queres?
- O que nos dois queremos. Estamos com um membro a menos no grupo, Gianni matou o Frederic por traição e por coincidência, eu encontrei-te a furtar, o que ia significar que és uma daquelas adolescentes que faz as coisas por adrenalina ou realmente não tens dinheiro e segundo o teu histórico, tudo cai na segunda opção.
- Eu não vou traficar drogas Winchester, esquece.

Vender drogas é assassinar uma pessoa indirectamente, não causas danos diretamente e ninguém sai magoado, mas se olhamos para a situação numa outra perspectiva, ao vendemos as drogas para alguém estamos a ajudá-los a afastarem-se da sua vida cada vez mais e eu não faço isso. Tudo que eu fiz até agora foi por falta de escolha não porque eu realmente quisesse.

- Não vais vender diretamente, não te vou submeter a isso. Por enquanto só tens que conduzir, olha para ti como se fosses a minha mulher de correios privada, vais dar um passeio com mais alguém e vais entregar a uma pessoa específica. Por seres uma mulher, eles não vão esperar muito de ti e ninguém nunca vai desconfiar.
- Se tua achas que isso não é tráfico, és mais louco do que pareces.
- Vais fazer um take away disso? - ele apontou o meu prato com a cabeça enquanto comia.
- Mason!
- Nós dois saímos a ganhar. - ele sorriu. - Tu tens tudo que eu preciso, a aparência, o controle, a falta de emoções, a falta de culpa. Se aceitares, posso fazer que recebas $3000 na primeira entrega. Só tens que dizer sim Munich.
- E com quanto é que tu ficas?
- Não te diz respeito.

Três mil dólares resolveria todos meus problemas recentes, mas tráfico de droga vai contra todos os meus princípios.

Ajuda as vezes não vem vestida da melhor forma.

Enquanto eu pensava, o Mason continuava a ler e a comer.

- Porquê eu?
- Porquê não tu? - ele perguntou sem tirar os olhos dos papéis. - Onde é que tens dormido aqui em Chicago?
- Não te diz respeito.
- Tudo bem. Só queria saber se não estarias interessada no quarto de hóspedes no meu apartamento. Posso até arrendar para ti, para não ir contra seja lá que tipo de princípio vocês feministas tem.
- Quem disse que sou feminista?
- Não és? - ele fitou-me com um sorriso maroto.

Idiota.

- Vais arrendar a quanto?
- $100 por mês. Por mim nem pagavas, mas enfim podes pagar via PayPal porque honestamente, não preciso de $100 para nada. Vais comer o que eu comer se quiseres, terás acesso ao apartamento todo menos o meu quarto obviamente. Nada de festas, visitas sem a minha permissão e animais. Mas isso é só se trabalhares para mim.

É uma boa proposta Munich. Três mil dólares e um teto só por causa de conduzir um carro e entregar uma mala? Mas e se eu for apanhada? Vão descartar-me e substituir-me como um pano velho...

- Quero proteção.
- O quê?
- Se eu alguma vez for apanhada. Eu quero proteção.
- Isso é o de menos, estarás protegida por mim, porque vais fazer parte da minha máfia. Nós não deixamos nenhum homem para trás.

Aceita.

Munich, aceita.

Aceita porra.

- Quando é que começo?

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Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora