26. Fraturada.

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- Então é verdade? Eu sou ela? - finalmente falei depois de muito tempo calada.

Eu estava agora a seguir o Patrick para o quarto dele, como ele havia mandado.

O que aconteceu foi que, depois de eu humilhar-me perante a ele, Patrick viu o caos que eu estava: o vestido rasgado, a maquilhagem arruinada e a tristeza nos meus olhos, fez com que ele decidisse me levar de volta a mansão ao invés da minha casa e mandar uma das suas trabalhadoras domésticas arrumar a minha mala e mandar um dos seus homens trazerem-na até a minha casa.

- Tens a cara dela e alguns traços dela, mas tu não és ela, tu eras ela. - ele respondeu enquanto subíamos as escadas.
- Ele disse que percebeu por causa da tatuagem. - murmurei.
- São as iniciais do nome verdadeiro dele, é claro que ele ia se lembrar.

Não acredito que julguei que fossem as iniciais do meu nome.

Então as memórias que a assombração mostrava-me...eram as minhas memórias? Porquê é que eu consigo ouvi-la com tanta clareza? Será que é porque ela é uma parte de mim? Ou eu sou uma parte dela que sem querer tomou controle sobre o corpo?

Oh céus, eu estou a ficar maluca.

- Madelyn? - Patrick chamou-me.
- Hã?
- Podes entrar. - ele deu-me permissão já dentro do quarto.

Eu estava parada a alguns metros distantes da porta, eu estava em frente ao quarto dele mas eu não conseguia ver o que estava lá dentro, estava tudo branco, tudo a minha volta havia desaparecido, eu já não estava no tempo e no espaço. Eu estava agora num mundo só meu, onde os meus pensamentos faziam de mim o seu refém, eu não tinha a permissão de pensar mais nada que não fosse o que eles quisessem que eu pensasse.

O que a minha consciência quer eu pense.

E o que ela quer, é que eu pense no Jesse e como ele não quer ficar comigo.

Como se isso fosse um problema.

Talvez seja um problema, se eu não consigo parar de pensar.

Quando voltei ao mundo a minha volta depois da autorização vocal do Patrick, entrei no seu quarto contemporânea e decorado de cores escuras. Não havia muita coisa lá dentro, provavelmente porque esta não é a casa onde ele passa a maior parte do tempo. Mas notei a foto dele e a moça que vi só uma vez, no dia que cá cheguei.

"és mesmo tu." Foi o que ela disse quando me viu, o que significa que ela me conhecia também.

A Munich.

- Ela...- eu queria falar mas as palavras simplesmente negavam de se formar.

Patrick olhou para a direção dos meus olhos e vimos a mesma coisa.

- A Tina. Conheceste-a quando chegaste. É a minha caçula. - ele disse antes de abrir umas das gavetas da cabeceira e tirou um porta-retrato e entregou-me, era uma foto dele...comigo.

Era como se eu estivesse a viver um mundo paralelo, onde cenas ocorreram e eu não me lembrava ou como se realmente tivesse identidade múltipla e vivi uma grande parte da minha vida como uma das personagens.

Depois entregou-me um outro em que eu estava sentada no colo do Jesse e ele ao nosso lado.

Sentei-me na cama dele sem saber o que dizer ou fazer.

- Merda. - eu disse.

Olhei mais uma vez e vi a minha aparência de bebé, por isso perguntei-lhe quantos anos ele acha que eu tinha na foto.

Ele disse que foi uns meses depois de eu ter me casado, o significa que eu tinha cerca de 21 anos de idade.

- Isso...isso significa que ainda tenho 28.
- Certo.
- Eu pensei que tivesse 30.
- Fica feliz, és ainda dois anos mais nova. - Patrick sentou-se ao meu lado.

Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora