8. Um Encontro

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Jesse estava a comer um pequeno pote de salada de fruta enquanto eu fumava o meu cigarro sem nunca dirigir-me a ele.

- Líchia? - ele perguntou-me mostrando-me a fruta na colher mas eu educadamente dispensei

Ele continuou a comer e antes de acabar, pediu mais uma rodada da cerveja que bebera e um cinzeiro para mim. Acabei por perguntar-lhe porque ele tem um isqueiro enquanto não fuma e ele respondeu que é imperioso caso ele queira arder alguém ou se alguma coisa acontecer, fogo sempre ajuda. Mas disse que é mais por força de hábito porque ele costumava fumar.

- Oh! Então tu fumavas. - falei surpresa.
- Pois. Mas a Munich não gostava então...- ele encolheu os ombros.

Calei-me por um segundo e virei-me para ele para dizer-lhe que eu por acaso tentei desistir de fumar, implica muitas idas ao dentista para fazer controle do meu hálito e dentes porque eu tenho que manter uma imagem digna e pura, mas não correu bem porque sempre que o Wesley irritava-me e pedia desculpas com beijos e abraços e rosas, mesmo sabendo que o tabaco não ajuda a reduzir os nervos, era para os cigarros que eu recorria.

- Tua relação com o Russell  parece mais tóxica do que eu pensava. - ele disse antes de beber.
- Tua relação com a tua esposa parece mais um conto de fadas do que qualquer outra coisa. - comentei enquanto apagava o cigarro e sentia um pedaço de ciúmes da relação dele com a falecida.
- Pois. Munich era...uma criminosa vestida de Cinderela e eu não quero falar sobre isso.

Tenho pena da pessoa que vai estar num relacionamento com ele a seguir. Com certeza vai sofrer primeiramente porque passaram-se sete anos e está mais claro que ele ainda ama ela e segundo porque não há pior coisa que competir com a mulher morta do homem que gostas, é uma luta invencível principalmente porque ela já não existe neste mundo. Então é só tu e o fantasma da ex mulher dele.

- Podemos falar do facto de teres escolhido ser o rei do tráfico de drogas, com muitas outras opções.
- Não haviam muitas outras opções. - ele disse antes de beber.

Ele procedeu em contar que ele vivia num orfanato quase morto, onde viviam lá cerca de oitenta crianças e precisava de ir à escola porque a mãe sempre lhe dizia que para ele sair do bairro em que eles viviam, só escola poderia ajudá-lo. Mas ninguém queria adaptá-lo, passou por várias casas de acolhimento e ele tinha demasiados traumas físicos e psicológicos que nenhum pai queria levá-lo para casa.

- Que trabalho é que eu teria com onze anos? Porque eu realmente precisava de dinheiro, eu era um órfão, eu estava sozinho no mundo, só tinha uma porra de teto onde ficar e mais nada. Quem é que ia pagar pelos cadernos que eu supostamente deveria levar a escola? Os livros? A roupa para eu vestir? Era mais fácil vender drogas para um idiota qualquer e esperar o pagamento dele no final do dia do que depender de um bando de adultos que decidiram abrir um orfanato sem condições de o manter. Porque no fim, o dinheiro do idiota pagava pelos cadernos, os livros e a roupa. Eu não tinha muitas opções.
- E quando ficaste mais velho, porquê não saíste?

Jesse lançou-me um olhar e depois olhou para a vista do mar a nossa frente e disse:

- Estava demasiado dentro. E era demasiado bom no que fazia. E o dinheiro não parava de entrar, não para.
- Então é só pelo dinheiro. Sabes qual é o número de pessoas que tens estado a matar só por traficares essas merdas?

Jesse revirou os olhos e fitou-me.

- Saí dessa bolha em que estás e olha a tua volta princesa, a vida é um jogo, cabe a ti escolher se queres jogar ou ser jogado.
- O que é que isso tem haver com as pessoas que tens matado?
- Tudo. - ele sorriu de lado.

Jesse e eu ficamos em silêncio por um tempo e eu meio que não estava a perceber a demora do resto do grupo, não é muito boa ideia deixar-me com o King por muito tempo, pois quanto mais tempo fico com ele, mais eu percebo que ele não é uma pessoa excepcional.

Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora