31. A Namorada.

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Passaram-se quatro noites depois da cena do Wesley e nós temos estado a dormir em quartos diferentes: ele tem estado no nosso quarto e eu no quarto de visitas. Não temos estado a falar, de todo, ele por algum motivo ainda não encontra o problema e eu tenho estado a dar-lhe o tratamento do silêncio, então, a casa tem estado um completo silêncio, quando ninguém toca na loiça agressivamente ou quando ninguém decidi assistir nada com o volume alto.

Mesmo assim, fazemos as coisas juntos ainda, como a porcaria das compras de natal. Eu estava a empurrar o carrinho de compras enquanto o Wesley colocava as coisas que ele queria para a decoração lá dentro, as bolas, as luzes, e todo resto da decoração e perguntava pela minha opinião ocasionalmente, mas eu mandava-lhe foder.

- Eu...eu vou escolher as árvores do outro lado. - ele apontou a uma secção da loja que tinha só as árvores de natal de várias cores. - Queres vir? - ele perguntou

Como resposta, ao invés de dizê-lo que não, continuei a andar empurrando o carrinho e ele percebeu logo a mensagem.

Enquanto eu andava, apreciava o que a loja tinha a oferecer, foi então quando ouvi a voz de uma moça, que parecia estar a dialogar ou a falar ao telemóvel muito alto.

Ela dizia coisas como "sabes amor, esta é a minha época do ano preferida", uau, só pessoas que cresceram numa família extremamente perfeita, conseguem dizer isso com muita convicção. Ouvi-a a dizer também que ela quer usar pijamas a combinar no dia vinte e cinco deste mês para eles poderem tirar fotos e abrir os presentes e que ela adoraria que fosse tudo na casa dele.

- No meu apartamento? - ouvi a voz dele mais perto, o casal estava a vir a minha direção...ela não estava a falar ao telemóvel, ele simplesmente não estava a responder...porque é o que o Jesse faz quando ele não ouve o que lhe estão a falar.

O que eu estava a ver, era mais surreal do que eu pensava. Ver eles juntos, pessoalmente, tornou tudo muito mais real.

Ele tem uma namorada branca e ruiva, que parece uma boneca, que aparentava fácil de se manipular, ela era bonita sem nenhuma sombra de dúvidas, pequena e gostava mesmo do natal, porque eu iria sem dúvidas confundi-la com um dos funcionários aqui por causa do bandolete de renas que ela usava...se bem que os funcionários estavam todos a usar o chapéu do pai natal, então, não faria muito sentido, mas mesmo assim eu o faria, só para provocá-la.

- Sim, tolinho. - ela disse com um sorriso simpático. - Olha, vou só buscar algo que vi lá atrás, estava mesmo a pensar se levava e conclui que vou sim levar, venho já.

Ela deu-lhe um beijo na boca e foi-se embora.

Jesse ainda não me tinha visto. Eu estava só a olhar para ele, sem nada para dizer, é literalmente a primeira vez que o vejo com olhos de parceiro, marido, como o deixei. Mas vê-lo com outra mulher, meio que deixa-me um pouco esquisita.

Jesse inclinou-se no empurrão do carrinho e começou a mexer o telemóvel.

Ele está bastante a vontade aqui, com a guarda em baixo, como se ninguém fosse tentar matá-lo aqui mesmo, tendo em consideração que só estamos nós dois neste corredor.

- Sabes, eu podia passar por ti e esfaquear-te de forma despercebida. - eu disse-lhe e ele virou-se para frente, dando de cara comigo com a testa franzida. E assim que me viu, a sua expressão agilizou.
- Aí é? - arqueou a sobrancelha
- Estás vulnerável. Acho que foi a primeira coisa que me ensinaste quando começamos a namorar "nunca baixa guarda quando estiveres num lugar público"

Jesse franziu a testa em dúvida. Patrick não contou-lhe.

- O que foi que disseste? - ele perguntou
- Gianni não contou-te. - eu disse aproximando o meu carrinho ao dele.
- Não contou-me o quê... - Mason estava ainda a olhar para mim desacreditado mas levemente irritado. - Munich!?
- Agora imagina a minha surpresa quando eu volto e quero contar ao meu marido que voltei e descubro que ele tem uma namorada herdeira qualquer?
- Não, não, não, não. - ele abanou a cabeça e começou a irritar-se enquanto sussurrava - A primeira pessoa que tu pensaste em contar foi Gianni ao invés de mim?
- Eu contei a ele porque tu tens uma namorada. Uma namorada.
- Porra, não age como se não soubesses o que aconteceu a seis anos atrás. Seis meses atrás. Eu TIVE que seguir em frente Munich, aparentemente, tu não ias voltar e eu não queria ficar com a pessoa que tu eras. Estava mais do que na hora. Entretanto, isso não significa que eu deixei de amar-te em minuto algum.
- A sério? Porque NYC Magazine adora os novos pombos de Nova Iorque.

Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora