36. A Sobrevivência.

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Estamos a conduzir no carro do Dante a horas agora e eu não sei para onde estamos a ir e honestamente não me interessa, porque agora eu estava a tentar unir as peças do puzzle e mesmo quando eu as desfaço e volto a fazer, todos os caminhos insistem em dizer-me que o Wesley pode vir a ter uma obsessão por mim.
O que parece bastante arrogante mas pode ser verdade. Mas é uma obsessão no sentido de ninguém poder fazer nada para mim, ninguém excepto ele, o significa que ninguém pode matar-me nos seus olhos, ele nunca vai permitir que alguém me tire dele, ninguém excepto ele mesmo. Ele pode vir a matar-me hoje.

Isso leva-me a concluir que eu tenho mesmo que sair daqui.

Ele está a conduzir a 120 km/h, eu não posso sair do carro nessa velocidade, se eu não morrer, vai com certeza deixar-me meses no hospital.

E parar no hospital não é bem uma opção.

- Como é que foi? - ele perguntou. - Lembrar de tudo, como é que foi?
- Perceber que o meu irmão tem estado a tornar a minha vida num inferno? - abanei a cabeça - Não foi giro.
- Para de chamar-me isso. - ele bateu o volante - Não somos do mesmo sangue. Nem somos da mesma cor porra. - ele passou a mão pelo cabelo. - Não é ilegal.
- É moralmente incorreto caralho. - bati a mão na minha cabeça - Nós crescemos e fomos educados para sermos irmãos, porque eu fui adoptada pela mãe e o pai...eu não tenho que explicar-te isso.

Brandon explicou que nunca chegou de ver-me como a irmã dele. Quando eu fiz dez anos de idade, ele já pensava na minha primeira vez e em como seria tocar no meu corpo inocente, mas ele sabia que tinha que esperar. Ele disse que notava o quão simpático eu era para ele e como eu segurava na mão dele quando ia brincar ou como eu encolhia-me no seu corpo quando ficava com medo...ele sentia o meu amor por ele. Ele queria proteger-me e guardar-me como um tesouro.

- Tu estás a gozar comigo certo? Porque de jeito nenhum, tu estás a falar a sério.

Eu queria mesmo partir o nariz dele no volante. A sério.

- O pai eventualmente notou o meu amor por ti e não gostou. Ele ficou tão furioso e com tanto ciúmes que achou que a melhor solução seria mandar-me embora de casa.
- Ele mandou-te embora porque não suportava a ideia de ver-te comigo? - perguntei desacreditada. - Vocês eram a minha família, porra.

O que estava mesmo a espantar-me é que ele não via nada de errado com nada daquilo que estava a contar-me. Na cabeça dele, o que ele estava a fazer era completamente normal, a sua paixão por mim, a disputa dele com o pai para terem "o meu amor", tudo completamente banal.

Ele disse que continuou por perto mesmo depois de ser mandado embora, ele sabia das violações do pai e odiava a minha mãe por deixar acontecer, aparentemente ele gostava da ideia de mim virgem, ele queria guardar-me para ele e odiava o meu pai por ter estragado aquela fantasia.

- Sabes...sabes dizer o que aconteceu com a mãe? - murmurei
- Eu matei-a.

Virei-me para ele com os olhos desacreditados. Se eu matar ele agora, eu também morro, por causa dessa porra de velocidade. Então eu só posso continuar a ouvir e fingir não querer matá-lo até eu puder matá-lo.

Brandon matou a minha mãe e deixou as culpas caírem sobre mim.

- Tu?
- Ela ia denunciar-te.
- Sim porque era o combinado. Ela não ia denunciar-me, ela ia denunciar a morte do pai e eventualmente explicar o que aconteceu...tu mataste a minha mãe?! - gritei na última frase e auto-controle foi-se embora; comecei a bater o Brandon, chapadas atrás de chapadas, que lhe obrigou a parar o carro logo a seguir.

É claro que o plano com a minha mãe não tinha sentido nenhum mas matá-la também não tinha sentido nenhum. Se ele é assim tão louco e obcecado, haviam muitas outras coisas extremas que ele podia ter feito, matá-la daquela forma não era uma dessas coisas. Ela não mereceu o tipo de morte que teve.

Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora