12. Emoções Espalhadas.

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JESSE KING

Assim que a Madelyn voou e bateu com a porta a sua trás, encontrei-me a refletir no que ela havia dito enquanto chorava. Tirei o meu telemóvel do bolso e liguei para um dos meus contactos e ordenei pelo registro médico dela.

- Tens uma hora para entregar-me isso. - disse-lhe
- Sim Senhor King.

Uma coisa que irrita-me nesta rapariga é que ela consegue ser tão infantil, então estou a assumir que ela não vai falar comigo por causa desta discussão. Se bem que talvez eu não devesse ter puxado por ela daquela forma, muito menos abordar o assunto daquele jeito.

Não estou a sentir-me mal mas acho que foi um pouco fodido, o que fiz.

O que significa que eu devo-la um pedido de desculpas.

Merda.

É o de menos, para ser sincero, mas não deixa de ser ridículo.

Tenho que dizer que viver com ela tem sido o melhor dos sonhos e o pior dos pesadelos e sempre que penso em mandá-la embora, vários factores entram em jogo e obrigam-me, praticamente imploram-me a não fazer isso.

O marido dela é um deles.

Wesley pode vir a matá-la por possessão, provavelmente a ideia de vê-la com outras pessoas incomoda-lhe a espinha.

Idiota.

E mais porque ela tem vários mas ao mesmo tempo tão poucos traços da Munich.

Seria como perdê-la outra vez depois de tê-la encontrado.

O que é patético, errado e egoísta mas sei lá.

Fui até ao escritório e encontrei o Patrick a trabalhar em qualquer coisas que não me interessa, mas ele estava bem concentrado na cena.

- Tive uma discussão com a Madelyn. - Eu disse-lhe antes de me sentar na cadeira em frente à secretaria
- Onde é que está a novidade mesmo? - ele perguntou sem tirar os olhos da tela. - Honestamente, aquela miúda discute com todos.
- Correção, tu estás sempre a implicar com ela e ela está sempre a implicar comigo. - levantei-me para abrir uma cerveja que estava num balde por cima da secretária. - Ela não discute com ninguém para além de nós.

Patrick riu-se ainda com olhos no computador.

- Parece-te familiar? - Patrick perguntou com um sorriso.

Não respondi, apesar de concordar com o que ele disse.

- Mas desta vez fui eu quem causou o drama.
- Hmm.
- Ela chorou.

Finalmente apanhei a atenção do meu irmão, que olhou para mim e disse "uau, nem eu nunca cheguei tão longe".

- Ela não gosta de falar do Russell.
- Está bem. E tu forçaste-a a falar no assunto?
- Mais ou menos.
- Porquê?
- Porquê não? Não vi onde estava o problema. - encolhi os ombros
- Tu não gostas de falar da Munich. - ele franziu a testa. - Mas estranhamente vês algum problema quando perguntam-te sobre ela.

Arquei a sobrancelha.

- Sabes, eu não me armava em muito esperto quando falavas da tua relação com a Juli-Ann ou Edmundo.

Ele voltou a rir-se.

- Errr...isso não é verdade. - ele disse.

Depois de um pouco de mais conversa, explicando-lhe o que aconteceu entre eu e a Madelyn, olhei para as horas e vi que já haviam passado cinquenta e sete minutos, que foi quando recebi uma chamada da minha fonte a dizer que os documentos da Madelyn já estavam na minha residência, por isso fui até ao andar de baixo para receber.

- Obrigado. - eu disse para o segurança que entregou-me a encomenda.

Abri o envelope ainda parado ao lado da porta fechada e vi lá vários papéis e várias fotos explícitas e perturbadoras da minha refém.

- traumas na...

Enquanto eu passava pelas fotos, eu não acreditava na informação que os meus olhos mandavam para o meu cérebro. Russell não bate na mulher, ele tem estado a espancá-la a quatro anos. Mordi o interior da bochecha enquanto tentava não deixar ser levado pelos nervos. Raiva. Ira. Chamem o que quiserem.

Subi as escadas e abri a porta do escritório, Patrick estava lá sentado com os pés por cima da secretária enquanto fumava.

- O que se passa? - ele perguntou assim que ouviu-me a bater com a porta para poder fechá-la.
- Quando é que posso matar o filho da puta mesmo? - atirei os papéis para mesa e o Patrick olhou por uns segundos em saber o que era e assim que percebeu e viu as fotos, tirou os pés da secretária e prendeu a marijuana aos dedos enquanto passava as fotos com choque nos olhos.
- Os papéis representam o número de vezes que ela foi internada?
- Ela foi violada. Várias vezes. Está cheio de traumas vaginais em todas as porcarias dos papéis. - comecei a andar de um lado para o outro.
- Estas lesões não podem ter sido causadas por um punho. - ele mostrou-me uma das fotos.
- Ela tem medo dele.
- São muito papéis Jesse. - Patrick comentou virando todas as folhas da brochura.
- Eu juro que vou crucificá-lo em frente a minha varanda.

Eu estava a tentar clicar os pontos, perceber melhor os porquês dela preferir passar pelas mãos de um outro cirurgião plástico se ela pode acabar com o pesadelo de vez, se ela simplesmente denunciar o filho da mãe.

Se há uma coisa que eu detesto, são homens que tocam nas esposas. Tu fizeste votos de amor com essa mulher, não prometeste-a perfeição nem mar de rosas mas prometeste olhar por ela, amá-la e lutar contra os problemas juntos e não lutar um contra o outro...como é que tens a coragem de "educá-la" com o teu punho? De manchar a beleza dela? De atirar ao lixo tudo que a prometeste nos votos?

- Yo Mason. - ele puxou-me para realidade - Engole essas emoções - disse enquanto apontava-me com a marijuana

Respirei fundo e comecei a praguejar porque não estava a dar certo.

- Porque não são essas emoções que vão mudar isto. - ele mostrou-me a foto dela com a cara danificada. - Só vão atrapalhar, se queres a minha opinião.
- Porra. - dei um murro na parede e interiorizei a dor.

Patrick sem olhar para mim puxou o balde de gelo com as suas cervejas.

Não hesitei em andar até lá e colocar a mão no gelo.

- Quando chegar a hora. Eu pessoalmente vou segurar o Russell para que tu dês cabo da existência dele. Até lá, eu preciso que tenhas tudo isso...- ele apontou-me referindo-se as minhas emoções e fez um sinal com os dedos que segurava a droga de cima para baixo. - ...enfiados no teu cú. - ele voltou a fumar

Patrick tinha razão, se eu agir agora, tudo que programei, desde o motivo ridículo dela cá ficar até a hospedagem mensal, tudo terá sido em vão.

Porra.

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Hostage (A Refém)Onde histórias criam vida. Descubra agora