MESES DEPOIS...
O tempo havia passado—quatro meses para ser mais exato—e Camila vinha se recuperando consideravelmente bem. Luan demonstrava ser um excelente pai, sempre atento às necessidades de Benjamin.
Apesar disso, eles ainda não haviam trocado nenhuma carícia, embora não pudessem negar que a vontade de beijá-lo um ao outro era um desejo constante. Porém, havia muitas questões pendentes entre eles, coisas que precisavam ser resolvidas.
Ela sabia o quanto o magoara com as escolhas que fizera, e as músicas que ele compusera para ela eram um reflexo disso.
A maioria delas, compostas em um momento de tristeza, dizia muito sobre os sentimentos que ele ainda guardava. Após aquele dia em que a ouvira no estúdio, ele a havia revelado as músicas que escrevera para ela ao longo do tempo, algumas feitas sozinho, outras com parceiros.
Sua relação com Bruna estava estranha. Bruna não ia com frequência para casa, e quando ia, evitava encontrar Camila, que por sua vez, respeitava o espaço de Bruna, compreendendo que a amiga precisava de tempo para lidar com suas próprias questões.
Bia, ao contrário, aparecia sempre que podia.
Passavam horas conversando, compartilhando momentos, mas ainda não eram as mesmas de antes. Contudo, Camila sentia que a amizade entre elas estava se reforçando, e Bia se mostrava uma aliada importante em sua recuperação.
Stacy, além de ser sua amiga, tinha se tornado sua principal ajudante na empresa. A confiança que Camila depositava nela era imensa, e juntas estavam conseguindo dar conta de todas as responsabilidades.
Camila teve uma conversa sincera com Luan. Ela lhe disse que, com a melhora no seu quadro, estava pensando em vender a casa e comprar uma nova, em um local próximo ao dele, no condomínio. A ideia era morar mais perto com Benjamin e poder ter seu próprio espaço. Luan, com calma, ouviu suas palavras e compreendeu seus motivos.
Ela também queria que ele seguisse com sua carreira, que estava estagnada há quase um ano.
Camila não queria mais que ele vivesse em função da sua recuperação.
Naquela tarde, estavam na sala—Camila, Bia, Marizete e Stacy, que havia chegado dos Estados Unidos poucos dias antes—ajudando a verificar as lembrancinhas para o aniversário de Benjamin. As caixas tinham chegado há pouco, e era necessário garantir que tudo estivesse em ordem. O tema da festa seria futebol, e Luan havia alugado uma chácara no interior de São Paulo para o evento. E, como era de se esperar, ele não parava de falar sobre isso.
Enquanto isso, Luan tinha saído com Benjamin e seu pai para tirá-lo de casa e dar um pouco mais de tranquilidade para que as coisas fossem resolvidas com calma.
Camila, insistente, havia feito questão de participar de todos os preparativos.
Mesmo com Luan se mostrando contrariado, pedindo que ela repousasse, ela sentia que precisava se envolver. Ela sempre fora a responsável por organizar as festas de Benjamin na Espanha, e agora, se via limitada, apenas observando os outros escolherem as coisas para ela.
Ela queria fazer algo, qualquer coisa, por menor que fosse. Durante suas consultas com a psicóloga, Camila desabafou sobre essa sensação de impotência.
Apesar dos avanços em sua recuperação, ela se sentia podada, como se o mundo estivesse controlando suas ações.Às vezes, ela se perguntava se todo o esforço que estava fazendo valia a pena. Não andava 100% sozinha ainda. Seus braços continuavam fracos, embora ela tivesse melhorado sua coordenação motora. A fala estava perfeita, mas ainda havia limitações. Quando alterava sua voz, logo sentia um cansaço profundo. Era um esforço constante para se manter calma e serena, algo que, por natureza, nunca fora.

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ABISMO
RomanceEla está afundando. Ele está brilhando. Mas e se, no fim, ambos estiverem perdidos? Camila sempre teve tudo: dinheiro, privilégios, excessos. Mas quem olha de perto vê as rachaduras - festas intermináveis, vícios perigosos, mentiras que a sufocam. E...