Reconciliação

3 0 0
                                    

Eu não vi e não falei mais com Augusto o restante da semana. Me sentia desolada por ter o decepcionado daquela forma. Quando eu duvidava da minha própria capacidade, era Augusto que me convencia do contrário, porque ele, mais do que qualquer outra pessoa, acreditava em mim.

Minha tristeza não passou despercebida pelos quatro sócios, mas eu acreditava que cada um tinha uma visão diferente do motivo. E cada um me tratava de forma diferente baseado nisso, Walter era mais gentil, exigia menos dos trabalhos feitos; Otávio era mais mal educado e grosseiro, quando ele gritava por causa de alguma coisa errada, eu podia ver o sorriso satisfatório no rosto dele; Priscila agia quase que como o irmão, mas em um nível mais brando, em alguns momentos eu quase podia ver compaixão em seu olhar; já Luís, como sempre era o príncipe, respeitou meu momento, não fez piadinhas, não procurou saber o que se passava, e não exigiu minha atenção em trabalhos desnecessários.

Já era sexta-feira, eu já estava começando a sufocar de saudade de Augusto, e isso fazia com que meu rendimento no escritório caísse ainda mais.

– Beatriz, está tudo bem? – Eu estava na sala de Luís, estávamos finalizando um memorando, mas por algum motivo meus pensamentos voaram, e não consegui disfarçar a dispersão.

– Sim, está tudo bem – eu disse sem graça.

– Eu poderia acreditar nisso, se eu não tivesse ditado por dois longos minutos e você não saiu da terceira linha – ele disse, sério.

– Me desculpe, Luís, isso não irá mais se repetir.

– Você está assim a semana toda, Beatriz, e eu respeitei seu momento, mas eu não posso esconder que eu me importo e fico preocupado com você. Você não quer me contar o que está acontecendo, talvez eu consiga te ajudar.

A doçura em sua voz bateu no fundo do meu peito, e tudo o que eu estava guardando a semana toda transbordou, e eu contei a Luís tudo desde ter dormido com Priscila, o plano do pai e dos irmãos dele em me humilhar, até a briga com Augusto. Em algum momento eu devo ter me excedido, contato mais da minha amizade do que deveria, também devo ter derramado algumas lágrimas, porque quando voltei a mim, Luís estava sentado na poltrona ao meu lado segurando uma caixa de lenços de papel.

– E foi isso – falei no fim.

– Você sente falta do seu amigo? – Ele perguntou.

Eu fiz que sim com a cabeça.

– Então, não há outra solução do que você ir atrás dele, dizer que se arrepende e sente a falta dele. Talvez ele só esteja esperando por isso, se ele é seu amigo de verdade vai te perdoar.

– Eu não sei como olhar para ele, Augusto me avisou tantas vezes que isso ia dar errado, e eu não o escutei em momento algum.

– Tudo bem, mas não creio que você deva ser condenada a uma vida eterna sem seu amigo, por ter feito o que fez.

– Você não se assusta com o que eu fiz? – Perguntei insegura.

– Você quis fazer tudo o que fez? – Ele perguntou.

– Sim, muito – sorri, sem graça.

– Então para mim está tudo bem – ele se inclinou no encosto da poltrona. – Você, meu pai e meus irmãos são adultos, sabiam de todos os riscos envolvidos no caso de vocês, e mesmo assim vocês assumiram, acabou, agora é bola pra frente. Você vive a sua vida e eles as deles.

– Você não se incomoda nenhum pouquinho com isso?

Luís me olhou, pude ver, através dos seus olhos límpidos, muitas emoções passarem por ali, o que mexeu profundamente comigo.

Escolha de sucessoOnde histórias criam vida. Descubra agora