A escolha de sucesso

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Havia vinte minutos que eu saí do prédio da empresa, e quinze que estava sentada na calçada de um café. Tentava assimilar essa minha nova realidade, essa sensação de vazio. Eu sabia que esse lugar era ocupado por Luís, e que nenhum outro iria ocupar, resignei-me a aceitar essa sensação, esse sentimento de saudade infinita, para o bem dele e para a sua felicidade.

Agora eu tinha uma semana para empacotar meus pertences e devolver o loft. Isso me fazia lembrar de Augusto, que estava tão animado com essa mudança que parecia criança em manhã de natal, mas eu não me sentia bem com essa mudança. Eu queria simplesmente ignorar essa sensação e seguir com os planos, mas era uma força superior à minha vontade que me fazia adiar o preparo da minha partida.

Por falar no meu amigo, meu celular tocou em cima da mesa, era ele.

– Oi! – Atendi.

– Está no trabalho? Pode falar? – Augusto perguntou, na sua forma animada, ele andava incontrolável nos últimos dias.

– Faz exatamente vinte e um minutos que eu sou oficialmente desempregada – anunciei, queria soar tão animada quanto ele, mas a conversa com Luís ainda reverberava na minha cabeça.

– Que maravilhoso! Vamos comemorar hoje, por minha conta! – Ele se tornou ainda mais animado.

– Na verdade, essa eu passo - entreguei meu verdadeiro estado de espírito. – Mas o que você queria para me ligar a essa hora?

– Credo! Não posso nem fazer uma ligação matutina para minha irmãzinha – Augusto protestou com sua voz transbordando em falsa indignação, – mas é verdade, eu preciso que você dê seu aval para o apartamento em Londres, precisamos fechar o contrato, se não dormiremos na rua quando chegar.

Sim, precisávamos fechar esse contrato, era a coisa certa a se fazer. Mas eu não tinha qualquer intenção, vontade ou perspectiva de sair do Brasil. Eu tinha prometido ao meu amigo que faríamos essa mudança, e mesmo sem saber o porquê de não querer sair do país, eu não tinha qualquer motivo para não sair.

– Vou olhar de novo os três que você me mandou e te falo logo mais – respondi, mesmo sem vontade. Era meu único plano por enquanto.

– Você está bem? Estou te achando meio distante – Augusto inquiriu.

– Acho que é só a emoção de tudo o que está acontecendo, estou bem – respondi vagamente.

Eu queria me matar por mentir para meu amigo, mas eu não queria que ele perdesse a empolgação. Porque se mesmo que eu não fosse para Londres, ele iria, e isso era inquestionável.

Passeei pelo centro da cidade sem qualquer destino fixo. Olhava as vitrines, observava as pessoas vivendo suas vidas. Houve uma época que eu queria ser como qualquer outra pessoa, que não lembrasse toda a minha história. Queria ter tido uma família humilde e não viver na riqueza, queria ter os problemas diários de qualquer pessoa de como pagaria as contas no final do mês, queria ter que escolher entre um sapato e outro porque não daria para comprar os dois. É absurdo ter este tipo de desejo. Junto com a liberdade de poder comprar dois ou mais pares de sapatos vem a responsabilidade de ser perfeita e saber o que fazer, e convenhamos, eu não sei nada e estou longe da perfeição. Ter uma família e vida humilde é muito melhor do que viver sozinho. Quando se tem tudo não se tem nada.

E, sim, todo dinheiro que eu tenho hoje é fruto do meu trabalho, de como eu fui inteligente em investir nos negócios certos. Eu trabalhei para conquistar essa independência, mas no fim, do que adiantou? Eu ainda estou sozinha, com muitos esqueletos no armário e com zero perspectiva para o futuro. Com grandes poderes vem grandes responsabilidades, desculpa a frase pronta, não resisti, mas eu só queria não ter nenhum poder agora. Acho que faz parte da vida adulta, medir as consequências dos seus atos e agir diante do menor risco. Eu seria mais feliz se tivesse menos poderes?

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⏰ Última atualização: Apr 04, 2022 ⏰

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