Tarde do segundo dia, batalha do terceiro

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Deve ser estranho pensar que mesmo amando o Luís ainda assim mantenho as mesmas práticas, afinal, é de se esperar que o amor gere fidelidade, mesmo que sem acordo feito, ou nada além tenha sido falado. Mas, veja bem, tudo isso é muito novo para mim, o que eu sinto pelo Luís nunca senti antes. Há uma batalha constante entre o que eu sinto e quem eu era, e pela experiência, quem eu era sempre ganha. Mesmo agora, aqui sentada, neste restaurante de clima festivo, de frente para ele e encantada com as marcas vermelhas feitas pelo sol no rosto que aviva os seus olhos, eu consegui ver que atrás de Luís há um rapaz tão lindo quanto o próprio, e meu cérebro está tentando bolar hipóteses de como seria dar um pulo ao banheiro para conhecer outras línguas e outros países baixos.

Eu sou doente, nunca neguei isso. Na verdade, eu sou um monstro, o que eu posso fazer? Eu nasci assim, não fui construída pela sociedade. Atração pelo proibido e desconhecido, a junção dos dois, sempre me atraiu, nas brincadeiras e nas relações com as outras pessoas. Eu nunca brinquei da mesma coisa dois dias seguidos, e só convivia com as mesmas pessoas porque o círculo social de uma criança é muito limitado, pois se fosse me dada a oportunidade de desbravar o mundo já com cinco anos, eu não pensaria duas vezes.

Porém, há algo que me dá forças para continuar com a batalha e não me conformar com a vitória constante do passado. Aqueles olhos azuis. Não quaisquer olhos, os olhos do Luís. Doces, gentis, puros, alegres, verdadeiros e apaixonados. O rapaz atrás dele era lindo, sem sombra de dúvida, mas estando com Luís eu não precisava de mais nada.

– E os planos para a tarde? – Perguntei, terminando de almoçar.

– Não sei, estava pensando se você não tinha pensado em nada – ele respondeu.

– Não, mas podemos pensar em algo – eu disse, dando um gole no meu drink. – Já conheceu a cidade toda?

– Os pontos turísticos sim, é difícil conhecer a cidade toda – Luís respondeu pensativo.

– Ok, por que, então, não damos uma volta no centro comercial? – Sugeri. – Podemos apreciar a população local, enquanto conversamos.

– Gostei da ideia – Luís se empolgou.

O garçom trouxe a conta dividida, eu não lembrava de ter pedido para dividir. Eu paguei o que eu consumi e Luís a parte dele. Sem questionamentos ou discussões.

Saímos do restaurante a beira praia e subimos a rua de frente, Luís ia contando empolgado os pontos turísticos que visitou, falou de duas ou três pessoas que ele conheceu e que gostou bastante, e apenas uma delas era mulher e estava com o marido viajando na oitava lua-de-mel do casal. Luís deixou muito claro que havia se encantado com a forma amorosa que esse casal se tratava.

Andávamos pelas ruas do centro de Cancún apreciando as lojas de artesanato, os artistas de rua, as pessoas sorridentes que atravessavam nosso caminho. A cidade tinha um quê de alegria constante, mesmo que claramente se visse que algumas pessoas eram pobres e necessitadas, tudo era colorido e harmonioso. Pouco mais de uma hora depois de passeio, paramos numa sorveteria em uma agitada rua, sentamos em uma das mesas postas na calçada. Pedi uma taça de sorvete de abacaxi e coco, com calda de framboesa e castanhas trituradas, Luís foi mais light, pedindo uma raspadinha de gelo de morango.

– Acho que agora poderíamos ir para o hotel e aproveitar a piscina, o que acha? – Luís propôs.

– Pode ser – eu disse, parando para dar uma colherada no meu sorvete e sentindo o alivio do calor. – Não, com certeza nós podemos ir para a piscina. Eu não sabia que estava com tanto calor.

Ele riu.

– Você tem a estranha mania de ignorar o que te incomoda – ele comentou.

Franzi a sobrancelha sem entender o que ele queria dizer.

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