Tudo tem um fim

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Infelizmente, controlar a minha insatisfação não está entre as minhas habilidades. Sendo assim, nos dias que se seguiram àquela noite, eu utilizei de toda a minha influência como superiora de Gabriela para dificultar a sua vida na empresa. O que eu podia fazer? Ela estava me desafiando, me ameaçou veladamente ao dizer que sabia da minha relação com Otávio, Priscila e Walter, além de tudo, estava se aproximando de Luís com intenções amorosas, o que despertava meu lado mais primitivo e ciumento.

– Você está distante hoje. Algum problema? – Priscila se preocupou. Estávamos no seu flat, passamos a noite de sexta para sábado ali, agora era perto de meio-dia e começávamos a pensar em nos movimentar para o almoço. Apesar de ter tentado disfarçar todo o tempo em que estava com ela, o fato de Luís estar viajando com Gabriela me incomodava.

– Não é nada, não se preocupe – tentei despistar.

– Você sabe que pode confiar em mim, certo? – Ela me olhava com um olhar doce, me aproximei e depositei um beijo casto nos seus lábios.

– Sei, mas nesse caso, eu prefiro deixar para lá.

Priscila ficou me olhando, acho que na sua cabeça ela tentava achar solução para o meu devaneio. Eu sei que ela é insegura, que o meu silêncio levanta teorias em sua mente, levando-a a se sentir menosprezada, mas eu não estava com vontade de explicar para ela a minha própria insegurança com relação a Luís.

– Que você acha de a gente ir almoçar naquele restaurante da baía? – Ela perguntou tentando animar o clima.

– Pode ser – dei de ombros.

– Triz... – Priscila me chamou, sua voz chorosa me fez voltar os olhos para ela, que tinha os olhos marejados. – Eu fiz alguma coisa que você não gostou?

Suspirei fundo.

– O mundo não gira ao seu redor, Priscila, pare de querer ser o centro das atenções.

– Então, por que você não está falando comigo? – Ela perguntou, as lágrimas querendo deixar seus olhos.

– Tenho uma vida lá fora. Uma vida além de você – falei, de má vontade. Eu não queria ser insensível, mas não estava no melhor do humor.

– Tudo bem – ela murmurou e levantou da cama, se dirigindo ao banheiro.

Eu gosto da Priscila, ela é engraçada, divertida, tem sempre as melhores sacadas sobre as pessoas, é inteligente e perspicaz, seu único defeito é não se sentir segura com a sua sexualidade. Fica sempre esperando que as pessoas a abandone, se afastem ou a trate como alguém sem dignidade. Era difícil estar a toda hora tentando a convencer de que valia a pena estar com ela.

Acho que eu não posso culpa-la. Eu estava começando a suspeitar que ela estava se apaixonando por mim, o que era uma grande burrice, mas se fosse assim, ela se sentia insegura da mesma forma que eu me sentia com Luís. O que também era burrice, mas o caminho já estava tomado, não havia volta, eu teria que resolver isso.

Levantei e me dirigi ao banheiro, o chuveiro estava ligado, a fragrância de seu sabonete tomando o ar. Entrei no boxe junto com ela, estava de costas para mim, a abracei pela cintura e dei vários beijos em seus ombros, ela suspirou entrecortado.

– Me desculpe – pedi com sinceridade. – Eu não devia ter falado daquela forma com você. Tem tantos pensamentos passando na minha cabeça, que eu não estou conseguindo gerenciar, e você não tem culpa nenhuma nisso.

Priscila se vira de frente para mim e me beija com ternura.

– Eu só quero estar ao seu lado – ela disse quando separou nossos lábios. – Eu quero ser o motivo da sua felicidade, a tal pessoa que você procura quando se sente insegura e só quer um lugar para se aconchegar. Você é muito importante para mim, mais do que achei que um dia seria qualquer pessoa. Eu só quero te fazer feliz.

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