PoV. Beatriz
Minha cabeça pesava, mesmo que eu não sentisse nada no resto do corpo e nem conseguisse ver nada também. Só sei que minha cabeça pesava, me afundando ainda mais no confortável colchão e acolhedores lençóis. Estava numa posição tão gostosa de ficar, não queria mais sair dali. Tudo está escuro e vazio, e isso é aliviador, nem sei porque. Na verdade, nem sei onde estou ou como cheguei aqui, mas eu me sinto tão segura e tão confortável, que não me esforço em saber. Me esforço a voltar a inconsciência.
Olhos azuis.
Grandes e translúcidos olhos azuis surgem na minha mente, abro os olhos de repente, me lembrando de tudo dos últimos dias. Eu deixei Luís em Cancún, mesmo após me declarar, fiz uma longa viagem de volta para casa e agora estou no loft de Augusto. Sinto uma fisgada no meio do peito, me fazendo ter dificuldade de respirar, me sento na cama e tento me acalmar. Demora um tempo, mas aos poucos volto a ter controle.
Me levanto e vou direto ao banheiro, estava preparada para muitas coisas, mas o que eu vi no reflexo do espelho me desestruturou. Não tinha nada a ver comigo, era uma menina frágil, triste, com olheiras profundas rosto pálido e lábios brancos, o cabelo parecia uma grande confusão de palhas secas. Me lembrei de pessoas mortas em filme de terror que voltam a vida zumbificadas. Tirei minha roupa, minha não, uma roupa que estava vestindo, uma camiseta grande e uma calça de moletom, também enorme, deve ser de Augusto.
Abri o chuveiro na ducha fria, precisava despertar meu corpo e minha mente. A água batia na minha pele como pequenas agulhas, era muito mais prazeroso do que a dor que vinha sentindo. Minha vontade era de chorar, uma bola se forma na minha garganta, mas mesmo que eu tentasse, eu não conseguia. Me lembro da noite anterior, assim que eu cheguei, desabei num choro compulsivo. Eu não tinha chorado ainda, desde que deixei o hotel em Cancún, me segurei. Nunca fui de chorar, principalmente onde eu não me sentisse segura. Chorar, para mim, era demonstrar uma fragilidade que poucas pessoas eram capaz de aceitar, e eu precisava mostrar fortaleza o tempo todo para conseguir o que eu queria. Mas ontem, nos braços de Augusto, não consegui me conter, chorei tudo o que estava guardado. E talvez por isso, agora eu não tenha lágrimas para derramar.
Terminei o banho, vesti mais uma vez uma calça de moletom do Augusto e um casaco de moletom, estava frio e ter o cheiro dele me acalmava. Saí do quarto e Augusto estava na cozinha, preparando alguma coisa no fogão. Ele sorriu ao me ver entrar no ambiente.
– Oi! – Me saudou.
Não consegui responder, apenas levantei os lábios num ensaio de sorriso cordial. Me sentei no sofá e fiquei olhando-o trabalhar na cozinha.
– Tô fazendo o almoço, salmão assado. Tudo bem para você? – Ele me perguntou e eu apenas concordei com a cabeça.
Augusto ficou um tempo em silêncio, acho que ele media quais palavras poderia usar, e mesmo achando que ele não precisava fazer isso, não conseguia dizer nada.
– Achei que você ia dormir mais, por isso comecei a arrumar o almoço agora – ele voltou a falar.
Olhei no relógio da parede, passava poucos minutos da uma tarde. Não sei que horas eu fui dormir ontem, então não sei se era muito tempo ou não. Me encolhi mais no sofá, ainda me sentia cansada, mas não necessariamente com sono, só queria ficar ali, sem pensar em nada e nem a necessidade de fazer nada. Olhava para um ponto qualquer da parede, não pensava em nada, só o vazio existia. Senti o sofá afundando ao meu lado, Augusto sentava ali com duas canecas nas mãos.
– É um chá calmante, das minhas ervas mágicas. Vai te fazer bem – ele me entregou uma das canecas e deu um gole na outra.
Dei um gole no liquido quente e senti um calor confortável percorrer meu corpo.
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Escolha de sucesso
ChickLitBeatriz Saldanha não é a tipica mocinha dos romances de Hollywood. Talvez ela seja classificada como uma bela atriz porno. Mas a questão não é essa. Beatriz é uma mulher forte, destemida, determinada e que vai fazer grandes descobertas na sua vida...