Capítulo 31

102 13 0
                                    

Laila

          - Desculpa por não ter conversado com vocês antes. – Meu olhar está focado em minhas mãos sobre o lençol branco da cama, longe do rosto das minhas duas amigas. Mal consegui encará-las enquanto desabafava e contava em detalhes tudo o que me lembrava. Eu contei sobre minhas memórias, sobre o que passei todos aqueles anos nas mãos da Hydra e contei sobre Loki. Também desabafei sobre os sentimentos conflitantes que tomam conta da minha cabeça sobre ele e se devo ou não acreditar em suas palavras.

          E elas apenas escutaram. Deixaram que eu me abrisse e não fizeram comentários sobre isso ou me interrompem. Wanda até mesmo me ajudou a explicar o porquê de ela saber de algumas partes enquanto Nat foi deixada de lado, como se não fosse digna da minha confiança. Tento oferecer o meu melhor para demonstrar que nunca foi esse o motivo de não ter contado nada e espero que ela entenda. Mas simplesmente não consigo encará-las agora.

          A vergonha toma conta de mim. Aqui, junto com as minhas amigas, finalmente compartilhando todas as minhas experiências em detalhes que jamais revelei a ninguém, sinto a vergonha e o rancor me consumir como uma onda que me arrebata e tenta me puxar para o fundo do oceano. Para a escuridão. Para um passado distante que eu preferiria manter escondido e enterrado, longe do olhar de todos que eu conheço e até mesmo de mim.

          Mas eu não posso fazer isso. Não posso me afundar na minha própria piedade e me isolar de todos como se fosse a solução. Por mais que meu corpo e minha mente implorem por um esconderijo, por um lugar seguro em que eu posso simplesmente esquecer quem eu sou e de onde vim. O que me tornei com o passar dos anos.

          Eu também contei sobre como eu era antes de tudo acontecer. Contei sobre a minha vida pré-guerra e de como a minha vida nunca foi das melhores, mas era boa e eu era feliz. Eu tinha meu irmão e uma nova família que me acolheu e cuidou de mim sempre que precisei. Contei como conheci Bucky e como nosso relacionamento foi construído ao longo dos anos. E então, contei sobre a guerra. Sobre como foi perder Bucky por um tempo e como foi viver com medo de que, a qualquer momento, podíamos perder tudo o que construímos, mas nunca desistimos. Sobre o nosso último contato antes de eu subir naquele jeep e nunca mais vê-lo. Eu finjo que não me lembro disso, da discussão e do que disse para mim que me fez dar as costas a ele. Eu finjo que não me lembro da dor que senti e do quanto chorei na nossa curta viagem até o acidente.

          - Laila... – o cuidado presente na voz de Nat faz meu nervosismo diminuir um pouco. – Não tem nada com o que se desculpar. Você nunca teve obrigação alguma de contar sua história, ninguém jamais exigiria isso de você, muito menos eu. Eu nunca estive em posição de te julgar ou de ficar brava com você por escolher guardar para si mesma memórias dolorosas demais para serem compartilhadas. Acredite em mim quando digo que já fiz coisas horríveis e que sinto vergonha do que fiz para chegar aqui hoje, mas essa é a nossa história. É o que nos manteve viva e nos fez lutar por tanto tempo para poder estar aqui hoje. – Suas mãos cobrem as minhas e eu ergo o olhar para encontrá-la já me encarando. – Eu fico feliz por ter compartilhado isso conosco.

          O sorriso leve em sua boca reflete o meu e Wanda inclina o corpo para capturar nossa atenção.

          - Você sabe que nenhum de nós temos um passado exatamente bom. Nós temos nossas marcas e nossas cicatrizes. Já te dissemos uma vez e vamos repetir quantas vezes forem necessárias. Somos uma família, cuidamos um dos outros e nos entendemos. – Seu sorriso é gentil, mas então se transforma em uma careta. – Claro que brigamos, discutimos, às vezes alguém acaba machucado, talvez somos invasivos, mas... Família.

          Dou uma boa gargalhada e balanço a cabeça, finalmente sentindo a tensão dissipar. Conversar com as duas sempre foi tão fácil que eu acabo me esquecendo que nos conhecemos não faz muito tempo. A nossa conexão, o entendimento silencioso que compartilhamos e a forma como nos respeitamos sempre foi a chave para essa amizade e eu não poderia estar mais feliz em tê-las comigo. A companhia nuca foi um fardo e conversar sempre foi fácil, algo que nunca é possível quando estou no meio de muitas pessoas. Depois de anos tendo eu mesma como melhor amiga, acabei me acostumando com a própria companhia e só o pensamento de interagir com outras pessoas faz minha ansiedade crescer. Mas nunca com elas.

The Project || Bucky Barnes (a editar)Onde histórias criam vida. Descubra agora