Alcaline

Capítulo 28 - A cada batida do coração (b)

Ibiza – 18:00

Terminou de Provar o vestido branco luminoso e tomou um susto com a entrada repentina de Beka no Provador:

— O que é isso, tá louca?!

— Não tô não hahahahaha. Olha esse sutiã! Vai ficar lindo em você!

Beka envolve o tronco de Amanda com audácia; delicadamente tirando as alças do vestido, deslizando os dedos sobre os seus ombros fortes, porém magros. Embaixo do pano macio nada além de um mundo de curvas e delícias. A pele morena que fazia o corpo de Beka queimar em brasa.

— Oah. – Suspirou com o toque das mãos calejadas da soldado. Sentiu-se frágil e vulnerável. Não pôde esconder a linguagem do corpo em frenesi; os mamilos eretos a pelve tremula excitada. Aquele sentimento era novo. O toque sedutor ao colocar o sutiã em seu tórax terminava com um beijo roubado no pescoço. Beka, depois de beijá-la, se afasta para verificar se o acessório ficou sobre medida; como se nada tivesse acontecido:

— Nah!!! Não ficou bom. Que saco!!!

Nos corredores à saída da loja, nenhum funcionário. O autoatendimento dispensa empregados e os poucos que passam por ali são droides da segurança e drones de filmagem. Amanda e Beka pagam os vestidos. Um azul e outro branco. O balcão vazio é frio; uma tela smart-touch alguns toques de rolagem e pagamento com scanner leitor de códigos de barras bioneural impresso na pele do punho esquerdo de Beka. Depois de pagarem as duas apreciam do portão de entrada da loja, os poucos carros trafegantes sobre o asfalto preto e liso. Amanda se vê no direito de ir atrás do seu gosto obscuro e subversivo:

— Agora que vimos os vestidos vamos comprar blusas, calças e acessórios. Alguma sugestão de loja?

— Humm. Tem um shopping dois quarteirões daqui. Vem!!!

Beka puxa Amanda pelo braço. Ao atravessarem a rua em meio a beldades sintéticas vestidas de plumas; protegidas do sol seja por chapéus extravagantes ou fosse por guardas-sol com babados monotônicos nas bordas ou pintados em cores suaves.

As amigas quase esbarram em um rapaz trans humano.

''KKKKKKK. Que cara esquisito a pele dele parece de plástico!!! É gelada... meu deus como uma pessoa se presta a usar um corpo assim.'' – A reflexão de Amanda fazia todo sentido. Naquele mundo de ostentação era cada vez maior o número de jovens entre 15 a 25 anos que optavam por trocar seus corpos naturais por sintéticos. O homem nem sente a presença da meninas, nem faz questão de desviar. Ele segue andando no mesmo ritmo sem olhar para trás misturando-se com os poucos transeuntes luxuosos; muitos deles com as caras mergulhadas nos vultos das telas de projeção de seus celulares. Não importava se estivessem atravessando a rua, os carros possuíam sensor de presença sintética, podiam parar automaticamente ao detectar a presença de uma pessoa ou animal doméstico na pista. A maioria das pessoas de classe alta vivia desse jeito, imersa em suas telas holográficas sem se importar. Fazendo gestos sincronizados em manobras esquizofrênicas; com as mãos e braços; movendo imagens, fotos ou rolando as paginas das redes sociais buscando fatos e fotos do dia atentos para os likes e status de gente que nunca aparecia no passeio público. A vida célebre de Ibiza estava nas coberturas festas à beira-mar.

As duas garotas espevitadas penetram no centro comercial. Estupefatas e ansiosas para realizarem seus desejos de mulher diante da vasta gama de opções de vitrines para explorar:

— Isso é o paraíso. – Suspirou Beka – Só as melhores marcas: Goth Lili para as góticas trevosas; Steam Lady e seus acessórios Vintage, Pulseiras de pinos, corsets e espartilhos e a Diesel Pink com os chapéus, boinas , sapatos, luvas e botas da última moda nessa estação.

Amanda recebe toda informação boquiaberta. Era sua primeira vez num Shopping high-tech. Um mar de hologramas e placas holográficas dos mais variados produtos flutuando ou andando por todos os lados, competindo por espaço ou até mesmo transpassando pessoas. O Éter, espaço abstrato entre coisas tangíveis nos confunde ao caminharmos. O andar deve ser lento e comedido. O shopping obedece às premissas: ''Tempo é especulação.'' ''O que pode ser feito...?'' ''Como pode ser gasto o seu dinheiro hoje?'' Como posso lhe ajudar?! O shopping center está para atender os desejos imediatos da alma cativa.