Alcaline

Capítulo 14 - Revisões

Uma emoção deliciosa toma a bebê por inteiro jogando-a num clarão de êxtase. Mergulhar em uma piscina de amor é a melhor definição do amor incondicional entre mãe e filha. Leve e sorridente a criança cresce acordando no seu quarto cor de rosa. A cama cheia de bichos de pelúcia decora a alegria de ser e de viver. O pai está na porta observando a menina de oito anos desabrochar. Ela sorri e manda um beijo ainda com a cabeça recostada no travesseiro:

— Bom dia Papai.

— Venha! O café está na mesa querida, mas lave as mãos e o rosto primeiro!

Ela se aproxima do pai para lhe dar um abraço. O pai se abaixa para que a filha possa lhe beijar. Nesse momento a face do homem está mais bem definida; bem nítida ao ponto de Amanda levar um susto:

— Ahhhshr! Eu sei quem você é! – A simulação é pausada. As mãos pequeninas apalpam e contornam aquele rosto do homem forte e destemido:

— Esse é o homem que estava no meu apartamento... antes dos caçadores de recompensa explodirem tudo!!! Ele...ele é meu PAI!!! – Suas mãos desabam até o chão; uma a uma as lágrimas caem desenhando pontos escuros no carpete plumado. Os fios cor de rosa dão lugar ao chão de pedras do quintal. Amanda está no jardim da casa brincando com seu pai:

— Vamos, Amanda! Levante! Pegue a bola e jogue pra mim. – A menina continua chorando. Por dentro ela é a garota de 19 anos revivendo uma memória que havia esquecido completamente... Mas por quê?!

O Pai se aproxima da filha e a ajuda a se levantar. Seu joelho está sangrando. A menina recusa a ajuda. Levanta-se sozinha ficando de pé de olhos marejados num mix de alegria e frustração por conhecer sua família em tais circunstâncias.

— Há momentos na vida em que precisamos ser fortes. Cair faz parte do processo. Estou orgulhoso, minha filha! Agora vamos cuidar desse joelho. – Troy faz um cafuné no topo da cabeça da menina e vai andando até a porta dos fundos da casa.

— Pai eu preciso te perguntar uma coisa. – A simulação é pausada e rebobinada.

Tchchhuuuuuuuuuu

— Há momentos na vida... – Tchunnnnnnckt – A simulação é adiantada e pausada. – Tchummnnnnnkcht – Estou orgulhoso de você minha filha. – Puckt. A simulação é pausada.

— Estou imóvel. Todd! Todd! O que aconteceu? Está tudo parado. Me ajude!!!

Todd aparece flutuando do céu com uma roupa de astronauta mirim pousando no quintal. Ao retirar seu capacete ele sorri inclinando sua cabeça para o lado num gesto de carinho e ternura ao ver a versão menina de sua usuária.

— Oi. Parece que deu bug, não é? Espera um pouco... Ahh já sei!

Todd coloca o capacete no chão e toca o meio da testa de Amanda com a ponta do seu dedo indicador. Ela reaparece andando em uma rua deserta da Sibéria. Desenhando uma seta para o céu sobre um muro de um terreno baldio. O prédio residencial logo a frente esconde uma história obscura.

— Esse é o local onde foi construído e onde ainda estão as instalações do Fraktal II. Sob esse chão existe uma base russa construída em parceria com América e responsável por abrigar e desenvolver o Projeto militar do qual você fazia parte.

— Obrigado pela parte que me toca Amiguinho. — Respondeu Amanda.

A paisagem se fragmenta na visão simulada do horizonte cinza. O entardecer dá lugar a noite. Para além dos bosques congelados; os prédios comerciais e ruas de asfalto dão lugar ao Quartel-general russo em ruínas de dois anos atrás.

— Esse é o momento em que você deixou esse local com...

— Tomaz... – LembrouAmanda do rosto do companheiro em meio às chamas e destroços. Alguns corpos desoldados e oficiais do Alcaline queimavam lançando um cheiro de carne cozida.Os gritos de agonia perfurariam os tímpanos de qualquer um que estivesse ali.De olhos fechados chegou até o subsolo. Em pé sobre uma marquise que dava umavolta completa em um salão do mesmo tamanho de um estádio de futebol podia verlá embaixo um círculo azul luminoso central expandindo-se num raio de 200metros. Um emaranhado de cabos de aço reforçado que alimentam o tubo principalda circunferência do acelerador de partículas.