Alcaline

Introdução

No Ano de 3567 o mundo está em guerra. Quatro planetas da Federação tentam invadir o Sistema GAYA 87463tyb23 mais conhecido como TERRA. Com a violação do tratado de não agressão intergaláctico os generais das Três grandes potências, AMERICA; ASIA e EUROPA se veem obrigados a lançar uma grande ofensiva contra os invasores que tentam penetrar a atmosfera com seus cruzadores e naves de batalha. Cinco anos antes os três exércitos, trabalhando em conjunto, ativaram um escudo defletor iônico que envolve que protege o planeta dos raios e canhões das naves de guerra ao mesmo tempo em que projeta a imagem de um céu imaginário camuflando os traçantes e a pirotecnia bélica que pinta o firmamento acima de nossas cabeças.

Para todos os efeitos o céu é azul de dia e preto à noite. Ninguém nos submundos; os pobres nem a classe média sabe o que se passa no espaço, a população está em transe, perdidos e ocupados estão em suas simulações, sentados em suas cadeiras, em suas salas de estar; quartos escuros e sujos, seus olhos abertos. Todos de olhos cobertos por óculos VR ou lentes de contatos de conexão acessando a grande rede internacional.
A informação é ouro nesse tempo. As máquinas controlam grande parte da vida no solo e nos mares. Exercendo diversas atividades de trabalho, do mais básico nos cenários mais remotos até os mais complexos. Desde extração de recursos naturais, cada vez mais raros, até a prestação dos serviços nas cidades altas. A consequência: Os humanos redefiniram sua maneira de produzir e de consumir. A humanidade dividida em castas acirrou suas desigualdades e injustiças ainda mais depois da guerra nuclear do século XXIX quando as nações foram obrigadas a se unir em grupos para preservar a existência humana no planeta, mas as divergências políticas continuaram mesmo depois de tanta destruição. Dessa união de nações se formaram três grandes blocos econômicos que disputam a hegemonia nas transações comerciais terrenas.

A corrida armamentista e tecnológica obrigou os três grupos a formalizarem a união e a assinarem o tratado de paz pós-nuclear, onde cada Bloco geo político teria direito a desenvolver e proteger a soberania de suas informações e da produção de armas. As agências de pesquisa e produção científica na disputa por acesso a dados e desenvolvimento ao longo dos anos dos séculos XXX e XXXI desenvolveram Mega processadores capazes de receber a administrar informações em mega escala. Um tipo de inteligência artificial suprema que um dia seria capaz de ter sua própria consciência. E é claro que esse tipo de tecnologia não ficaria livre das investidas da espionagem corporativa. Originalmente desenvolvida e criada na ÁSIA o primeiro ultra processador foi imitado por AMÉRICA que por sua vez também teve sua versão EUROPA consolidada. Agora temos o cenário perfeito para uma disputa interna no nível informacional de proporções cósmicas. Revise seu conceito de privacidade e liberdade individual. No futuro, homens e mulheres são vigiados 24 horas por dia em tempo real, ao vivo e a cores em 20K.

Enquanto a Classe Alta, composta por grandes empresários, militares, cientistas e políticos, aprecia a beleza artificial e detém 98% da riqueza no mundo; os pobres e exilados se arrastam por submundos e zonas de Transição chamadas Faixas, onde alienígenas imigrados circulam e vivem fora do convívio humano, uma versão hi tech dos campos de concentração para refugiados. Assim se seguiram os últimos 200 anos até que foi assinado o tratado que fundava a Federação unificando GAYA (nosso planeta) aos demais sistemas da galáxia que atuariam na troca de bens e informação visando o desenvolvimento e a melhoria da vida humana em suas várias versões humanoides nos diversos planetas.

Contudo, a ganância de alguns líderes levou Gaya a se corromper. Na sua ânsia por poder e preocupação com o iminente fim das reservas de matéria prima o governo de AMÉRICA decidiu, sem o consentimento dos demais Blocos, invadir o planeta Qualvay em busca de metais e fontes de energia, os cristais Tevarium; gerando uma crise interplanetária que se estendeu até a presente data do século XXXVI culminando no conflito em órbita, comandado pelos sistemas Fiegk, Eboftv, Elud e Franx uma coalizão de quatro planetas que pretende dominar GAYA e devolver a Paz à galáxia pressionando as forças armadas da AMÉRICA a retirarem suas tropas de Qualvay dando fim ao processo de colonização em seu território.
De volta a superfície terrestre as três potências começam a se desentender politicamente. EUROPA quer mais poder de decisão nas ações estratégicas enquanto ÁSIA e AMÉRICA se preocupam com o envio de mais tropas para combater a invasão. EUROPA está apenas monitorando o escudo defletor e se ocupa da manutenção das naves e do fornecimento de munição. Diante desse arranjo os ricos lobistas e contratantes desfrutam de uma vida de luxo e esplendor. Uma vida regada a sexo, drogas sintéticas e aplicativos de simulação de realidade além da manutenção de rotina de seus corpos. A riqueza dessa gente forjou uma nova forma de viver: o Trans humanismo. A mente pode ser conservada em corpos sintéticos fabricados por empresas de segurança. Uma joia da nova tecnologia, mas acessível apenas aos privilegiados. E enquanto as taças de vinho batem ao brindar nas festas das cidades, os becos e vias de asfalto do submundo exalam o odor da perversão. O reduto da pobreza é circundado de bares pequenos, centros comerciais decadentes e condomínios-padrão para a classe trabalhadora que oferece sua força de trabalho aos fabricantes de armamento e prestação de serviços como telemarketing e coleta de lixo da era pré-nuclear. Há poucos empregos, Cyborbs e maquinas ocupam basicamente todos os cargos de prestação de serviços das cidades altas e os jovens têm dificuldade para se colocarem no mundo. Por outro lado, o submundo certamente tem seus atrativos. A classe média freqüenta os guetos daqui e gasta milhões em drogas ilegais...

Em um apartamento escuro os cômodos dormem deixando passar o ruído da geladeira em stand by. Um vento sopra na sala deixando o ar menos denso que o ar carregado com a fuligem de carros e chaminés das fábricas. Dentro do quarto um casal dorme tranquilamente. Cada um virado para um lado da cama o que não quer dizer que estivessem brigados; muito pelo contrário. Estavam desnudos; seus corpos descobertos denunciavam a noite de paixões reprimidas e descarregadas num só pulsar de dois corações.

TRRIIMM.

O telefone fixo toca. Tomaz se levanta apoiando os pés no chão. Sua cabeça está abaixada em um claro sinal de insatisfação e cansaço.

— Quem será uma hora dessas?! - Ele atende a ligação.

— Quem é?

-— Aqui é o Frank. Amanda está?

— Sim, ela está dormindo. O que você quer?

— hummmmmmmahhhh — Amanda Acorda se contorcendo na cama.

— Tomaz... Desliga e volta pra cama....

Tomaz se volta para Amanda enfadado.

— É um cliente seu ele quer 15g de Truath. O nome dele é Frank.

— Ah. Que merda... Esperei esse cara me ligar o dia inteiro e só agora ele bota a cara... Faça-me um favor... Tá beleza... diz pra ele me encontrar as 23:00 em baixo da ponte Trix.

Uma calça jeans bem ajustada na cintura; uma camiseta branca e uma jaqueta de couro e um belo par de botas colocadas em 4 minutos bastam para que Amanda se encaminhe para a porta.

— Hey Gatinha...

O homem moreno, Mexicano de olhos puxados e corpo esbelto joga as chaves da moto que se acomodam com precisão nas mãos macias de Amanda Walker. Dentro de cinco minutos o motor da moto, uma Kawazaky Sword-Fish, ronca e suas rodas gritam deixando marcas no asfalto. Em três minutos consegue avistar seu cliente. Ele é um cara desajeitado, ruivo com duas entradas que inscrevem uma letra V em sua testa, a barba por fazer e uma barriga de cerveja protuberante. Frank espera ansiosamente sob a ponte Trix. Amanda, uma garota recém-saída do ensino médio, aproximadamente 19 anos de idade, entrega um pacote com 15g de um pó brilhante. É Truath, uma droga alucinógena que dá a sensação de levitação a quem usa. O homem que veste uma jaqueta de couro preta, coça o nariz, remove alguma coriza e pega o pacote, paga em débito e dá as costas para a menina.

— Simples assim? – Disse Amanda – Tudo bem...vá se foder também, obrigado...

A jovem segue seu caminho para casa... é a coisa mais lógica a fazer. E é assim que começa a nossa viagem...