Alcaline

Capítulo 49 - Configuração fora de série (b)

...Não muito longe dali uma nave desce das densas nuvens que trazem o temporal. A chuva intensifica sua força e potência. Lá embaixo os manifestantes procuram abrigo enquanto em cima, nos céus, a batalha tem uma trégua. A principal investida continua sendo em Lyon na França onde as esquadras japonesas, coreanas e Americanas massacram a sede do Senado e das instalações da LENA. A nave que pousa em um gueto abandonado da cidade baixa é a Bodokan. A nave pousa lenta e cuidadosamente, cambaleante porém segura fixando seus quatro apoios no asfalto úmido dentro da névoa de vapor e calefação. O Cockpit se abre lançando ainda mais vapores. As gotas de chuva no temporal invadem a grande cabine da ponte de comando causando a pressa de Amanda em tirar seu sinto de segurança e o de Gibs que está tossindo e ficando cada vez mais inconsciente:

Amanda: — Aguente firme velho gorducho. Eu vou estancar esse sangue.

A garota pega um pano na copa da nave, mas Gibs recusa o auxílio.

- Agora é tarde garota... COGHF COGHF – Gibs tosse espalhando gotas de sangue sobre seu ventre protuberante fazendo sinal com a mão para que Amanda se afaste.

— Mas...

— Vamos cortar o drama gracinha... Você é o que sobrou da revolução, eu tinha uma missão a cumprir e falhei. Agora é a sua vez, garota... saia daqui vá terminar o que você começou... AHRGHT...

— GIBS...

— Não é nada princesinha... meu tempo... Urght... Meu temmmm

O capitão da Bodokan lentamente reclina seu corpo e por fim sua cabeça na cadeira de seu posto na Bodokan. O suor de sua testa mistura-se com o sangue que cai de seus lábios; esses fluidos encharcam suas roupas juntamente com as gotas da chuva que caem entrando pelo vidro quebrado da cabine. Amanda, de joelhos, coloca as mãos sobre os olhos, levanta, mas abre novamente a vista para frente. Gibs está desacordado... Ela levanta e fica de frente para o painel principal fitando em fúria o abandono daquela região da cidade baixa. Saltando do cockpit para a rua, andando até o fim daquela avenida Amanda senta-se sobre uma lona azul que cobre uma obra na pista ao lado de uma pilha de destroços e um trator abandonado. A garota recosta-se numa grade de isolamento da obra, uma placa de madeira envelhecida pintada de branco.

LENA

Gerard, capitão e líder do senado europeu, descendo a última galeria de andares subterrâneos da LENA, desliga a frequência com todos os centros de comando e abre uma linha segura; desta vez para falar em caráter de emergência com a Agente QUADRA, conhecida no projeto Alcaline como Amanda Walker.

Gerard abre uma tela holográfica enquanto sai do elevador para o corredor de acesso para a estação de trem subterrâneo. A tela mostra o rosto de Amanda escondido por seus cabelos que escorrem na expressão de sua desolação. Ela, abraçando os joelhos, chorava a perda do amigo e parceiro de revolução.

Amanda. Preciso que você me ouça com muita atenção! Chegou a hora. Vá para o ponto de conferência em Yokohama. Estarei monitorando o piloto de testes até a sua chegada...

O céu começa a escurecer como se a noite adiantasse seu relógio. As nuvens supersaturadas dão passagem para a última nave automática atravessar a estratosfera. O restante da frota já chegou à órbita e agora chama atenção dos cruzadores que fazem a ronda de vigília do cinturão de segurança de Gaya. A frota passa sem problemas pelo cruzador americano Dk-905gt2 que libera a passagem das naves autômatas.

No subterrâneo da LENA, Gerard está no meio do corredor de acesso a estação de trem para sua saída estratégica. Ele continua sua mensagem:

Amanda. Sua missão final é entregar o carregamento de Alcaline que você resgatou em Paris e o aparelho de saltos para o nosso agente especial Ryo Kensato. Seu pagamento será efetuado no ato da entrega dos implementos ao General Ohara que a espera no ponto combinado em Yokohama. Eu incluirei nesta ligação o General que lhe passará as coordenadas do local.

O monitor aumenta de tamanho para a resiliente Amanda que assiste tudo debaixo de um toldo de lona improvisado ao som da chuva castigante daquela tarde sem fim. Seu choro é evidente... General Ohara, que aparece em uma doca de costas para sua nave no espaço porto de Yokohama, toma a palavra:

— Boa tarde Agente Quadra...

— Não me chame por esse nome – retrocou a garota... sabendo que estava comprometida da cabeça aos pés com aquela missão.

Ohara: — Senhorita Walker...essa nave atrás de mim é seu meio de transporte até o anel hiperespacial, sua única saída do sistema solar que no momento está tomado pela Coalizão. Suas coordenadas foram enviadas por mensagem de texto para seu aparelho de smartphone. Estaremos em guarda aqui a sua espera e a espera do saltado...

Gerard interrompe Ohara para dar sua última palavra. A porta corrida do vagão do metrô clandestino se abre ao captar o sinal de calor do corpo do capitão pela célula foto elétrica posicionada no alto do portão. Gerard está na estação de trem e finalmente consegue entrar no vagão ponto para partir:

Gerard: — É preciso que sejamos rápidos nessa operação; esteja certo de que o piloto de testes esteja a par de todas as etapas. Essa é a nossa última cartada; a combinação de ações está engatilhada falta somente a execução. Em caso de imprevistos procurem asilo na Zona Neutra de Genebra.

Ohara: — Entendido Comandante Gerard. Tomaremos todas as precauções na execução do plano, sem tempo para briefing. Decolamos em segurança; Tóquio está sitiada pelas forças internacionais. Ninguém sabe da nossa movimentação. Chegaremos em 20 minutos camuflados e invisíveis. Farei contato com o piloto de testes assim que chegarmos em Yokohama para evitar chances de sermos interceptados.

Gerard: — Ok. Câmbio desligo.

Amanda entra na Bodokan para pegar sua mochila. Abre e vê um frasco de Alcaline azul, o último suprimento do estoque. Confirmada a posse do elemento Amanda confere o aparelho de saltos. Só há mais dois saltos disponíveis. Ela então coloca em seu braço o Grimal vermelho que roubara de Beka.

Deve haver alcaline vermelho suficiente para vários saltos ainda. Ela confere e vê, ainda há muita substância vermelha disponível. Contudo... um aperto no peito a paralisa; como em outros tempos, o medo de dar o primeiro passo antes de cair no início de sua vida...seu pai estava lá para segurá-la; quando em seu tempo de treinamento no projeto... dar o primeiro passo nas provas de resistência, nas lutas corpo a corpo, nas provas de tiro ou nas de sobrevivência... o medo de perder sua vida.

''Não sei como foi possível chegar até aqui... um corpo quebrado uma memória partida um coração estilhaçado... essas coisas são reparáveis... se cheguei até esse ponto significa que posso encontrar o porto de chegada... preciso continuar a mover no sentido de sair desse lugar...dessa guerra...essa jornada ainda não acabou''.

Um sopro de esperança consola o coração da Hacker. O Grimal é ativado e o portal vermelho aberto para um rápido salto para o Japão.

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