Coréia do Sul, um lugar no qual eu sempre sonhei visitar desde pequena, nunca sequer imaginei em acordar tendo a visão de Seul pela janela, em uma casa que agora é minha.
Por motivos de trabalho meus pais precisaram vir para Coréia, e bom... Eu sou filha deles, preciso vir junto já que mamãe é capaz de morrer se me deixar para trás.
Eu gosto daqui, o clima é bom, a maior parte das pessoas são respeitosas e até divertidas, minha escola é legal e tudo mais.
Porém, sinto muita falta das minhas amizades na China, Yuqi por exemplo, acabei deixando minha melhor amiga para trás pela mudança, querendo ou não, Yuqi vai encontrar outra amiga e vai esquecer de mim uma hora, isso se já não aconteceu.
Fazem exatos dois meses em que me mudei para cá, e sem brincadeira! Eu não fiz amizade nenhuma, tipo, nadinha.
Não consigo abrir a boca para falar com as pessoas pois tenho muita insegurança do meu coreano, então passo a maior parte do tempo lendo e estudando ou quando me perguntam algo eu sempre respondo com coisas curtas, como: sim, não, não sei, talvez, o que. Coisas assim.
Minha mãe vive falando "você deveria arriscar mais Yeh Shuhua, se não tentar não vai conseguir abrir a boca nem pra pedir água" E ela tem razão, odeio admitir isso.
Mas o que eu posso fazer se fui praticamente jogada dentro de um avião enquanto papai falava "vamos para Coréia e é isso. ", loucura não é? De uma hora para outra eu vim parar em um país estrangeiro.
Fiz aulas de coreano enquanto estava na China, nunca dei muita importância para as aulas, agora me arrependo profundamente, se tivesse prestado mais atenção um pouco, talvez não tivesse que ficar olhando o caderno da menina que senta na minha frente só para não ter que pedir ao professor que copie mais devagar.
- Shuhua! - Mamãe gritava de novo. - Vem logo menina, se você perder o horário eu faço bife de fígado com o seu fígado!
Odeio fígado.
-Já vai mãe. - Joguei o travesseiro por cima do meu rosto, me perguntando mais uma vez qual foi o motivo de ter escolhido justo o horário matutino para ter aula.
Logo eu que durmo até quatro horas da tarde se deixarem.
Ou mais.
Meu uniforme estava pendurado em cima do espelho que fica ao lado da minha cama, o que me fazia ter mais preguiça de levantar, apenas por olhar e ver o tanto de tecidos que eu precisaria vestir.
Recebi uma ligação de Yuqi ontem a noite e talvez esse tenha sido o motivo de ter ido dormir tão tarde, minha amiga me contou as novidades da China, disse que nosso professor de matemática acabou sendo demitido depois de ser pego no flagra tendo um caso com uma das alunas da escola, a cantina parou de vender carnes já que estão muito caras e aquilo aparentemente deixou Yuqi muito chateada, me disse também sobre o término dela com o namorado depois que beijou uma menina na festa em que foi convidada, ele acabou entendendo o motivo e apoiou Yuqi quando ela contou a família, continuam sendo melhores amigos mesmo depois de tudo acabado.
Já eu, não tinha novidade nenhuma para contar, apenas sobre a garota da Biblioteca.
Não sei seu nome, não sei sua idade, e muito menos sei de que escola ela é, nunca vi aquele uniforme em outra menina, apenas nela.
A garota sempre está sentada no canto da Biblioteca, na sua frente ficam duas cadeiras na qual ela olha revezando o olhar entre a porta de entrada e as cadeiras, sempre esperando alguém.
Mas esse alguém nunca chega.
Ela aparenta ter minha idade, uma menina quieta e muito estranha ao meu ver, o engraçado é que sempre que chego na Biblioteca ela já está lá, e quando saio ela continua lá, sem mover um músculo sequer.
Eu saio quinze minutos antes da Biblioteca fechar, a moça sempre chama minha atenção para sair do estabelecimento mas a dela?! Nunca direcionou uma palavra para a garota sentada no canto.
Eu não sei se a menina é filha dela, ou sobrinha, até uma amiga, até por que ambas nunca trocaram olhares.
Acho que vi essa menina se mexer apenas cinco vezes em dois meses, e em todas as vezes ela se mexia apenas para ir até a janela e ver se tinha alguém vindo, quando via que não, voltava ao seu lugar com a cabeça baixa.
Cheguei a querer falar com ela ou algo do tipo, dar um oi ou apenas um sorriso.
Será que ela vai me responder?
Tão quietinha e na dela, nunca nem deve ter percebido que eu estou no mesmo lugar que ela, sento em uma das cadeiras que fica entre prateleiras de livros, consigo ver silhueta da garota de lado da minha visão, raras vezes vi a menina lendo alguns livros sem título algum, com capas vermelhas, verdes e azuis, pareciam até enciclopédias.
Na vez que vi ela virar de frente, pensei que fosse olhar para mim, mas não, ficou apenas encarando seus pés que balançavam, então fiz um desenho bem rápido.
Não peguei muitos detalhes dela, só consegui fazer a pintinha debaixo do seu olho antes que ela virasse para frente novamente, e com o passar dos outros dias que eu ia a biblioteca, ia pintando o desenho conforme ela era.
A garota parece até perdida se for parar para pensar, perdida no olhar, nos pensamentos.
Perdida na vida.
Uma coisa é certa, ela é linda demais, posso nunca ter trocado olhar com ela, mas tenho certeza que se trocasse, iria me sentir intimidada e ficaria assustada, agradeço pelos seus olhos nunca terem encontrado os meus.
Pode ser que se eu tentar me esforçar mais um pouco para quebrar essa barreira de medo pelo meu coreano ruim, eu consiga ao menos dar um "oi" e tentar iniciar uma amizade talvez.
Yuqi disse que tudo que eu falei a ela sobre essa garota lhe causou uma sensação estranha e desconfortável, não me quer falando com a menina que parece ser psicopata.
Se for parar para pensar assim, só por ela não falar com ninguém e ter um costume de ficar parada acabar considerando ela psicopata, então eu também sou psicopata, não falo com ninguém e quase não me mexo para evitar pessoas vindo me perguntar coisas que eu provavelmente não vou entender e não vou querer responder.
Temos um ponto em comum, garota perdida.
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Deixem suas teorias e descubram junto com Yeh Shuhua no decorrer da fic: o que aconteceu com a menina?
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Lost - Sooshu
Fiksi PenggemarNÃO ACEITO ADAPTAÇÕES Não recomendado para menores de 16 anos Yeh Shuhua se vê sem amigos ao se mudar para Coréia do Sul, tendo apenas a mãe e o pai para recorrer quando precisa de ajuda, sem ter com quem conversar ou alguém para passar o tempo, Shu...