XXXVI

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Era pior que morrer afogada. Cada garfada que o Doutor dava eu tinha a impressão que James faria o garfo furar a garganta dele com o poder da mente.

Foquei minha mente na recuperação da Rita, porque até olhar para o homem fazia James levantar a sobrancelha para mim.

Rita estava mais corada, e tinha notícias boas. A cirurgia estava perto, e o tumor não estava crescendo, também não tinha metástase em outros órgãos, o que indicava que o câncer não se espalharia. Pelo menos isso.

— Preciso mesmo ir. – Doutor Foster levantou. — Volto a me comunicar com vocês.

Educadamente levei o Doutor até o carro, e ele sem saber o tamanho da encrenca se aproximou e me beijou no rosto.

— Não esqueci o nosso café.

Ouvi nitidamente James puxar o ar com força.

— Até mais. – Ele levantou a mão em despedida.

— Até mais doutor..

— Henry. – Ele corrigiu.

— Até mais Henry. – Dei  meu sorriso amarelo.

Quando o carro partiu James disse bem alto.

— Idiota!

— Safado. – Ben rebateu.

— Gente. – Encarei os dois. — Acabamos de ser atacados e vocês estão brigando por um médico.

— Médico. Solteiro. Serviu o exército e voltou com honras. Trabalha como oncologista e foi premiado algumas vezes. – James ainda olhava para a rua. — Doido para fisgar uma advogada bem sucedida, morena e baixinha.

— Mini advogada. – Ben tentava segurar o riso.

— Se ele soubesse.. – James também segurava a raiva. — Como é mesmo a raça daqueles mini cachorros bravos?

Os dois riram de mim. A verdade é que estavam com o ego ferido a tal ponto que deixaram a briga de lado para me infernizar.
Voltei para dentro, onde seria útil.
Rita precisava da minha ajuda. Estava fraca.
James partiu logo depois, e Ben sem o que fazer foi para a  sala se ocupar com o vídeo game e o Nicolas, onde teriam sérias brigas sobre quem andava tapeando quem.. Helen voltou com o irmão. Ficamos só nós três.

— Davi quer vir para cá. – Rita me disse assim que a ajudei a se deitar. — Eu disse que ainda não estava preparada para olhá-lo outra vez. Ele fez coisas erradas Marjorie.

— Você sabe que enquanto eu puder vai morar comigo Rita. Eu quero retribuir os cuidados que teve comigo. Então seu filho que se segure no Brasil. E, ainda estamos sofrendo ataques, ele pode se meter em encrenca.

— Eu pensei nisso pequena. – Ela se ajeitou na cama. — Só quero passar por isso em paz.

— Você vai vencer Rita. – Deitei minha cabeça no colo dela.

— Marjorie, tem uma coisa que quero te dizer. – Ela segurou minha cabeça no colo. — Seu pai e eu estamos namorando.

— Ha? – Levantei. — Mas ele não me falou nada.

— Ele pediu para eu contar. Se você não quiser eu posso sair daqui..

- Sair daqui? Claro que não. Vocês são adultos, se é isso que querem, eu não vou impedir. Você é mais que uma mãe Rita. Porque eu não tive uma. Se for pra te ver bem, eu até banco seu casamento. - Rimos juntas.

Passei um tempo a mais com ela, e quando Nicolas chegou para enfim ficar com a avó eu saí, precisava deixar eles a sós, enquanto eu também pensava.

A porta do meu quarto estava aberta, meio no automático liguei o notebook, e fui mais um vez verificar os arquivos, que eu não sendo besta copiei para mim. Era como se algo faltasse ali. Eu sabia que eles pregavam peças na gente, então provavelmente aqueles arquivos eram uma farsa total.

— Ou não. – Percebi um arquivo oculto.

Ben ainda estava na sala, envolvido em uma conversa com meu pai, sobre como aqueles jogos eram bons para exercitar a mente. Meu pai estava se sentindo um jovem. E isso me dava aquela pintadinha de ciúmes.

— Benjamin! – O chamei.

— Preciso ir. Quando me chama pelo nome a coisa é séria.

Ben apareceu no quarto e sentou ao meu lado. A nossa intimidade ainda estava bem fraca, e ele tentava a todo custo passar por isso.

— Eu notei esse arquivo. – Mostrei. — Não me lembro de estar aí, ou pelo menos ter estudado ele.

— Nem eu. – Ele tomou o controle da situação. — Deixa eu dar uma olhada.

Ben mais rápido que Nicolas consegue fazer James dar dinheiro, conseguiu abrir o arquivo.

— Puta merda pequena. – Ele arregalou os olhos. — São todas as informações reais. Todas as contas e endereços dos cartéis.

— Ben. – Respirei fundo. — Será que..

— Vamos chamar o James. – Ele falou o nome revirando os olhos.

— Achei que fossem amigos agora.

— Uma coisa é amizade, outra é estar contra um cara que faz academia e compra um jaleco pelo menos dois números menor para mostrar o músculo.  Fora aquele cabelo da cor de cenoura. Ridículo.

— Tá bom, vou deixar sua análise para outra hora.

Peguei o celular e fui para a outra ponta do quarto. James atendeu, estava com visitas na casa.

— Pequena? – Ele disse.
— Preciso que venha aqui. Descobri uma coisa nos arquivos.

Enquanto eu falava Ben ficava imitando a expressão do James.

— É pra já. E diz para o seu amigo, que Helen quer falar com ele.

Desliguei o celular e transmiti o recado. Benjamin saiu meio atrapalhado.

Em pouco tempo James estava em casa, trazendo nada mais nada menos que Nadja com um vestido que mais parecia uma camisola, e o que quase me fez furar os dois olhos do James. Ela estava sem sutiã.

Quem os atendeu foi Nicolas, ele olhava desconfiado para Nadja, e quando ela chegou perto ele olhou para os seios dela. Ele era definitivamente um homem.

— Nick. – Meu pai o chamou. – Vamos fazer uma caminhada com a vovó.

Nicolas foi, a contragosto. Moleque safado.

— Onde está? – Nadja disse.

— Boa noite. – Cortei a autoridade dela. — Esta no meu quarto.

James passou por ela, mostrando total intimidade, o que me deixou satisfeita, e como já sabia minha senha, não que eu tenha fornecido, acessou rapidamente. E lá estava, o arquivo.

— Sabe o que eu acho estranho? – Nadja me encarou. — Não recebi esse arquivo, e aí tem duas opções.

— Quais? – James tirou os olhos da tela.

— Ou alguém entrou aqui, ou você estava escondendo, e ficou com medo de ser pega

Meu sangue Brasileiro gritava para eu dar um belo de um tapão na cara dela, e em seguida armar aquele barraco, mas sendo advogada, sei que seria presa.  E sendo sensata, também sabia que posso levar um belo de um tiro. Respirei fundo, engoli a raiva e fui profissional.

— Eu não ganharia nada com isso. E se como você presumi, e acho que dada as circunstâncias deve ter provas, se eu tivesse alguma coisa aí, meu nome não estaria na lista das moças a serem colhidas.

James deu uma risadinha abafada. Nadja ficou sem respostas. E eu acrescentei.

— Se quiser pode levar meu notebook.

Cheque mate.

Ela levou mesmo, o que me deixou aflita. Não por causa do arquivo, mas também tinha fotos minha e troca de mensagens estranhas com Ben. Coisas idiotas, inclusive mencionando o nome dela.

— Olha, o que acha da gente sair um pouco? – James tentou me acalmar.

— Claro. Se bem que a festa do pijama estava bem mais interessante na sua casa.

— Hã? – Ele fez cara de desentendido. – Se for por causa dela, foram assuntos profissionais. Só isso.

— Posso sair, mas não vou longe.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora