XLV

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James

Não pude ir até meu próximo destino como queria, tive que voltar em casa, entregar a carta na mão dos agentes da Nadja, revisamos as imagens da câmera de segurança interna e externa. Nas imagens vi que Marjorie desceu as escadas as exatas seis e meia, estava vestida graças a Deus. Helen levantou assim que ela saiu, foi até o quarto e quando voltou estava com um olhar resignado no rosto. Passou pela porta, lá fora pegou meu carro.

- Senhor, temos as imagens da casa da Senhorita Raoni.

Logo vi minha pequena entrando em casa, e vi consternado que dava para vê-la se trocando.

- Vocês ficam vendo a Senhorita se trocando? - Encarei um dos seguranças do condomínio.

- Claro que não. - Ele desviou o olhar da tela.

Mentiroso. Ben já nem olhava mais para a tela, virou totalmente na direção do homem e cravou os olhos nele. 

- Isso é crime sabia? - Ele cruzou os dedos.

- Não vi nada. Então não cometi crime nenhum.

Benjamin ameaçou ficar em pé, deu trabalho para mantê-lo do meu lado, mas se eu queria saber sobre a Marjorie, tinha de ter calma. Mentalmente calculei os horários. Ela desceu a escada e voltou para dentro de casa.

— Ela pegou o carro do Eduardo. – Ben apontou. — Mas o que é aquilo na mão dela?

Minha pequena entrou no carro carregando alguma coisa, congelei a imagem a tempo de ver o que era.

— Caramba. – Ben deu um tapa na mesa. – Era o notebook dela. Cara a Marjorie pagou uma nota nele. E tem...

— Todas as provas. – Completei incrédulo. — Ela entregou tudo, e foi junto.

Mas ela não faria isso por impulso, e se tem uma coisa que eu descobri sobre a Marjorie é que ela sempre planeja tudo, o impulsivo é o amigo. Lembrei da conversa dela com o padrinho. Ela foi pensando que Orlando deveria ter todas as provas com ele, ou mais ainda. Já não tínhamos mais tempo.

Já conhecia o caminho da casa, mas a empresa era novidade. Benjamin levou o carro até lá, ficamos parados na frente decidindo como ia ser. Nadja estava mandando reforços.

— Vamos entrar ou ficar aqui jogando uno? – Ben se mexeu impaciente.

— Primeiro. Não gosto de jogatinas. Segundo. Vamos observar, depois entramos. Até porque só estamos nós dois, e você caro advogado, não tem o peito de ferro.

Benjamin pereceu pensar em alguma coisa, virou para fora e encarou a entrada vazia da empresa.

— Ela deve estar surtando. – Ele disse.

— Não entendo uma coisa Benji. Ela nunca me falou de namorados, e aquela coisa que você disse sobre caras peludos.

— Hã? – Ele me encarou. — Ah. Sobre seu peitoral. Olha a gente sempre fazia uma brincadeira. Eu dizia o que não gostava, e ela também. Agora sobre namorados. – Ele olhou para fora de novo, e depois voltou a me olhar. — Eu sempre fui o galinha. Sempre que podia, tinha alguém comigo. Mas ela não. Uma vez teve um cara, um estudante de medicina, eles ficaram até ele dizer para ela esquecer toda essa coisa de filho. Ela acabou com ele. Mas ficou muito chateada quando descobriu que ele ficou fazendo piadinhas com o corpo dela. – Ben riu pelo nariz. — Como se não tivesse o corpo bonito só por causa de umas marquinhas.

Engoli o elogio e respirei fundo. Teria que me acostumar com ele.

— E o que aconteceu? – Perguntei.

— Estourei a cara dele. – Ben disse como se fosse a mesma coisa de dizer que comprou o café da manhã. - Ninguém mexe com ela cara.

Ainda bem que sempre fiquei ao lado dela. Se queria saber mais, tinha que engolir meu ciúmes secreto e conseguir informações.

— Nada que tire a atenção do Nic é bom. Ela sempre dizia, na minha vida é Nicolas, meu pai, você e eu. – Benjamin parou de falar e começou a chorar. — Cara, ela faz falta.

Invoquei o juiz e fiquei sereno, esperando Benjamim acabar a crise emocional, se bem que eu mesmo não queria pensar muito no assunto. Enquanto ele chorava notei uma movimentação dentro da empresa. Havia câmeras ali, e poderíamos ser vistos.

— Ben, presta atenção aqui. – Sacudi os ombros dele. — Tem gente lá dentro, vamos descer do carro e esperar, quando forem embora, entramos.

Desci do carro e corri até a lixeira, ninguém me veria dali, então Benjamin desceu, bateu a porta, correu feito um cachorro atropelado e quase pulou nas minhas costas.

— Agradeço se não ficar cheirando meu cangote. – Me afastei dele.

Esperar é uma arte. Quase uma hora depois um caminhão saiu. Antes do portão fechar por completo passei por ele. Ben não foi muito longe, abriu a porta da guarita e se colocou na minha frente.

— Você sabia que dava pra fazer isso? – Ele testou a porta na minha frente.

— Claro. Da próxima vez faço. – passei por ele e entrei.

A sala ficava no segundo andar, Benjamin foi até lá como se fosse o banheiro da própria casa, a porta estava entreaberta, a cadeira virada para a parede.

— Bem clichê isso. – Benjamin foi até ele e virou a cadeira.

Orlando estava todo machucado, e o susto do Ben quase me fez rir, na verdade ri um pouco.

— Cara se ele não está morto está quase. – Ben praticamente correu até a porta. — Será que eu toquei um morto?

— Benjamin... – Orlando falava de olhos fechados. — Me escutem... A... Marjorie tem os dias contados.... Preciso que... Que esperem a ligação do chefe...

Com as mãos trêmulas Orlando tirou o celular do bolso e estendeu na direção do Ben.

— Pega aí cara. – Ben falou para mim.
— Pega você. Vai logo. – Empurrei ele.

Benjamin pegou o celular sem tocar na mão do homem. Orlando estava sangrando muito e por experiência eu sabia que ele havia sofrido perfurações de faca, uma bela de uma surra, e pelo menos todos os dedos da mão direita estavam quebrados. E quem mandou fazer isso queria dar uma boa lição. Mas ele se agarrava a vida para nos ajudar a salvar a Marjorie.

— Vocês nunca entenderiam meus motivos por continuar nessa vida. – Ele limpou a garganta seca. —  Mas se não fosse isso... Marjorie não teria vindo para cá.

E eu não teria conhecido a advogada mais bonita de Londres, ela era algo bom em tanta coisa ruim.

Ben me entregou o celular e eu guardei, ainda não passaria informações para Nadja, aliás ela sempre entrava depois. E assim que ela entrou arrastou Orlando todo quebrado para fora.

— Vou tentar mantê-lo vivo para buscar mais informações. – Ela guardou a arma. Inútil. — Sua anã conseguiu dar um passo a frente nas buscas. Graças a ela grande parte dos grupos foram pegos.

— Gostaria que não chamasse mais a minha namorada assim.

Nadja ficou surpresa com a minha reação. Mas um brilho perverso passou nos olhos dela.

— Já contou sobre a Jéssica? Contou que sua noiva foi levada por eles? E que essa busca toda, já que Andreas saiu de cena é por causa da ruiva?  Quando o velho abrir a boca, ela vai saber, e pode ser que o seu conto de fadas acabe.

O pior de tudo era que Benjamin ouviu tudo, e me encarava com expectativa quando Nadja foi embora.

— Caramba, a filha do Mahatma é brava.

— Ben, preciso te contar uma coisa. Eu sei que vai fazer fofoca para a pequena se eu não contar, e pode ser que Nadja esteja certa. Deveria ter contado antes sobre ela.

— Se você está traindo minha amiga é melhor se afastar dela. – Benjamin estava neutro, mas eu sabia que qualquer deslize a mão grande dele encontraria minha cara bonita outra vez.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora