XXIV

375 32 1
                                    

O sol já estava se pondo quando um táxi parou na frente do parque, e por ele desceu meu melhor amigo. Benjamin parecia um pouco irritado, veio na minha direção e parou para observar o pequeno Nicolas que empinava um pipa sozinho.

- Não tinha lugar mais longe não? -Benjamin sentou na grama comigo.

-Não é tão longe Ben, o parque fica a meia hora do hotel.- Segurei uma risada.

-Acho o serviço de táxi daqui um tanto quanto estranho. Eu tive que mostrar o endereço para o homem, mas não podia falar nada que ele ria. -Benjamin estava pensativo. -Deixa pra lá.

- Me fala como foi a sua noite com a Helen.- Olhei para ele.

- Marjorie. Me desculpa, eu... É, não sei como....

- Tá tudo bem Benjamin, eu fico feliz por vocês. Gosto dela.

- Pequena, eu não sei como agir com ela. Pra ser sincero eu não sei como me sinto. Eu sei que gosto de você, só não sei como definir esse sentimento. Quero te proteger quando estamos junto, mas me sinto bem com ela, não tenho tanto medo que alguma coisa aconteça. Preciso processar todo esse sentimento.

-Somos amigos Ben, nossa ligação é eterna. Eu gosto de estar contigo também, mas assim como você, tenho medo que alguma coisa te tire de mim. -O abracei. - Quero que seja feliz, mesmo que não seja comigo.

- Você não entende Marjorie, eu te beijei no seu quarto, foi arrasador, queria sentir sua boca na minha à todo tempo. E beijei ela também, foi ótimo, mas não igual ao seu. -Benjamin observava as mãos.

- Ben, mesmo que você fique com ela, eu vou estar ao seu lado. Se quiser ficar comigo também vou ser feliz, sei que vou. Você é o sonho de qualquer moça. -Ele me encarou com os olhos verdes inflamados pelo vermelho do sol poente. - Você tem que dar uma chance pra ela também, ou sair fora de vez, e viver o que tanto quer comigo. Seja como for, estarei sempre aqui.

- Ela quer sair comigo hoje. Disse que iria pensar e depois dava a resposta. - Ben estava aflito.

- Então vai, e observa ela bastante, talvez seja a hora de sair com outra mulher. Eu posso me tornar muito entediante.

-Você? Nunca. -Benjamin sorriu um pouco. -Agora mudando um pouco o nosso assunto. Seu garçom foi atrás de você.

- Depois que eu saí?

-Não Marjorie, no hotel. Seu pai ficou bravo, e coube a mim dizer que você não estava, tive que fazer cara feia pro Maradona. Por falar em seu pai, acho que ele está de namorico com a dona do hotel, a Helena. Eles andam sempre juntos, e se não me engano vi eles saindo do hotel. - Ben queria me dizer mais.

- Mas ele estava na casa da Rita comigo e disse que tinha.... - Lembrei da expressão do meu pai. - Ah, que nojo!

-Ele está agindo como um adolescente. - Benjamin riu.

- Meu pai? Claro que não. Isso é ridículo!

-Não é seu pai, besta. Estou falando do seu filho. - Ele apontou com a cabeça.

-Como sabe que ele é meu filho? Nem te apresentei ninguém.

-Esse menino é você numa versão masculina, só que maior para a idade. Ele está agindo como um adolescente para te o impressionar. Tipo, mãe eu sou um homem. - Benjamin imitou a voz de uma criança.

- Sério Ben? Eu não sabia que vocês são assim na frente de uma mulher.

-Pode acreditar. -Ele riu.

Nossa conversa acabou, ficamos olhando meu filho se divertir, enquanto Ben ria sem parar das maluquices dele. Estava sendo uma tarde engraçada, até que Helen ligou para ele.

-O que aconteceu? -Perguntei.

-Reunião de última hora. Parece que James vai entregar tudo para o FBI.-Benjamin desligou o celular, totalmente em Pânico.

-Ótimo. Vamos para o hotel, podemos reservar um quarto lá, e eu não vou precisar ver a cara do safado. - Falei.

-Ou não. Eles querem que a gente vá para aquela boate. -Benjamin me deu um sorriso amarelo.

-Mãe? -Nicolas apareceu na minha frente. -Será que podemos ir? Eu quero ver o meu programa favorito.

-Claro. -Levantei.

- Oi!-Nicolas estendeu a mão para o Benjamin. -Você é o namorado dela?

*******

-Ele vai ficar muito triste quando acordar e não te ver aqui. -Rita me levou até a porta da sala.

-Eu queria muito que ele fosse comigo, mas acho tudo muito novo para ele Rita. Quero que seja aos poucos, a fim de fazer ele se tornar meu amigo, e depois firmar nosso laço maternal.

-Você está certa. Também posso aproveitar meu pequeno, já que ele tem os dias contados aqui. - Rita estava triste e isso acabava mais ainda comigo.

-Não fica assim. Eu vou me concentrar primeiro em conhecer meu filho. Depois a gente conversa sobre como vai ser. -Ela me deu um abraço apertado.

-Sei que será o melhor para ele Marjorie. -Rita sorriu.

Dirigir para a boate foi um verdadeiro caos, não consegui me acostumar com o transito frequente do Rio. Minha mente me deixava louca também, toda hora me pegava pensando no olhar triste da avó dele. Queria fazer alguma coisa, só não sabia como. Nicolas não foi um total problema para mim, o garoto era como eu, tinha o pé firme no chão, entendia ou parecia entender. Só não gostei o jeito que ele ficou quando se referiu ao pai, parecia medo.

Desci na frente da boate e entreguei a chave do carro, não precisei esperar na fila, fui levada para o interior por uma porta lateral, subi a escada de ferro e os vi, os três sentados na mesa. Benjamin estava ao lado da Helen, eu teria que ficar ao lado do juiz.

-Boa noite. - Falei.

-Boa. -Helen se levantou e me deu um abraço. - Como foi? Com seu filho. -Ela perguntou.

-Foi muito bom. Ele é um anjo. -Sentei na ponta do banco.

- Agora vamos falar do que realmente importa. - James cortou a conversa.

-Desculpa meritíssimo juiz, se eu não me expressei bem, mas acho que a morte não é nada comparada com a alegria de encontrar o bem mais precioso. - Encarei ele. - Claro que você não se importa muito como certas coisas..

-Você está brincando comigo, só pode. -James me puxou até nosso corpo colar. -Você vai poder ter todo o tempo com seu filho, só, vamos resolver isso logo. - Nosso rosto estava quase colado.

-Tudo bem. -Me afastei dele e arrumei minha roupa. -Se quer entregar tudo, faça. Quero levar meu filho daqui, e dar uma vida agradável para ele.

Todos até James ficaram surpresos com a minha calma.

-Senhora. -Fui interrompida por um garçom. - Aquele homem pediu para falar com você.

- Obrigado, mas não estou vendo ninguém.

-Aquele ali. -Ele apontou quando um grupo de garotas saiu da frente.

-Merda! -Senti o ar sendo drenado para fora do meu corpo.

O garçom se afastou meio sem graça. O homem do outro lado com toda a certeza não me reconheceu.

- Alguém de vocês tinha curiosidade em saber quem era o pai do meu filho?

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora