XV

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Dias atuais.....

Achei um celular no bolso da calça detonada dele, lutei para tirar de lá e não me arrependi. Tinha sinal, fraco mas tinha, e o mais legal era saber que eu poderia ligar. Meu celular descarregou por completo e o único número que eu sabia além do meu, era o do Benjamin.
Deixei ele de lado enquanto trocava as ataduras do renascido James que mais parecia um vampiro, pálido e quase sem respiração.
O bom de ser renegada por muitos é  que você acaba de adequando a tudo, como exemplo passar dias confinada em uma cabana se alimentando de comida enlatada que eu encontrei no armário e frutas.
Também achei roupas, um pouco maior que o meu tamanho, e ousadas também.  No banheiro era um tipo de cano que jogava pouca água, acho que vinda de alguma mina de perto.  Olhei pela janela, a chuva estava castigando lá fora, só era realmente bom por causa das buscas, eles não atravessaram o rio, então meu tempo de vida tinha se alargado um pouco mais.
Olhei para o James deitado na cama de folhas que eu improvisei e tomei minha decisão, ia entrar em contato com o Ben, mesmo que isso nos levasse a morte.
Disquei o número, mudo, fui para a porta e disquei de novo, chamou uma, duas, três, quando eu ia desligar ele atendeu.

-Sim? É..
-Ben?
-Isso é brincadeira né? Só pode.
-Ben sou eu Marjorie. Porque você está nervoso?
-Moça, já brincaram de mais comigo. Eu não vou cair nessa.
-Benjamin acredite em mim, sou eu, Marjorie.
-Só acredito dessa vez se me disser onde estava e o quê estava na mão quando nos conhecemos.
-Eu estava no mercado comprado bebidas, saí para o estacionamento e não consegui encontrar o carro do meu pai, foi você quem me ajudou, depois bebemos juntos.
-Por Deus Marjorie, onde você se meteu?
-Ben,  é uma história muito longa, agora não posso falar muito. Eu só posso dizer que estou bem. E que James está comigo,  ele foi baleado e não está bem, eu acho. Quero que ligue e diga para a Rita que eu não perdi o aniversário dele porque quis.
-Ela te ligou? 
-Não tive tempo de te contar, mas liga...
-Não se preocupe, você e o juiz são notícia em todos os canais.
- E o que estão falando?
-Isso não importa. Olha, eu tenho que te dizer uma coisa. Eu.... me....Eu...
-Ben? Benjamin?

-A ligação caiu moça.

O celular caiu da minha mão e foi parar do outro lado da cabana, me virei o mais rápido possível com uma faca velha na mão. Ele estava me olhando de olhos bem abertos.

-Aí meu Deus. Você está bem? -Larguei a faca.

- Não. Mas posso sobreviver, você poderia me ajudar me dando um pouco de água sabia? - A voz de James era como uma lixa.

- Deixa eu só ir lá fora...

- Não!  Não faz isso. Você tomou água da onde? -Ele arqueou uma sobrancelha.

- Da chuva. Eu encontrei uma panela na cozinha, ou sei lá como se chama aquilo, enchi de água da chuva, fervi e depois tomei. -Me senti uma criança quando pega doce do chão.

-Não me diz que não entrou no quarto? Ou entrou? Pelas roupas entrou,  mas não mexeu em mais nada? - Ele estava querendo rir de novo.

- Não! Pelo amor de Deus James, eu só abri o armário pra pegar roupas por causa do sangue. Nem olhei para mais nada, isso é falta de educação.

-Deixa eu tirar uma dúvida. Quanto tempo eu dormi?

-Uma semana e um dia. - Respondi.

-você me trocou de roupa certo? - Confirmei. - Trocou minhas cuecas também?

-Eu... ah, seu idiota... Olha, eu, eu troquei sim. Mas, o que importa é que está vivo e trocado. - Ele abriu a boca, mas eu continuei. - Sem perguntas por favor.

-Nossa, - James olhou para os machucados. - Como fez isso?

-Usei umas coisas que aprendi com a minha mãe. -Apontei para as folhas. -Já estão cada vez mais limpas, creio que mais dois dias e pronto, vai se sentir inteiro novamente. -Toquei as folhas enquanto ele me olhava.

-Lamento. - James falou no meu ouvido. -Por te fazer perder o aniversário do seu irmão sobrinho, não sei.

-Filho. Ele é meu filho. E não adiantaria nada, eu não ia conseguir chegar lá. - Encarei os olhos azuis dele.

-Você é casada? - James pareceu ficar confuso.

-Não. Fui mãe na adolescência. Caí nas conversas de um idiota, engravidei cedo e vim para cá sem meu filho. Fiz uma promessa que voltaria quando minha vida fosse melhor. - Ele respirou aliviado. E passou a mão no meu rosto.

-Seu amigo sabe? Digo ele.....

-Sabe. Era um segredo, entre ele, meu pai, meu padrinho e agora você sabem. -Desviei o olhar e me concentrei no outro ferimento.

- Então me sinto lisonjeado por compartilhar o meu segredo, e o seu também. -Senti os dedos finos dele mais uma vez no meu rosto.

-Seu? Qual? - Olhei em volta.

-Essa cabana é minha rota de fuga, não só de problemas, de tudo. Já passei meses aqui, ganhei do meu avô parte dessas terras, a outra parte ele deixou para a minha irmã,  e fiquei com esse pedaço. Vovô fez essa cabana para se refugiar também. E tempos depois deu de herança para mim. Nem Helen sabe dela.

-Helen é  a sua namorada. - Presumi.

-Minha irmã mais velha. Ela é um pouco protetora. Não nos falamos muito desde que ela se casou. Foi com ela que aprendi algumas coisas.

-Legal. Sou filha única, eu acho, se minha mae se casou ou teve mais filhos. -Toquei na barriga dele para trocar a atadura, James se remexeu.- Desculpa, eu não queria. ...

-Tudo bem. -Ele ficou calado, incomodado eu diria. - E se a gente voltar?

-Vamos voltar James, só espera a chuva passar, e vou te levar direto pro hospital. -Acabei de fechar o ferimento com os dedos trêmulos.

- Dentro do quarto tem água para a gente, e uma televisão pequena  debaixo da cama.  Ela funciona em dois canais .

- Tudo bem senhor juiz, mais alguma coisa ?

-Não. Essa sessão está encerrada. Agora só falta meu martelo. - Ele me mostrou a mão.

O martelo ela já tinha, e que martelo. Só de pensar suava a calcinha.

Me retirei até o quarto e respirei fundo. Estar com ele dormindo era uma coisa, agora ouvir a voz dele e sentir o olhar em mim, era outra bem diferente.
Me censurei por estar me iludindo em tão pouco tempo, peguei o quê precisava e saí do quarto.
James estava sentado na cama de folhas , com as pernas esticadas, estava colocando a camisa, mas quando me viu parou, me seguiu com o olhar.
Tropecei no cobertor dele e topei com uma cadeira velha de madeira. Depositei a televisão lá mesmo.
A televisão era uma coisa do tamanho de uma caixa de sapatos, com peso de um pneu. A coisa ligou e ficou na estática, mas depois de uns bons minutos a imagem apareceu, preta e branca.

-Que foi? -Ele começou a rir. -Era do meu avô. -Não me olha assim. Já te falei que fica linda quando está nervosa?

-Cala a boca vai.-Meu rosto esquentou, ainda bem que sou morena.

-Agora voltamos a falar do caso do Juiz que foi sequestrado, e possivelmente morto na madrugada de sexta. Ao que tudo indica ele foi baleado, encontraram rastro de sangue perto de uma boate onde ele foi visto a última vez acompanhado da advogada também desaparecida.
Recebemos uma denúncia anônima dizendo que ela é a possível sequestradora ou assassina do juiz de Londres. Marjorie está sendo caçada pela polícia federal da Inglaterra.

-Meu Deus.-Minha foto apareceu na tela. -Eu vou ser presa.

-Não. Você não vai, nem que para isso eu faça uma loucura...

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora