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Como sempre acordei mais cedo que Ben, estava dolorida e com a mão dormente, Ben havia se enrolado no meu casaco caro e dormia feito um bebê. Passei por cima dele e entrei no banheiro, tomei meu banho e tratei de me vestir no banheiro. Tinha uma reunião e nada melhor que o habitual uniforme de advogado, terninho preto, saia justa, meia fina preta e sapatos de salto fino. Prendi o cabelo, e depois soltei de novo. Abri o último botão na minha camisa de seda vermelha, estava ótima. Quando saí do banheiro Ben já tinha ido para o banheiro do quarto do Nicolas.

Depois do café foi a correria que Ben gostava. Levamos Nicolas até a escola, e tivemos que encontrar o tal hotel. Ben arrumou briga no trânsito e quase parou, fiz um show dizendo que ia desistir de tudo e ele voltou a dirigir rapidinho.

O hotel não era nada com o que imaginamos. Era coisa de rico. Fomos levados até uma sala privada de reuniões onde encontramos nossos quatro sócios.

- Bom dia. - Benjamin adotou o advogado do diabo.

A conversa fluiu bastante, porque eles estavam mais interessados em saber como andava as investigações e a vida do James do que nosso acordo. Eu dava informações rasas até a parte da mentira do meu amigo. Essa nem eu esperava.

- Ficamos muito interessados em fechar sociedade com vocês. Ouvi dizer muitas coisas boas a seu respeito. - A advogada por nome Ananda sorriu para mim.

- Obrigada. - Sorri.

- Iremos fechar os negócios dentro de algumas semanas, quando nos instalarmos no nosso novo espaço.

- Sim. Já está tudo preparado. - Ben ficou nervoso. Lá vinha mentira por aí - Estamos cuidando dos últimos preparativos do nosso espaço.

Era uma mentira, que custaria caro, e eu não tinha feito um juramento a toa.

Um dos advogados estendeu o contrato para Ben e antes dele pegar eu acho que pensei alto e a coisa desandou.

- Não pode assinar Ben. Não está tudo pronto. - Eu disse.

- Está sim. - Ele deu um sorriso forçado.

- Não Ben, não está. Aquela casa é um criadouro de baratas. Todas as vezes que vai até lá volta com barata até no terno. A casa está caindo Ben!

Os quatro advogados olhavam de mim para ele, e dele para mim.

- Não podemos assinar uma coisa falsa. - Tomei os papéis da mão dele e devolvi a mulher. - Somos ótimos advogados, mas não temos um espaço ainda e eu não vou começar com uma mentira.

Benjamin abriu a porta com um baque e saiu, furioso. Corri atrás dele, mas Ben tinha sumido no corredor.

- Onde você está? - Esperei ele atender.
- Saindo, pra não brigar com você.
- Ben, eles são advogados. Se não formos processado por mentir, no mínimo seremos presos.

Ben desligou o celular na minha cara. Ótimo, agora eu nem sabia sair daquele lugar.... Fiquei andando de um lado para o outro tentando encontrar o elevador...

****

Helen

James estava em alguma seção massacrante em alguma sala do tribunal. Fui até a janela enorme e aproveitei a luz do dia para ler o bilhete.

Helen

Nunca deixei de te amar minha querida. Você foi a única coisa real nessa minha vida de mentiras. Te quero ao meu lado e só vou descansar quando estiver comigo. Quero fazer uma troca. Você pelo garoto. Seria terrível se um menino fosse encontrado morto dentro da escola.
Venha até mim meu amor. Amanhã às nove horas em frente a escola do pequeno Nicolas. É você ou ele..
Andreas.

Dobrei o papel com raiva. Como ele teria coragem de fazer alguma coisa com um garoto?

- Está fazendo o que aí? - James entrou na sala e jogou um bom número de pastas na mesa.

- Te esperando..

- Você vem vestida de noiva do Chuck, consegue entrar na minha sala e tenta me enganar. - James sentou na cadeira.

- Preciso que leia isso. - Joguei o papel na mesa.

- Tão antiquado. Podia mandar uma mensagem, ou e-mail. - James abriu o papel.

Meu irmão leu e releu, e depois de muito tempo e já com o celular na mão me encarou outra vez.

- Você não vai. Ele está blefando. Vou pedir para redobrar a segurança no condomínio. Nicolas não vai a escola. Ele não tem asas. Se não tiver criança na escola, não tem criança morta.

- Meritíssimo. - Ouvimos o chamado pela porta.

- É a última de hoje. - James parecia cansado. - Se não for ficar, pelo menos fecha a porta e toma cuidado.

Fiquei sozinha outra vez. E precisava conversar. Usei meu celular para mandar uma mensagem e assim que passei pela porta Benjamin parou o carro. Atravessei a rua enquanto ele saía.

- Se for me bater, já te adianto que instaurar o caos na frente do tribunal e crime. - Ele disse sério.

- Não vou te bater Ben. Só quero me desculpar. - Falei calma. - Quando fico nervosa, ou com medo reajo de uma forma mais agressiva.

- Olha, você deve ter partido meu estômago em dois. Não consigo nem falar alto sem sentir dor. - Ben era mesmo um chorão.

- Vamos sair daqui?

- Não posso. Mesmo com raiva da Marjorie preciso ficar de olho nela. O hotel não fica tão longe daqui.

- Daqui cinco minutos termina a seção. James vai passar com o carro em no máximo, sete minutos. - Encostei no carro. - Se eu acertar, me deve uma bebida.

Benjamin conferiu as horas e esperou. Cinco minutos, seis. Seis e meio, James passou a milhão com o carro e ainda falava no celular.

- Ganhei. - Bati de leve no ombro dele. - Vamos logo.

- Só uma bebida. - Ben entrou no carro.

- Só umas bebidas Benhur.

Benjamin não gostava de admitir, mas ficava tocado quando não era ele que rodeava a Marjorie, e ele precisava entender que não ficaria ao lado dela pra sempre. Uma hora ele teria que viver a vida, e deixá-la viver. E eu precisava muito beber, e tomar a coragem que vinha buscando a muito tempo. Se Andreas fizer alguma coisa com quem eu amo nunca me perdoaria. Por isso precisava muito entorpecer meus sentidos e acabar com essa palhaçada dele de uma vez por todas...


Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora