XXXVIII

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Benjamin

Marjorie tomou chá de sumiço com o juiz safado. Fui andando até a casa dele me mordendo de raiva. o cara era chato ao extremo e além de ficar o tempo todo no pé dela, me tirava de cena num piscar de bunda.. Não era longe, então tive que passar a mão no rosto várias vezes para tirar a cara de bunda que se apossou de mim.

- A senhorita O'Hare quer me ver. - Me identifiquei e depois de quase deixar um pedaço da minha cueca com o cara, entrei.

Helen estava no fundo, que eu nunca imaginei ser tão grande. Tinha um barzinho, mesas no gramado, churrasqueira quase do tamanho do meu carro, e uma piscina. Aposto que o juiz nunca entrou ali. Seria estranho imaginá-lo de sunga com um pano de prato no ombro, oferecendo carne para os convidados. Quase ri alto . Coitado deve ser a pele e o osso. nada comparado com o papai aqui.

- Ben.- Helen levantou da espreguiçadeira. 

- Como você está? - Me aproximei dela.

- Nada grave. - Ela deu de ombros. - Logo passa.

Helen me puxou sem gentileza alguma para a piscina, sentou e colocou os pés na água. Me restando fazer o mesmo.

- A gente precisa conversar Benjamin. Sobre nós. - Ela brincava com os pés na água. - Se é que existe nós.

- Também não posso te falar isso. Olha, estamos quase concluindo uma investigação onde seu marido é o lobo mal. 

- Mas você tem tempo de ficar atrás da Marjorie. - Ela rebateu.

- Se quer falar da Marjorie tudo bem. Mas se xingar, eu vou embora.- Disse meio na defensiva.

- Você ainda á ama. - Ela disse,

Observei a água, as árvores para lá dos muros da fortaleza que ela chamava de casa. Benjamin Hilton nunca foi moleque,

- Sim. - Respondi sem nem um pouco de vergonha. - E se ela um dia me aceitasse, eu iria abanando o rabo. Talvez passaria a vida fazendo merda, e ela limpando. Mas amor não é isso. Eu quero que ela seja feliz, e ela quer o mesmo. Mas entenda Helen, somos um do outro. E se um dia tudo acabar entre ela e o seu irmão, vamos continuar sendo um para o outro, como somos agora.

Helen fungou. Estava chorando.

-Se não acha que suporta a ideia de ficar com um cara que ama a melhor amiga, vou entender.

Helen levantou e chutou minhas costas. Me apoiei para levantar, na famosa posição de quatro, e ela chutou de novo. A mulher era um furacão, eu estava sem ar, ela no mínimo partiu meu estômago ao meio.

— Maldita! – Fiquei em pé com um pulo. — Eu não te dei um fora, sua louca!

— Some daqui!

Ela estava vermelha de raiva, com as mãos trêmulas. Me afastei, passei pelo mesmo guarda que ria de mim e voltei para a casa da traidora. Meu carro ainda tinha marcas dos tiros que quase levei. Dirigi até a minha casa em silêncio. Podia ligar para a Marjorie, mas o Juiz era irmão da doida. Era capaz de mandar me colocar na cadeia. Bufando de raiva bati a porta da minha casa.

Não sabia o porquê ela fez aquilo, eu só expus minha amizade com a Marjorie, e quer saber? Era isso mesmo. Por aquela pequena eu ia até o outro lado do mundo. Helen que lutasse. Gostava dela? Sim. Queria algo sério? Sim. Mas colocar minha amizade em pauta era jogo baixo.

O interfone tocou me tirando do transe. Na raiva até mirei a parede para socar, mas lembrei que dói e parei o soco no ar, mordi os dedos e atendi o fone.

— Sim.
— Senhor, tem um homem aqui querendo falar com você.
— Fala que eu não quero ver ninguém, estou com diarreia. Pode ser transmissível. – Era uma boa desculpa.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora