XVI

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Tá legal. Acho que já tive a minha cota de sustos por hoje. James me veio com um plano arriscado, não tanto, mas para mim sim. Depois disso peguei numa aranha dentro da gaveta de suprimentos, ele nem se mexeu enquanto eu me debatia e gritava, a coisa passou por debaixo da porta e sumiu. Peguei no sono chorando baixinho, mas acabo de despertar com o trovão balançando a cabana.
Morro de medo desde pequena, mas era outra época, eu podia dormir com meu pai. Agora porém virei e Encarei James dormindo e tentei não tremer com o frio vindo da porta.
Lembrei de uma música bem legal que meu pai cantava, me abracei e comecei a cantar ela num sussurro.
-Marjorie? - James esticou a mão. -Esta tudo bem?
-Sim. Quero dizer. Só estou com um pouco de medo dos trovões mas estou bem. - Continuei de costas para ele.
James se mexeu um pouco, pensei que ia virar para outro lado, já ia fechar os olhos quando senti ele se aproximar, não sei como não gritei ou comecei a rir como uma louca. Ele passou o braço por de baixo da minha cabeça e me abraçou. Me senti grata pelo calor humano. Ele se aconchegou na minha nuca e respirou fundo.
-Está melhor assim?-A voz dele ficou baixa.
-Sim. É sim.... -Droga, eu comecei a tremer.
-Acho que ainda está com frio, vou te abraçar bem apertado, daqui a pouco vai se sentir melhor.
Não obrigado. Já estou bem melhor, na verdade pegando fogo, e não vou dormir tão cedo com você me cheirando e tão cheiroso também.
-Tá legal. -Respondi. -Boa noite.
-Boa noite pequena.
Ele me chamou de pequena? Droga, ele me chamou de pequena. Me senti uma retardada feliz, sorrindo para o nada. Até me lembrar de que quando tudo isso acabar, cada um vai para o seu lado, e eu vou sofrer mais, como sempre me iludo pelo cara errado.
Benjamin deve estar uma pilha de nervos, e meu pai, o pobre coitado ou está me xingando por ser a suposta assassina, ou está a beira da loucura.
James ficou ali, fazendo carinho, senti uma pontada na bunda.
Ele estava ereto.
Ele estava ereto?
As mãos que me abraçavam começaram a fazer carinhos, que se tornaram um pouco mais possessivos. James me virou de barriga para cima, nossos lábios se encontraram no escuro, a respiração dele estava irregular, assim como a minha. Senti o toque leve no meu seio, a carícia me tirou do ar.
A carência me fez gemer só com os beijos dele.
As roupas foram para o chão, dei uma olhadinha rezando para não ter aranha no dia seguinte, ou eu ficaria nua até sair dali.
Ele se posicionou em cima de mim e me penetrou. Foi lento, claro. James tinha um rombo no abdômen. Mas isso não o impediu de se movimentar em mim e puta merda, foi gostoso.
Nossos corpos se moviam em sincronia. James estava agarrado ao meu cabelo gemendo coisas sem sentido. Meus olhos reviraram quando o orgasmo me atingiu, e graças aos céus, a chuva abafou meu grito de prazer. O de James veio logo depois.
Ele se derramou em mim com estocadas fortes.
- Você.... Toma remédio? - James mantinha a testa na minha.
- Não.
- Porra!
- Brincadeira. - Sorri e ganhei um beijo.
James sentia dor, deitou-se do meu lado e me abraçou outra vez.
- A chuva passou pequena. Agora durma.
A chuva havia mesmo passado.

   {Parte Benjamin }

Outro trovão. Se Marjorie estiver por perto em algum lugar ela deve estar se cagando de medo. Se o juiz metido a besta não morreu ainda terá menos grito, do contrário, pobre Marjorie.
Olhei pela janela do apartamento, como se eu pudesse ver onde ela está, se está dormindo bem. Droga, o medo de perder quem amamos nos faz ouvir coisas. Mais cedo ouvi a filha do vizinho gritando, sempre ouvi, mas na hora pareceu a Marjorie gritando de puro pavor. Depois veio a chuva batendo na janela.
Três horas da manhã, nem piscar eu conseguia, quanto mais fechar os olhos.
Fitei o teto e senti uma coisa estranha do peito. Uma dor, forte o bastante para matar. Meus olhos ficaram turvos e então,  tudo veio à tona. Todos os nossos momentos juntos. O dia em que eu a conheci, as primeiras palavras, e pior ainda, o beijo, não o primeiro, o último. Ela estava parada me olhando, eu tinha que fazer aquilo, tinha que colar nossa boca, ela sempre foi tão convidativa. Todas as noites que eu acordava e ouvia ela chorando, por causa de tanto sofrimento. Se eu fosse mais homem teria levantado e feito carinho nela, ou tomado ela enquanto o desejo ardia em mim com força, com certeza ela teria negado,  ou não, talvez era isso o que faltou, coragem.
Quando era pequeno perdia o sono com frequência, ninguém me queria acordado e falando, então levantava e pegava um livro, sempre o mesmo, As Crônicas de Nárnia, depois ia até o guarda roupas e esperava pelo leão. Agora eu espero, mas não pelo leão, espero por uma pequena morena, que faz meus dias se tornarem mais claros, e os problemas menores.
Peguei a foto dela de dentro do mesmo livro empoeirado, e passei o polegar no rosto tão perfeito.
-Se eu fosse mais homem, teria tomado seus problemas, ao invés de sair por aí dando crise de ciúmes. Ah Marjorie, minha pequena Índia. - Sentei no chão perto da janela e deixei meu mundo desmoronar por completo.
Acho que adormeci sentado no chão,  porque quando olhei para o relógio já era sete horas da manhã. Eu precisava fazer alguma coisa. Me levantei e tomei um banho rápido, mal toquei no café, meu estômago dava voltas. Peguei minha chave e mais uma vez fiz carinho na foto dela. A chuva tinha passado, mas o frio não. Alguém parou de frente para a minha porta, vi a sombra. Se fosse alguém conhecido teria tocado a campainha. Calculei mentalmente a distância da queda, se eu me jogasse do quarto andar morreria com certeza.
A primeira batida me assustou, não virei as costas para a porta, fui andando de costas tomando cuidado para não esbarrar em nada, com sorte ele poderia achar que eu não estava em casa. Outra batida, agora mais forte, minhas pernas estavam moles. Mais um passo para trás, me lembrei da saída de emergência na cozinha. Cinco passos, se não fosse ouvido, logo estaria perto do estacionamento. Três passos rápidos e outra batida mais forte, estavam forçando a porta, minha respiração estava acelerada de mais, temia ser ouvido. Dois passos e peguei na maçaneta da porta, girei a chave e com cuidado abri a porta de ferro que rangia baixo. Um gatilho, não estava enganado, era um gatilho, nem cheguei a cogitar quando ouvi o som, um único tiro e a porta se abriu com um baque. Jorrando adrenalina pelo meu corpo, sentia choques nos braços e pernas, eles não me viram, virei nos calcanhares e corri pela porta. Eles gritavam ordens em outras línguas.
Desci os degraus de dois em dois, havia esquecido a chave do carro.
-Merda, merda, merda, estou à um passo da morte e  esqueço a chave do carro. - Forcei a porta do carro.
Um homem  alto e magro de mais apareceu no portão, ele apontou pra mim, forcei o vidro que cedeu um pouco, logo forcei mais, até descer um pouco, me joguei dentro do carro e puxei os fios de baixo do volante, já tinha feito isso uma vez quando dormi na boate e roubaram a chave do meu carro,  na verdade Marjorie fez, e mais rápido que eu.
Um tiro passou bem perto de mim, meus dedos tremiam, já estava vendo mais dois homens correndo quando o carro pegou. Acionei a ré e acelerei, abaixei um pouco quando vi que estava sendo mirado pelo magrelo, acelerei mais ainda, o pneu cantou, não deu tempo do portão abrir por completo, meu carro, lindo passou a um dedo de distância. Nem olhei pelo retrovisor, segui rápido pela rua. Eles não esperavam minha reação, três homens armados iriam me matar se eu não tivesse sido milagrosamente mais rápido.
Tirei o celular do bolso e retornei à ligação para o número que a Marjorie me ligou. Chamou quatro vezes, já estava entrando em pânico quando o juiz atendeu.
-Sim.
-Cara, onde está a minha amiga?
-Benhur?
-Benjamin, por favor.
-Benjamin, -Ele riu. -Ela esta colhendo frutas para o café.
- Que legal. O casal apaixonado de lua de mel. Enquanto EU QUASE MORRI AGORA A POUCO SABIA?
-Calma. Onde você está?
-Parado na estrada. Esperando alguém atirar em mim.
-Você pode estar sendo ouvido, e trazer os seus amigos com você,  e aí vai ser três  pessoas mortas na cabana. Então, segue minha pista.  Você está perto. Vai pela esquerda, encontrará um caminho de terra, deixe o carro na entrada.
-Meu carro é novo.
-Ou o carro, ou o corpo amigo. Só te falo uma coisa. Morto não dirige.
-Tá legal.
-Deixe o carro na estrada. Depois disso te deixo essa charada. Segue o caminho certo quem der um anel de noivado para a amada, primeiro verá ela chorar e depois de vestido branco.
- Tá louco?
-Esta ficando sem tempo.
-Tá legal.
Desliguei o celular e sai do acostamento . Até achar a estrada de terra teria tempo de decifrar a charada...

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora