XIV

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Oito anos atrás...

Meu pai acabou aceitando a proposta da Rita, ele concordou que não sabia cuidar de uma gestante, ainda mais sendo menor de idade. Davi quis morar na casa da piscina, segundo ele a gente precisava de conhecer melhor.
Com pouco mais de cinco meses descobri duas coisas. A primeira, minha criança era um menino, e e a segunda, Davi tinha outra namorada. Ele não dormia mais em casa, não falava mais comigo, e quando o fazia, era sobre a criança. Minha vida foi pro buraco em oito meses.

-Posso entrar? -Rita bateu na porta.

-Com certeza. -Me ajeitei na cama.

A gente acabou se tornando amigas, uma fazendo companhia para a outra, ela por várias vezes foi meu ombro quando eu ficava desesperada.

- Como esta se sentindo? As dores voltaram?  -Ela tocou na minha barriga.

-Só hoje, mas posso viver com elas. Você me disse que seria normal nas últimas semanas.

-Certo. Quero que tenha repouso absoluto. Sei que meu filho está levando isso na brincadeira, e que já não chega em casa no horário, vi quando ele chegou hoje de manhã. Marjorie Você não é obrigada a aceitar quando ele estiver...

-Ele não me toca mais. Na verdade desde quando contei que estava grávida. Sinto que ele queria se aproximar de mim, mas quando tocava minha barriga esfriava. Rita me perdoa, mas acho que ele já não gosta mais de mim, e sinceramente estou atrasando o lado dele. - Desabafei.

- Ele se tornou como o pai, frio calculista. Lutei muito contra isso, aconselhei. Queria que você fosse minha filha... -Ela se sentia culpada por ele, vi quando começou a correr as primeiras lágrimas pelo rosto dela. -Preciso que você me procure se a dor vier, se eu não estiver me ligue.

Esse foi o fim da nossa conversa. Rita foi embora me deixando sozinha, chorei tudo o que não podia na frente dela. Lamentei por ter me entregado tão cedo e acabado com a minha vida.

A primeira contração veio quando eu saí do banho, minhas pernas travaram e senti minha barriga dura. Com o máximo de cuidado sai para o quintal, o sol ainda estava se pondo, contornei a piscina e entrei na casa pela porta dos fundos.

-Davi? Rita? Aí meu Deus. -Travei de novo.

Posso ter feito uma vez só, mas reconheço o som de longe. Meu coração apertou no meu peito enquanto me aproximava. Davi estava concentrado fazendo sexo com a menina que não notou minha presença. Senti meus pés formigando, acho que era o meu mundo desabando de vez. Queria correr, dei um passo para trás, mas a garota me viu e empurrou ele. Davi se jogou no chão em busca das roupas assim como a garota, a mesma do baile.

-Droga Davi, você me falou que não estava mais com ela. -Jessica me encarou. - Ela está grávida de um filho seu?

-Não.

-Sim. -respondi. -E vai fazer o mesmo com você. Te prometer que será ou está sendo a única a fazer ele sentir tais sensações, quando conseguir o que quer, vai te deixar, assim como eu. --Joguei a calça para ela.

-Você é um nojento Davi! Seu lixo! Ilha o que fez com ela, e ainda me disse que não quis porque a garota era safada. -Jessica deu um tapa no rosto dele. -Estou envergonhada.

A garota saiu gritando, e depois que bateu a porta Davi me jogou no sofá.

-Sua louca. Acha te quero assim? Ela é bem mais bonita, e não tem esse corpo estranho com essa barriga...

- Que seja Davi, o que quero dizer é que seu filho está nascendo. Se você puder me levar até o hospital eu vou,  se não, ligo para o meu pai e conto tudo, até sua aventura com a Jessica. -Trinquei os dentes quando a dor voltou.

-Merda. -Ele saiu correndo.

Não demorou muito para um carro parar no portão, um carro particular do hospital. Me levaram até o hospital fazendo todo tipo de pergunta, desde quando nasci até outras coisas mais particulares.
Na porta do hospital estava uma enfermeira me esperando com uma cadeira de rodas e meu pai ao lado dela. Me pai, que vergonha senti quando ele veio me buscar, me pegou no colo e me levou para dentro do lugar, deixando a enfermeira gritando atrás da gente.
Rita pediu que ele me deixasse e fui levada até a sala de parto. A dor estava cada vez mais forte.

- Ela só tem quinze anos, quem vai ser o responsável? -Um enfermeiro pegou minha ficha.

-Eu. -Rita entrou e me deu a mão. -O pai dela me pediu.

Fui submetida a toques e outras cosias, tinha soro na minha veia, pra me ajudar com as dores. Senti uma dor horrível e fiz força.

-Isso garota, ele já está vindo. -Rita sorria para mim.

Outra contração, empurrei, gritei, chorei, pensei em desistir e fiz mais força, até que uma coisa passou pelas minhas pernas, deslizou e parou na mão do doutor. Era um menino, meu menino, sujo e chorando.

-Parece com você Marjorie. - Rita me beijou na testa. -Seu pequeno herói. Deus como ele é lindo.

Pela primeira vez na vida me senti feliz. Queria dar o mundo para ele, ser a melhor mãe, amiga, ser tudo para ele, mesmo que tivesse que sofrer nas mãos do pai dele. Foi um amor a primeira vista, por um ser tão pequeno.

-Qual será o nome dele?

-Nicolas. - Fechei os olhos.

-Olá Nicolas, eu sou a vovó, aquela moça linda ali, é sua mãe. -Rita não deixava as enfermeiras chegar perto. -Podem deixar que eu sei limpar uma criança.

Me senti tonta, o mundo girou. Ouvi os médicos correndo e só dei conta que era por minha causa quando vi sangue de mais no chão e perdi os sentidos, não todos, foquei surda, vi as bocas deles mexendo, Rita deu Nicolas para alguém e correu gritando ordens mudas e apontando para mim.
Se eu tivesse morrendo seria uma boa, no fundo eu sabia que estava encrencada para o resto da minha vida.
Senti um líquido queimar pelo meu braço e cheiro de álcool. Aí sim eu apaguei de vez...

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora