XVII

422 37 2
                                    

Acordei assim que o sol nasceu. Foi difícil me soltar do Abraço quente do James, quando consegui me vesti, morrendo de medo olhando milimetricamente cada peça de roupa e  corri para fora a fim de trazer mais das frutas e folhas para o chá e banho dele, logo depois do meu.
James me pediu para considerar a proposta, seria mais um acordo,  assim que tudo passasse eu seria livre, sem investigações ou deportações, voltaria para meu país e buscaria meu filho.
Enquanto eu colhia reparei duas coisas, a primeira era que a cada passo que eu dava estava me sentindo vigiada, a segunda e a melhor, o rio abaixou tanto que se resumiu a uma veia de água, logo estaríamos longe daqui. Limpei as mãos na calça jeans que encontrei no guarda roupas e corri até a cabana.

- Gente, o que acontece com esse homem? - Parei à uns metros da cabana.

James arrumou um disco antigo de Jazz francês, tirou de algum lugar um aparelho preto e todo empoeirado e colocou o disco lá dentro. Acho que era uma espécie de vitrola, mas não usava energia elétrica. Ele estava na porta da cabana com as duas mãos no batente, quando me viu esticou o dedo indicador e me chamou. Pensei seriamente na hipótese dele ter fumado alguma erva. Ou estar sofrendo de alucinações por causa da dor, pensando que é um daqueles homens bonitos com bigodes finos e olhar estreito, e eu uma moça de vestido longo e cachos.

-O que está fazendo? Quer ser pego? -Joguei a cesta no chão.

-Vem logo. Passamos por tanta coisa, vamos dançar um pouco, vai me fazer bem né doutora? - Ele deu dois passos para frente. - Lá dentro não. Aqui é mais fresco.

Fiquei parada onde estava, suja de terra e suada, só podia ser brincadeira. James se aproximou um pouco incerto e tocou na minha mão.

- Senhorita Marjorie aceita essa dança comigo? -Ele abaixou um pouco e me olhou.

-Claro. Como eu poderia negar uma dança à você,  com tantas moças bonitas. - Apontei para as árvores. — E tantos homens aos meus pés. Literalmente.

Ele estava descalço, foi uma visão maravilhosa, a relva cobrindo parcialmente os pés dele. A música terminou e outra começou. Ele me puxou e colou nossos corpos.

-Agora imagina que a gente está num salão, eu de terno e você com um lindo vestido vermelho. -Ele cochichou no meu ouvido. -Somos as estrelas aqui.

-Aposto que nunca fui em um baile assim. - Quebrei a tensão.

- Até agora nunca havia encontrado uma parceira de dança tão agradável, uma bela dançarina, e além de tudo, linda, mesmo sendo tão pequena. - Ele riu.

-Posso perguntar o que te deu? - Me afastei dele.

-Acordei com uma vontade louca de dançar, plantar, colher, sair, olhar para o mar, e depois as estrelas, e isso foi culpa da nossa noite. - Ele parou de dançar e me encarou. - Acordei querendo viver. Não fazia isso à anos. Encontrei um motivo senhorita.

- É mesmo? - Arrisquei sorrir, e ele sorriu também.

-Já te falei que seu sorriso é lindo? - James colocou meu cabelo atrás da minha orelha.

-Ainda não. - Corei visivelmente. -Olha James. - Precisava falar sobre a nossa noite.

-Shhhh. - Ele colocou o dedo na minha boca. - Talvez você não seja da cidade. Fica linda colhendo, ou o simples fato de estar na natureza te deixa perfeita.

-Obrigada. - Desviei os olhos. - A música acabou.

- Deixa. Que venha a próxima, e a próxima, vamos dançar até o disco acabar, depois colocamos outro.

O vento passou por nós, balançando o cabelo negro dele. Aprendi a nunca olhar nos olhos se não quiser se apaixonar. Ele tocou no meu queixo, e nnaooo suportando mais o olhei nos olhos azuis profundos. James pegou na minha cintura. Minha respiração a mil por hora, somado ao meu coração, eu estava a ponto de explodir. Ele pegou na minha mão e colocou em  cima do coração dele. Estava acelerado, assim  como o meu. A música tocando, o vento dançando ao nosso redor, tive a impressão de que se fechasse os olhos veria  o casal de índios da história que contei a ele, dançando ao nosso redor.
Senti o hálito de James bem perto do meu rosto, perdi o raciocínio, não havia pensamento mais em mim, era uma confusão de imagens e beijos, medos e desejos.
O braço dele foi parar  no meio das minhas costas, James se inclinou sobre mim e se aproximou, olhando nos olhos dele também vi todos os medos e perguntas não feitas, queria responder, abraçar e nunca mais largar.
James colou nossos lábios pedindo permissão, abri a boca e deixei tudo acontecer, um beijo que nunca tive em toda a minha vida. Calmo e macio, o dono dos lábios mais macios e quentes gemeu em minha boca, então aprofundei o beijo. Não era fácil parar, toda vez que um se afastava o outro puxava. Me senti completa outra vez. Até James se afastar e me olhar nos olhos.

-Me prometa uma dança quando tudo isso acabar. - Ele segurou meus ombros.

-Prometo. - Respirei fundo.

Ele se afastou e entrou na cabana, andando com dificuldade. Me abaixei para pegar a cesta e entrei atrás dele. Confusa sem saber o que fiz fui até o quarto, onde encontrei ele empacotando as roupas e arrumando as coisas. James passou por mim e me entregou uma sacola.

-O que é isso? - Olhei para o embrulho.

-Vamos sair do país. -Ele estava mesmo decidido.

-Mas e meu pai? O Ben?-Fui atrás dele.

-O seu amigo está vindo para cá, já deve estar chegando. Seu pai nós podemos ir buscar. Também tenho alguém para ir atrás. Ela pode nos tirar daqui, e desembarcamos no Brasil. Você vai realizar seu sonho, e vamos estar seguros lá. Pelo menos é o que espero.

Eu deveria dizer não,  ou desconfiar de alguma coisa, mas fui atrás dele, fechamos tudo e limpamos, James olhou para o relógio e sorriu.

- Bem na hora.

Eu podia correr para o mato se fosse uma emboscada, ou me atirar em cima dele e depois correr mesmo assim. Tudo isso se não fosse pelo fato de estar vendo meu amigo entrar pela porta, se limpar e abrir os braços para mim

-Ben!- Corri até ele é me joguei nos braços fortes. - Como?

- É uma longa história pequena, teremos tempo. - Ele me soltou e avançou até o James.

Eu tentei segurar, mas ele se soltou e continuou, parou de frente para ele e estendeu a mão.

-Gostei da charada, se bem que foi fraca. Deu para escapar dos caras e chegar até aqui.  - Ben apertou a mão dele. -E agora o que vamos fazer?

- Fugir. Vamos fazer umas visitas e depois vazar daqui. - James me encarou e voltou a conversa para ele. -Estamos ficando sem tempo. Se você chegou até aqui, logo outros chegaram.

-Beleza. Qual é o plano. - Ben estava sorrindo....

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora