XVIII

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Não tinha plano, o negócio era correr no meio do mato feito fuzileiros navais, entrar na propriedade da irmã dele e resgatar a donzela, ir até o meu pai se possível levar ele embora e pronto, estaríamos embarcando, se até lá a gente não fosse pego primeiro, o que era bem provável.
Saímos em disparada antes das dez da manhã, andamos o dia todo só parando em casos extremos, e quando os primeiros grilos começaram a cantar chegamos até o lugar. Desabei no chão e só levantei quando James quase me chutou nas costas, ele tanto quando eu e o Ben estávamos cansados e doloridos da viagem a pé.

Ben era atacado por insetos. Só ele. Eu tentava não rir porque até isso era cansativo. Já James ria na cara dura.

A casa não era pequena como pensei, ficava no centro, toda rodeada de plantas e árvores frutíferas, estilo casa da fazenda, pintada de branco com janelas de madeira azul. Se eu tivesse uma câmera, ou meu celular estivesse ligado eu tiraria uma foto. Não vi pontos negativos até adentrar mais, aí comecei a ver latas de cerveja, garrafa de bebidas e rock, muito muito alto.

-Sua irmã tem um gosto musical e tanto. -Bati no ombro dele.

-Somos diferentes lado de uma moeda querida. -Ele piscou para mim.- Depois que a conhecer vai admirar meu gosto para tudo.

-Será que estou sobrando ? Não é por nada, mas a fome está batendo forte companheiro.-Benjamin entrou na nossa frente.

James deixou a gente para trás e foi andando em direção à casa, o único modo foi ir atrás, deixamos uma certa distância, caso a irmã dele não gostasse muito de visitas.
James bateu na porta, bateu de novo, já ia dizer que ele não seria ouvido tão cedo, mas ele compreendeu, esmurrou a porta, e o rock ficou mais baixo, ouvimos gritos finos e a porta não foi aberta, foi escancarada, batida na outra parede e de lá de dentro saiu uma moça, alta como ele, cabelos negros e magra, ela tinha duas armas nas mãos e apontava para ele.

-Eu pensei que ela era o tipo irmã mais velha sabe. Tipo, mãe de duas ou três crianças, com uma bandeja na mão e sorrindo para ele. -Benjamin falou no meu ouvido.-Olha só, ela parece ter saído do meu vídeo game.

-Deixa de ser retardado Benjamin, ela é só uma mulher alta. -Falei.

-Não. Eu achei ela....-Ele parou de falar e tentou chegar perto de mim. -Me desculpe, eu não. ..

- Tudo bem. Você é um homem livre Ben, pode sair por aí pegando quem quiser. -James me chamou peguei na mão dele e fui até eles.

-Ah, olha só, você está um caco garota. - Ela me deu a mão. -Não é inglesa.

-Não. -Respondi. -Olha James, -Virei para ele,-Se não se importa vamos dar uma volta, e você pode explicar tudo para sua super irmã linda. Eu vou andando com o Ben.

-É isso aí. -Benjamin pegou a minha mão. -Vamos andando, a Márjorie está um caco sabe, pode matar alguém só com as duas mãos.

-Posso falar com você? -James me puxou.

Fomos até o limite da cerca, James estava apavorado, me encostou em uma árvore.

- Não vai. Sabe que pode ser pega. Helen é uma idiota, mas ela gostou de vocês, só... nos de tempo. Vou falar com ela.

-Não precisa, sério. Eu posso não ir à ligar algum, mas não entro dentro da casa dela James. Não sou valentona, mas você sabe, ela provoca de mais. -Olhei de relance para ela.- Diz que vamos ficar aqui fora, vigiando, caso alguém se aproxime.

-Por favor. -Ele me pegou, mas recuei.-Tudo bem. Vou falar com ela.

Ele se afastou e foi até o Benjamin, conversaram um pouco, chamou a irmã e entraram para a casa. Ben veio correndo.

-Vamos fazer companhia uma para o outro. - Fomos até o gramado mais alto e sentamos. A noite ia ser longa.

{James}

-Posso saber porque fez aquilo com ela? -Bati a porta e puxei Helen pelo braço.

-Me solta! -Ela se afastou. -Você deixa de falar comigo por anos, me deixa a mercê da sorte! Porque chegaram fugidos?

-Porque eu me meti naquele caso outra vez, ela quase foi a vítima deles, no outro dia pegou o caso do irmão do Andreas, e descobriu coisas mais valiosas do que eu em todos esses anos. E ela quase morreu. -Apontei para a porta.

-Não tenho nada a ver com isso. -Helen era dura na queda.

- Eu fui baleado. Quatro tiros certeiros.-Ela arregalou os olhos.-Ela poderia ter fugido, ao contrário me pegou e levou até o carro, me trouxe até a cabana, e quando viu a minha situação correu para o mato e voltou com ervas, me salvou. Ela salvou a minha vida Helen. Dia após dia, fazendo curativo, criando pastas e me dando banho.

-James, porque não me falou isso? Deixa eu ver. Os machucados. -Ela tocou em mim.

-Estou bem Helen, Márjorie cuidou muito bem de mim.

-Da onde ela vem? Não pode ser normal, uma mulher saber tantas coisas a ponto de salvar uma vida.

-A mãe dela é nativa, ela aprendeu algumas coisas. -Comecei a relaxar. -Helen, ele está solto. Você não está mais segura aqui.

-Andreas? -Confirmei.-Meu Deus, o que vou fazer? Ele prometeu que me mataria James.

- Vamos fugir desse país, você usa seus recursos. Quando estivermos lá eu uso os meus, eles vão estar perdidos, sem saber nada da gente. -Encarei ela.

- Para onde? -Ela estava desesperada.

-Brasil. Lá teremos tempo de agir. -Tomei cuidado com as palavras, ela poderia negar facilmente.

-Então temos que agir rápido. Estão com fome? Porque teremos uma longa noite.

{Márjorie }

Benjamin me contou tudo, desde os homens do apartamento até a charada do James. No começo fiquei nervosa, mas a medida que ele ia me falando mais passei a admirar o juiz por tamanha sabedoria.
O juiz, dono da boca macia e palavras sussurradas, que dança tão bem quanto, e ainda por cima a simples menção ao nome dele me causa sintomas que nunca pensei que um dia voltaria...

-Márjorie está me ouvindo? -Ben estava passando a mão na minha frente. -Quer me contar o que está te levando ao infinito?

-Não! Digo, não é nada. Só estou pensando em como meu pai vai reagir à tudo isso. -Estava sentada com os cotovelos apoiado no joelhos.

-Tenho que te falar uma coisa. -Ele limpou a garganta.

-Vai em frente. -Olhei para ele.

- Eu não sei como começar. -Ben respirou fundo.-Tá legal.

-Ben. Fala logo, estou esperando. -Minha garganta secou.

-Olha pequena, as vezes a gente precisa passar por algumas coisas pra perceber o quanto deveríamos ser sinceros. -Ele levantou a mão como se fosse pegar alguma coisa. -Márjorie, eu... eu...

- Sim. -Falei.

-Eu senti a sua falta. - Benjamin estava mentindo.

-Ben. Eu também senti muito sua falta. -Abracei ele.-Mas tem certeza que é só isso?

-Tenho. -Ele sorriu.

-Também tenho. -Nos dois viramos para ver James de pé atrás da gente, com os braços cruzados. -Aliás tenho que dizer que minha irmã vai servir o jantar no caminho.

-Como? -Benjamin me olhou.

-Ela aceitou ir com a gente. Estamos ficando sem tempo. Me ajudaria mais se vocês fossem lá dentro tomar um banho, trocar essa roupa e correr para a estrada.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora