XXXVII

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De fato não fomos longe. E a verdade é que eu estava morrendo de fome. James gostava de lugares mais rústicos, e calmos. Por isso fomos em um restaurante a beira mar.

— Está gostando? – Ele mal havia tocado na comida.

— Sim. Mas você não...

—Me escuta. Não podia ficar lá. Estou sendo vigiado e pelo que conheço daquela maldita facção, sei que pelo menos dois policiais ali estão com eles. Mas não sei quem são. Então não posso confiar neles.

James se aproximou mais ainda se dobrando por cima da mesa. O camarão que eu estava mastigando quase voltou a vida e saiu pulando de tão forte que batia meu coração.

- Aqueles contatos que você descobriu. - Ele me encarou. - Todos eles são de pessoas ligadas a facção. E quase todos já estão sendo investigados. O único problema é que depois da nossa fuga para o Brasil seu padrinho ainda recebeu dinheiro deles.

Agora o camarão dançava na minha garganta. Tomei um bom gole do vinho e o forcei a descer. James tinha alguma coisa em mente. 

- O que vai fazer? - Minhas pernas se mexiam involuntariamente por baixo da mesa.

- Já fiz. - Ele deu um sorrisinho de lado. -Zerei as contas dele nos bancos. - Ele respirou fundo e relaxou um pouco. - Seu padrinho está metido até o pescoço com eles. E agora vai precisar de mais dinheiro.

- Então quer dizer que todo o dinheiro dele vem de coisa errada? - Ele confirmou minha pergunta. - A minha faculdade, as ajudas...

- Possivelmente. - Ele pegou na minha mão. - Agora quero que seja forte, e se ele tentar entrar em contato com você, entraremos em ação. Porque se foi seu padrinho que colocou os documentos ali, logo entrará em contato com você.

Minhas pobres pernas doíam com meu tique nervoso. Acabamos o jantar nada romântico e voltamos para casa. James estava impaciente, e eu praticamente cagada de medo. Não havia segurança fora do condomínio. E nos arriscamos indo até o restaurante só para ter um momento de paz

- Você acha que fizeram alguma coisa com Harry? - Virei para o encarar.

A luz dos outros carros o deixava ainda mais bonito, ele estava concentrado no trânsito, encarei o rádio. Se ele não fosse me responder eu pelo menos iria ouvir alguma música. peguei meu celular com a tela ainda trincada escolhi a música e conectei com o bluetooth do carro dele.

Marjorie era a minha preferida, mas tinha uma música em questão que me fazia dar uns bons suspiros, claro que era uma coisa totalmente besta, já que eu sou uma mulher.

A música começou,James me encarou por um bom tempo.

- Se for do seu País, eu vou ficar perdido. Não entendo quase nada da sua língua.

- Melhor assim. - Sorri para ele.

- Então pelo menos traduz para mim. Pra eu entender esse seu gosto.

_ Não vou cantar. -Rebati.

- Perturbação de sossego é crime. -Ele piscou para mim. - E eu posso perder o controle do carro. Pode falar a letra. Eu gosto assim. Entendo melhor.

Claro que seria embaraçoso, eu estaria dando uma de atirada, propondo coisas mais sérias, e ele é quem deveria ir a caça. Ben pelo menos fazia isso com todas, chegava a ser irritante o tanto de música que ele dedicava para as garotas. Encheria uma playlist de ida e volta até o Brasil, andando.

Maldita hora em que comecei a traduzir a música. James parou o carro no acostamento e fechou os olhos. Continuei, e de verdade, estava curtindo bancar a tradutora para ele. A música contava meu segredo mais íntimo para ele. Toda essa minha confusão sobre amá-lo ou não. O cheiro que só ele tem, eu era dele, tanto quanto ele era meu,

- Porque eu te amo, e não consigo me ver sem ser o teu amor por anos. Não é acaso, é só amor, não existe engano, que me carregue pra longe que te faça outros planos, meu bem. Teu cheiro só tu tem. Tua boca só tu tem. Me tem...

Olhei para as minhas mãos, meu coração martelava no peito. Ele permanecia com os olhos fechados, um sorriso torto nos lábios. Essa era definitivamente um momento estranho entre nós.

- Eu tenho mesmo? - Ele abriu os olhos azuis e me encarou.

- O que? - fingi demência.

- Eu tenho? - Ele continuou soltando o cinto do carro.

Marjorie, Marjorie você é uma mulher adulta, e não deveria ter vontade de correr. 

Respirei fundo, fiz minha cara de sedutora implacável e o encarei de volta, claro que estava com as costas grudada na porta do carro. James me assustou um pouco quando levantou a mão e arrumou uma mexa do meu cabelo. Fechei os olhos quando  senti os dedos dele no meu rosto.

- Você é linda Marjorie. - Ele pegou na minha nuca. - E eu estou perdidamente apaixonado por você.

Meu coração disputava corrida com os carros que passavam. James juntou nosso lábios. Foi um beijão. Daqueles de perder o controle das pernas. 

- Sim. - Eu disse. - Você me tem.

- Eu te amo pequena. - A voz dele saiu rouca. Gente, que homem. - E se algo acontecer comigo vou morrer com o coração cheio de amor, e satisfeito. provei do amor de uma pequena invocada.

Eu nada atirada, mas nem um pouco besta o beijei de volta.

Um celular nos tirou da nossa bolha mágica no meio de uma rodovia. Um celular, era o meu celular.

- Alô? 

- Onde vocês estão? - Ben parecia nervoso.

- Porque? Benjamin.

- Volta agora. - Ben definitivamente estava nervoso. - Tentaram entrar aqui. - Ele disse. - Aqui em casa.

James ligou o carro, deu a volta e seguiu na maior velocidade para a casa do Benjamin.

- Deixa que eu explico onde fica. - De novo a saga do cinto teimoso. Desisti, se morresse seria até melhor para mim.

- Não precisa. - Ele me deu um tapinha possessivo na perna. - Eu já te segui, sei onde fica.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora