XXXIX

347 24 2
                                    

Benjamin teria uma reunião importante no outro dia, e eu como a única sócia deveria acompanhá-lo, e mesmo cansada e com medo, iria. Afinal ele estava dando tudo pelo nosso futuro. Queria contar a minha surpresa para ele, mas não sabia como ele reagiria.

James era todo carinho e atenção. Acho que eles estavam travando uma batalha. Eu que não iria ficar no meio disso. James parou o carro e esperou Ben descer.

— Vou dormir na sala? – Ele me olhou.

— Depois a gente vê. – Dei um sorriso amarelo.

James queria falar comigo. Eu sabia disso.

— Estamos a um passo de acabar com eles. – Ele colocou a mão no meu rosto. — Tentei te falar mais cedo, mas não tive coragem.

— Então fala logo.

— Pequena. Quero que venha morar comigo. Eu sei que é muito cedo, e não te peço agora, mas quero que saiba que te amo de verdade. Morar não aqui. ,– Ele apontou para a minha casa. — Morar na fazenda, onde Nicolas pode crescer longe dessa loucura toda.

— Não vai ser fácil James. – Desviei os olhos dele. — Ele já tem nove anos, e as vezes não é divertido criar um moleque que te questiona.

— Ele precisa de uma figura paterna. E.. eu sei que não sou o pai dele. E que as vezes vou ficar chateado com isso. Seu pai precisa descansar de tudo isso meu amor. – Ele brincava com uma mecha de cabelo meu. — Se quiser tornar as coisas mais oficiais.

— Não estamos no século dezenove James. – Repreendi ele.

— Fala isso pro seu pai. – Ele ficou sem graça. — Por favor, pensa nisso. Se aceitar posso cuidar de tudo para nós.

— Façamos assim – Beijei a mão dele. — Quando Andreas e o esquadrão suicida estiver nas grades, e se você me prometer ficar bem, daremos esse passo juntos.

— Tem uma coisa que preciso te contar. Não hoje. Amanhã pego o Nicolas na escola. Combinamos de comer um sorvete. Te pego no escritório.

Nos beijamos por um longo tempo, James com medo do meu pai sair para fora, ou Nicolas estar vendo tudo. E eu rindo internamente.

Era uma adolescente de novo. Puxei o ar com força enquanto ele ligava o carro e partia. Estava voltando pelo caminho de pedra até minha casa quando meu celular tocou. Não vi o número. Atendi animada.

— Pequena. Quanto tempo.
— Padrinho?
— Me escuta. Você foi esperta garota. Quero que saiba que te amo muito minha menina. E que se algo acontecer quero pelo menos te dar um último abraço.
— Você foi mal. – Meu olho deu uma tremidinha de nervosismo. — Aquela garota seria sua presa.
— Aquilo foi uma emboscada pequena.

Pequena na boca dele me dava arrepios. Não sabia se gostava mais desse apelido.

— Estou escondido na empresa. Mas devo sair em dois dias. Se quiser mais informações tem esse tempo para me procurar. Te amo Marjorie.

Ele desligou. Era um número privado. Puxei o ar com força. Entrei em casa correndo e fui encontrar meu amigo fazendo a tarefa do meu filho.

— Mãe? – Nicolas tomou o caderno.

— Ele disse que estava com dor de cabeça. – Ben jogou o lápis em cima da mesa.

— Nicolas me escuta. Você é responsável pela sua tarefa. Quando for juiz não vai querer que um advogado fique no seu lugar. Porque será sua tarefa. Agora sobe e termina sua lição.

— Desculpa mãe. Desculpa Ben. – Ele fez biquinho.

Nicolas correu até mim e me abraçou bem apertadinho. Perdi um bom pedaço da infância dele, mesmo que por um bom motivo. Não o vi dar os primeiros passinhos, ou as vacinas, não vi os dentinhos dele nascer. Rita foi a estrutura dele, sorte que ela decidiu me deixar curtir essa parte dele. James tocou na minha ferida. Nicolas ainda não tinha a vida que eu idealizei. Passava muito tempo em casa, jogando, lendo o livro de códigos penais ou falando sobre coisas de adulto.
Queria ver meu filho correndo, andando de bicicleta, colocando pipa no alto. Mas também não sabia como faria isso sozinha. Ben fazia mais o papel de irmão mais velho, e era facilmente trapaceado por qualquer criança. Meu pai não tinha mais idade para bancar o pai. James era firme, mas também sabia dar a atenção e o carinho necessário. E o melhor, tinha uma fazenda onde Nicolas iria crescer. Agora o pior era falar com meu pai e com o Ben.

Ben decidiu que Nicolas precisava relaxar. Foi até o quarto dele e deixou Nicolas assistir um filme depois dos deveres é claro, enquanto eu me revirava de nervosismo. Meu padrinho me ligou e queria falar comigo.

Eu até ia falar com a Rita, mas ainda bem que  olhei para dentro do quarto antes de bater. Ela estava de namorico com meu pai. Abri a porta de uma vez, fazendo eles dois se afastar. Velho safado, paguei com a mesma moeda.

— Pai. – Olhei para a mão atrevida dele. – Tudo bem por aqui?

Rita era a paz encarnada. Agora meu pai devia bonito na praça.

— Estava perguntando como Rita está. – Ele ficou em pé.

— Está bem melhor agora. Com tantas flores, e coisinhas que você compra para ela. – Encarei meu pai. — Corta essa pai, deixa que bancar o adolescente. Rita já me contou tudo.

— Achei que não aceitaria. – Ele desviou os olhos de mim.

— Claro que aceito. Numa boa. E depois que tudo isso se ajeitar daremos um jeito nesse namorico de vocês dois.

Rita sorriu. Ela merecia toda a felicidade do mundo. Estava se saindo bem e merecia uma vida nova. E meu pai era um velho inteirão.

Fechei a porta para dar privacidade aos pombinhos, na mesma hora que Ben fechou a porta do quarto do Nic.

— Ele dormiu.

— Vem. Precisamos conversar.

Conversar com Ben era a melhor coisa do mundo. Deitei na minha cama, e ele estendeu minha coberta no chão e deitou. Meu cabelo pendia para o chão e Ben passava os dedos desfazendo os nós.  Ele me contou meio por cima que Helen estava nervosa, contou que apanhou. Era uma briga de casal. Pelo menos era isso que ele falava. E eu contei a minha ligação recente. Mas deixei de lado a mudança para a fazenda. Quando tudo acabasse James podia perceber que era só cumplicidade e eu precisava ter mais certezas para dar esse passo.

— Caramba pequena. – Ele congelou os dedos no meu cabelo. — Pode ser uma emboscada. Aqueles caras são ninjas Italianos.

— Eu sei. – Cruzei os dedos. — Ele disse que tinha informações.

— Você vai até ele? – Ele voltou a mexer no meu cabelo.

— Não. Claro que não. – Era uma mentirinha.

Ben continuou por mais um tempo e foi parando aos poucos. Quando o olhei, ele estava dormindo. Como seria bem mais fácil estar com ele. Eu conhecia cada cantinho do rosto dele. A boca levemente curvada nos cantos. Algumas marquinhas de espinhas. O cabelo loiro com cachos que ele escondia mantendo os fios esticados e fixos. Ben era o sonho de qualquer mulher. E foi o meu por muito tempo, não tive coragem de falar por medo de ser rejeitada e ter nossa amizade destruída.

A mão dele ainda estava esticada, peguei nela e fechei os olhos. Caí no sono.

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora