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- Pensa, pensa, pensa pensa. -Helen batia com uma mão na cabeça, era impossível não tremer de medo.

Os carros estavam quase emparelhado com a gente, dava pra ver o brilho da arma que iria matar um por um quando Helen perdesse a cabeça de vez. Ouvi um estalo dentro do carro, aliás todos ouviram, cada um procurou na mão do outro, até encontrar meu pai, ele tinha destravado uma arma preta e estava abrindo o vidro da janela em que estava.

-Pai, não faz isso, se abrirmos fogo contra eles, vamos morrer. - Segurei no braço dele debilmente. -Não faz isso.

-Não temos escolha menina, se eu não fizer isso não vamos conseguir chegar a tempo e sair do país. Você tem que confiar em mim.-Ele tentava tirar a minha mão.

-Não! Você vai morrer. -Comecei a chorar abertamente.

James tomou a arma da mão dele gentilmente e abriu a janela também, e para o espanto de todos saiu até a cintura e deu o primeiro tiro. Cobri as orelhas e abaixei no banco sentindo cada nervo do meu corpo fincando rígido. Nada aconteceu, ou pensávamos, até que o carro de trás perdeu o controle e saiu da pista. James entrou xingando, nosso olhar se cruzou por um instante, e eu sorri para ele, e recebi um sorriso ainda maior, Ben pigarreou e desviamos o olhar.

Helen fez uma curva aberta e anunciou que a gente estava chegando, mas ela precisava deixar o carro e a gente seguiria a pé. Cada um pegou pegou a sua mala e correu. Helen ia na frente, Ben atrás dela, eu e James mais atrás e meu pai cobrindo a gente.
Corri feito louca quando ouvi a freio do outro carro.
Uma mulher morena como eu estava nos esperando na frente de um armazém abandonado, ela fez sinal para que a gente a seguisse. Havia outro armazém nos fundos, mas esse dava em uma pista de avião abandonada.

-Entrem logo, fechei o portão, mas logo eles conseguiram entrar.-Ela dirigiu à palavra ao James.

-Depois de você. -Os dois se olharam por um breve tempo.

Todo mundo entrou, ela fechou a porta e no exato momento em que todos sentamos a porta foi aberta. Quase tive um enfarto quando dois homens armados entraram no avião particular.

-Todo mundo desce agora.-Ele apontou a arma para Helen. -Ou deixem que a advogada fique com a gente.

-Não! -Ben se levantou, - Eu fico.

-Benjamim! Não pense nisso. -Senti o medo congelar meus pulmões.

-Então vamos começar pelos mais velhos, -O mais baixo apontou a arma para o meu pai.

-Pai. -Ele apesar de tudo se mantinha firme.

Foram segundos de total pressão, eu não queria perder meu pai, tampouco meu amigo e ou até mesmo aqueles que conheci a tão pouco tempo. Em silêncio caminhei até eles e desci os degraus. O frio golpeou meu rosto e congelou minhas lágrimas. Apesar de tanto medo me mantive firme.

James pronunciava palavras mudas, não, ou até mesmo, por favor. Não tinha o que fazer, era pegar ou morrer.

{James }

Ela foi até eles, exatamente o que eu mais temia. Aquela mulher que salvou a minha vida, dançou comigo e me fez completo outra vez, tomou toda a coragem que eu não teria e partiu. Tentei dizer para não ir, por favor, mas ela se mantinha resoluta.

-O que vamos fazer? -Perguntei. -Ela não pode ficar.

-Minha pequena. -O pai dela colocou a mão na cabeça. -Não posso fazer nada, se eu der um tiro ela morre nas mãos deles.

Benjamin estava em choque, os olhos dele eram duas bolas verdes enormes, Helen xingava todo tipo de palavrão. Quando eles estavam cobertos pela escuridão eu me movi, tirei a arma da cinta e fui se a porta do avião, esperei minha visão se acostumar com o breu e pisei no primeiro degrau.

Um tiro, vi alguém caindo de joelhos, tentei em vão ficar calado, mas não deu, ela estava lá com eles, a prova viva precisava ser silenciada. Desci os degraus tão rápido que cai no chão, rastejei até pegar a arma de novo e ouvi outro tiro, dessa vez veio acompanhado de um grito, estridente de mais para ser um homem.

-Marjorie! -Corri abaixado até o ponto mais escuro.

Ela estava deitada, coberta de sangue, me abaixei e com as mãos atrapalhadas arrastei ela para fora dali. Marjorie estava chorando.

-Vai ficar tudo bem! - Me preparei para ver onde ela foi atingida.

-James, meu Deus, eles estavam me puxando e... -Ela sentou.

-Não. Por favor, vamos dar um jeito, não senta.-Deitei ela de novo, estava tremendo tanto que minha voz saia trêmula e estrangulada, junto das primeiras lágrimas.

-Mas eu não fui atingida.-Ela pegou minha mão e apertou.

-Não? -Comecei a procurar os furos.

-Não. Eu estava tentando dizer que um deles estava me arrastando pelo cabelo, eu tropecei e caí de joelhos, aí eu vi pela fenda que alguém tinha entrado, quando tentei dizer o que estava me puxando foi atingido, e me sujou de sangue. O outro viu o tal homem, mas também foi atingido. Estava escuro, e eu não via nada, nem sei onde eles estão. ...-Ela voltou a chorar.-Eles morreram na minha frente. - Marjorie me abraçou com tanta força e enfiou a cabeça no meu peito.

{Marjorie }

Ainda estava chorando quando ele me puxou para o seu colo e me deixou ali, chorando até as lágrimas acabarem. Depois limpou meu rosto com a manga do blaser preto, me senti uma criança outra vez.
James pegou meu rosto com as duas mãos e beijou a minha testa. Era quente e delicado, mas não passou disso, ele me levantou e entrelaçou nossos dedos.

-Nunca mais vou te perder. -Não disse nada, as palavras dele pareciam uma promessa.

Quando entrei no avião meu pai quase me arrancou das mãos dele. Me deu um abraço dolorido e um tapinha na cabeça. Helen e Benjamin fizeram um decurso de como nunca mais fazer as coisas sozinha, mas depois ganhei mais Abraços. A única desgostosa com o meu retorno foi Nadja, que se limitou a um aceno de longe e se trancou na cabine.

Escolhi meu acento ao lado do meu pai e fechei os olhos, senti o aperto seguro dele na minha mão, deixei meu corpo vagar para um futuro em que teria meu pequeno Nicolas comigo e tudo isso não passaria de uma história para ele dormir...

Meritíssimo Juiz  @PremioshakeOnde histórias criam vida. Descubra agora