Almas

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O mundo é complicado, é esse pensamento que não saia da minha cabeça desde que eu me formei no ensino médio, tudo tem uma forma específica de ser ou agir, pessoas alegres dão sorrisos e são bem humoradas, pessoas tristes andam com os olhares pra baixo e ombros quase ao chão, porque eu não posso sorrir e estar triste?

Mas eu posso.

É por isso que nunca me adaptei bem as normas de sobrevivência da humanidade, aqui onde eu moro tem uma certa crença estranha, não crença...mas é...complicado, nascemos com a inicial da nossa alma gêmea grudada em nossa pele, é como uma tatuagem.

São coisas como: A.M ou S.U e várias outras.

Atualmente tenho 20 anos e não faço idéia de qual seja a inicial no meu ombro, eu a cobri quando tinha quinze com a autorização da minha mãe, ela me chamou de louca mas aceitou meu pedido, eu... não acredito em almas gêmeas, não acredito em nada que me pregue uma falsa realidade.

Não é porque o nome da pessoa está na sua pele que ela é perfeita pra você.

Assim como ser mãe não te faz uma boa mãe, ou ser cozinheiro, você precisa praticar e se dedicar.

O amor é assim, eu acredito que tudo é construído com o tempo, principalmente um sentimento tão confuso, complexo e bonito como o amor.

Portanto, saber quem é minha alma gêmea seria um saco.
Eu não quero ter a responsabilidade de nada, se por acaso eu a encontrasse um dia, mesmo eu não acreditando nisso, caso ela fosse infeliz comigo....eu não acharia ruim que me largasse, mas as pessoas acham que por ser sua alma gêmea ela é obrigada a ficar com você pro resto da vida.

Patético.

— Eu deveria parar de pensar tanto— Balancei a cabeça e encarei a porta de vidro, eu estava na entrada de um café que tinha no centro da cidade, é bem perto do meu trabalho então eu venho aqui com frequência— Bom dia— Acenei pra atendente que estava no balcão, ela se chamava Hinata, e como sempre estou por aqui acabei criando uma amizade com ela, conversamos bastante e até saimos juntas de vez em quando, e também somos primas— Acho que me atrasei dessa vez— Dei um sorriso.

— Atrasada....ah... três minutos— Sorriu também— O de sempre?

— Por favor— Peguei um canudo no balcão e abri o pacotinho com os dentes— Vou esperar na mesa perto da janela.

—  Tudo bem, levo seu pedido em cinco minutos— Disse se abaixando para pegar os bolos na vitrine.

— Certo— Peguei outro canudo e caminhei até a mesa do fundo, ficava perto da janela e de lá eu conseguia ter uma boa visão da rua, gosto de olhar as pessoas passarem, é divertido imaginar todas como um personagem de vídeo game onde cada um tem a sua missão.

Elas parecem bem ocupadas....

Peguei meu notebook e coloquei em cima da mesa, meu trabalho é simples, ou melhor, é simples pra mim, eu escrevo livros e tenho prazos pra entregá-los, o contrato com a editora é de dez anos, acho que terei muita coisa pra escrever até lá.

E no momento estou no meio de mais uma publicação, meu novo livro vai ser lançado no próximo mês e eu preciso escolher uma entre todas as capas que eles me deram como opção, são cinco e sinceramente essa é a tarefa mais difícil de todas.

São todas muito bonitas.

— Aqui seu pedido— Hinata apareceu do meu lado, ela deixou uma bandeja na mesa, havia bolo de laranja com cobertura de chocolate, um pedaço de pudim e um suco de laranja com bastante gelo— Mais alguma coisa?

— Por enquanto não, obrigada Hina— Agradeci e fiquei olhando ela voltar para trás do balcão.

E falando em livros...eu não uso meu nome, também não gosto de mostrar meu rosto, nunca fui em uma publicação como o centro da festa, eu tenho uma representação e só vou para ver como tudo está indo.

𝐀𝐋𝐌𝐀𝐒 𝐆𝐄̂𝐌𝐄𝐀𝐒 𝐍𝐀̃𝐎 𝐄𝐗𝐈𝐒𝐓𝐄𝐌Onde histórias criam vida. Descubra agora