Estágio: Parte não sei qual

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Eu errei todas as vezes.

Passei o resto do dia atirando naquela merda, e eu errei todas as vezes.

Tudo que eu consegui fazer foi melhorar minha mira nos manequins, atirar nos produtos de limpeza (depois de várias tentativas) e aumentar minha frustração junto com o número de buracos de bala na parede cinza.

Quem diria que uma tampinha de garrafa é assim tão difícil de acertar.

Chloe tentou apaziguar minha frustração, dizendo que ela mesma tentou várias vezes com a snipe antes de conseguir. Mesmo assim, nada aliviou a frustração dentro de mim.

No final do dia, quando Matthew estava suado e sangrando e meu irmão estava com um sorrisinho satisfeito, os gêmeos apareceram. O por do sol deixava a fábrica com um aspecto dourado quando Vic bateu com um aglomerado de latinhas de cerveja no corrimão de ferro no topo da escada.

O som reverberou pelo espaço vazio e nos obrigou a olha-la. Seu sorriso estava de orelha a orelha quando indicou as cervejas com um movimento simples de mão.

- Hora de celebrar! - ela disse.

Chloe deu um risinho nasalado ao ver a melhor amiga e, dando um tapinha final de consolo no meu ombro, foi ao resgate das cervejas. Fui andando atrás dela, parando no meio do caminho para entregar uma toalha a Matt.

- Celebrar o que, exatamente? - meu irmão perguntou.

Durante seu treino com Matthew, ambos tiraram a camiseta por causa do esforço extra. Não tinha percebido isso, dado pela minha concentração irredutível na maldita tampinha, até Vic chegar.

Tentei conter o arrepio que me correu pelo corpo ao observar as milhares de cicatrizes nas costas do meu irmão. Cicatrizes de chicote e de faca, percebi um segundo mais tarde.

Um peso sombrio pesou meu estômago. Quão pouco ou conhecia meu irmão? Quanto de sua história ele havia deixado em branco ao me contar sobre seu tempo em Perduti?

Deveria pergunta-lo?

Para evitar vomitar o meu almoço, me concentrei nos seus músculos bem definidos e bem maiores do que eram da última vez que o vira sem camisa (quase uma década atrás) e em suas novas tatuagens. Meu irmão mais velho cresceu.

- A vida, meu velho amigo... - Gatto respondeu de trás da Vic, segurando pacotes de salgadinhos.

Suspirei uma risada quando Leo fez uma cara engraçada pra mim e ofereci a toalha para o loiro. Matthew a aceitou no exato instante em que o gêmeo levou algum zingo do meu irmão, me dando um sorrisinho grato ao pega-la. Não ignorei a careta que ele fez ao levantar o braço para pegar.

Tive que lutar com todas as minhas forças, e falhar miseravelmente, para não olhar para os músculos do peitoral e abdomen do loiro. Odiei admitir, mas ele de fato era um gostoso.

Por um segundo simpatizei com as garotas que haviam caído por ele, principalmente quando ele estava suado.

Ele era forte, e com certeza bem definido, mas isso normalmente não mostrava quando estava completamente vestido. Talvez só seus braços fossem a única parte que eu já estava acostumada em ver descobertos. Ele era magro, talvez até mais magro que eu. Ao redor do seu corpo inteiro vários roxos e vermelhos se dispunham, e seu ombro direito parecia ter sido deslocado. Lucas provavelmente tinha alguma raiva acumulada.

Teria que ter uma conversinha com o meu irmão sobre ele usar meu parceiro como saco de pancada...

Não consegui ignorar um corte recém fechado, e ainda vermelho, no quadril esquerdo do garoto. Esse com certeza fora obra de algum dos homens do Capitão.

A Verdadeira História de Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora