A Verdadeira História de Uma Assassina

Explicações

- Bom, como eu posso colocar isso de maneira simples... - Gatto começou, se mexendo desconfortavelmente em sua nova cadeira. Eu senti o gemido de dor que ele conteve na garganta quando mordeu os lábios com força o suficiente para sangrar. Também senti o palavrão reprimido que quase proferiu a si mesmo por se mexer com um curativo quase aberto.

- A gente fodeu com tudo! - Vic cuspiu, em português claro para que entendêssemos - E eu sinceramente acho que Prata vai matar a gente.

- Só depois de acabar de rir da nossa cara, Victória. - Gatto completou com um sorrisinho maroto, acalmando a irmã - Mas sim, a probabilidade daquele infeliz tá puto é muito grande.

Algo em meu peito se afrouxou ao mesmo tempo que um nó no meu estômago começou a se formar. No começo da semana, Gatto e Vic mantinham uma face formal em nossa presença, evitando palavrões, conversas erradas, comentários sobre Bloody e até birras de irmãos. O fato de eles estarem confortáveis, e bem, o suficiente para agir de forma normal a nossa volta indicava que tínhamos passado uma linha juntos. Não éramos mais estagiários e tutores. Éramos parceiros.

Mas por outro lado, essa conversa toda sobre Prata me deixou a beira do pânico. Os gêmeos estavam no topo da hierarquia de Bloody, e era esperado grandes feitos deles. Se, o que quer que tenha acontecido, tenha de alguma forma irritado Prata... Será possível que ele realmente os mataria?

O que gerou mais uma dúvida: o que o capitão havia dito (ou, começado a dizer, expressando-me melhor).

Não disse nada, só esperei que os irmãos se organizassem e começassem a nos contar o que as últimas 48 horas foram.

- Em teoria, isso tudo era para ser seu último teste. - Vic falou, rápida e seca, como se estivesse tirando um Band-Aid - Mas só em teoria.

Senti os ombros de Matthew tencionando na mesma velocidade que os meus, o pânico e a raiva se misturando em um só. Eu me senti traída, perdida e, de alguma forma, aliviada. Muitos sentimentos, a maioria muito comum quando estava perto da minha família, estavam agindo dentro de mim de uma só vez, estudando uma possível resposta. Nenhuma delas era comportada ou no mínimo decente, então mordi meus lábios.

Com sorte, Leo percebeu que eu estava prestes a explodir e emendou rapidamente.

- Mas o plano foi por água abaixo graças a uma traição de dentro da Bloody. - ele justificou.

Minha raiva foi redirecionada agora, e o sentimento de tristeza deu lugar a duvida.

- Nosso plano era deixar pistas que só alguém bem perceptivo conseguiria entender, nos mover para um contato antigo da Bloody e esperar até que vocês os encontrassem, dentro de um tempo limite. - Victória explicou - Mas como Leo disse, tinha alguma maça podre dentro da gangue e, ao invés de nos passarem o número do real contato leal a nós, passaram o contato do Capitão Shadwell.

- Pra contexto... - Gatto interrompeu - O Capitão tem um ódio mortal pela Bloody, mais especificamente pelo Prata. Tudo por que ele nos culpa por sua expulsão do exército.

Ergui minha sobrancelha, não ousando interromper os irmãos, mas deixando minha duvida clara.

- No passado, Shadwell era Capitão das Forças Especiais do exército, e foi direcionado em acabar com a gangue Bloody. - a irmã começou, vendo minha cara - Um ato de incrível honra, dado apenas aqueles que se provaram corajosos e eficientes às Forças. Ninguém conseguiu, óbvio, mas isso não impedia ninguém de tentar, e não impedia o exercito de distribuir a tarefa.

"O problema é que o Capitão ficou obcecado com isso. Nada nem ninguém era capaz de tira-lo do seu objetivo de ser o primeiro a acabar com a maior gangue do mundo. Um objetivo nobre, a primeira vista. Com o tempo, seu entusiasmo foi se espalhando por toda sua unidade, e eles começaram a ser nomeados como "Obsessores". Ninguém além deles no exército inteiro compartilhava do mesmo desejo doentio, mas nunca haviam os parado por que ele usavam de métodos justos e completamente legais.