A Verdadeira História de Uma Assassina

As ruas de Bloody Rise

Lucas

A cidade era mais úmida do que eu me lembrava, e as ruas eram mais frias também. Talvez por causa do meu tempo na Nuova Italia eu tenha me esquecido de como Nova América era, principalmente nessa época do ano.

Mas ainda assim, a nostalgia deixava o meu peito aquecido conforme escutava meus passos ecoando ao lado dos de Amélia pela rua.

Minha sorellina.

Seus olhos pareciam brilhar mais nas luzes neon de Rise, a deixando com um aspecto mais mortífero e vivo, como um lobo sob a pele de um cordeiro.

Um lobo dourado e temível.

Seus olhos encontraram os meus, fazendo meu coração doer com as memórias de quando ela era pequena e fazia o mesmo, pedido para eu carrega-la para cima e para baixo da casa.

Será que algum dia eu me perdoaria por tê-la deixado nas mãos daqueles monstros?

- O que foi? - ela perguntou, quando eu não parei de encará-la.

- Como surgiu a ideia de se tornar uma assassina, Piccola? - perguntei, desesperado para saber alguma coisa, qualquer coisa sobre a vida da minha irmãzinha.

Foram tantos anos separados, tantas cicatrizes e traumas para nós dois que muito foi mudado entre nós. Sobre nós. Eu precisava conhecer a minha irmã novamente e eu me agarraria em qualquer oportunidade de faze-lo.

Mas, para a minha surpresa, a pergunta pareceu a pegar de maneira desprevenida. Seus olhos se arregalaram, antes dela franzir a testa e voltar a olhar para o chão, pensativa.

- Não sei ao certo como... - ela admitiu, a voz baixa - No começo eu não queria ter uma profissão de "vilã", sabe? Como aqueles vilões de histórias que você lia pra mim Lu. - meu coração se apertou um pouco mais com a lembrança, mas não fiz menção de interrompe-la - Eu não queria ser conhecida por matar inocentes e causar o caos simplesmente por que eu era... "má".

Assenti, entendendo de que ponto a minha sorellina vinha. Eu mesmo tive uma boa onda de debates comigo mesmo e com os outros ao meu redor antes de tirar minhas próprias conclusões sobre a profissão.

No mundo onde vivíamos, apesar de mais fácil, escolher uma profissão ainda era colocar a cabeça numa ghigliottina e rezar pelo melhor.

- Mas então, bambina, por que você escolheu a profissão principal de um... diciamo, vile?

Ela me encarou por um segundo, demorando para associar as minhas palavras com um contexto completo afim de traduzir o italiano. Notei quando ela as encaixou e pareceu as guardar numa lista pessoal de vocabulário.

Chloe havia me dito que minha irmã era inteligente, tinha até me mostrado suas notas, mas eu nunca baseei a inteligência de alguém em suas notas. Números são apenas número, e nenhum deles seria capaz de determinar o seu valore reale. Mas Amélia parecia realmente ter lógica e criatividade. Ser esperta e inteligente. Amore mio. 

Mesmo assim, não queria que minha irmã tivesse que aprender minha língua na marra, pegando pedaços por contexto ou pesquisas na internet. Não... La mia cara sorellina merecia apenas o melhor. Queria que o italiano se tornasse a língua dela quanto tanto havia se tornado a minha e a dos gêmeos, um jeito de escapar e de ser livre. Então adicionei a minha lista mental e interminável de coisas a fazer ensinar minha irmãzinha italiano, mesmo que tivesse que leva-la para Nuova Italia comigo.

- Por que ser uma assassina não necessariamente significa matar inocentes, né? - ela perguntou, me trazendo de volta dos meus pensamentos quando finalmente entendeu as minhas palavras - Quer dizer, pode ser só sobre isso se alguém for mau intencionado, mas isso vale para todas as profissões. O capitão é um bom exemplo disso... - ela murmurou, depois chacoalhou a cabeça, como se quem quisesse manter o foco no assunto principal e continuou - O que eu quero dizer é que, talvez sendo uma assassina eu possa salvar pessoas boas de pessoas ruins, igual ao que você fez pela Vic!