Voltando ao mais normal possível

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Demoramos mais uma semana pra sair do hospício. Contando com recolher os corpos, interrogar os inimigos, curar os feridos e arrumar nossas próprias coisas, foi uma semana. Não ajudei em nada disso, obedecendo a Tia Diane e, pela primeira vez em muito tempo, ficando de repouso.

Meu machucado tinha começado a cicatrizar da maneira certa, sem nenhum pus ou infecção, mas ainda doía para fazer movimentos muito grandes ou agitados. Por isso, no final daquela semana, Amanda não queria ir embora.

Tínhamos acompanhado a todos que Tia Diane tinha trazido para nos ajudar até a estação de trem de Bloody e Amanda tinha se recusado em sair do meu lado. 

Tentei convece-la, mas aquela garota conseguia ser mais teimosa que eu algumas vezes.

Ela insistira em ficar e nos ajudar, em tentar fazer qualquer coisa para não sair do meu lado, mas eu sabia que ela tinha coisas demais para fazer em Fire Falls. Tia Diane também.

Então depois de muita insistência, e pelo menos cinco pessoas argumentando com Amanda e tentando desgarra-la de mim, conseguimos colocar todos no trem de volta para Falls. 

Lucas aproveitou a deixa e, enquanto empurrávamos Nanda para dentro do trem, passou um cartão de visitas pra Tia Diane com seu número pessoal e um número de contato da Bloody. Não ouvi o que disseram, mas o recado era claro: Bloody e o próprio Prata estariam a disposição dela no momento que precisasse.

Logo em seguida, Tia Diane apertou a mão de meu irmão (um gesto raro que só a vi fazer para com as pessoas que ela tinha um alto nível de respeito e admiração) e subiu no trem, chamando Amanda para ir logo.

Minha melhor amiga me abraçou uma última vez e me beijou na bochecha, implorando para que eu melhorasse logo e da forma correta. Sorri e concordei, já sentindo o peso da saudade pairando no ar.

Observei os cachos vermelho-fogo de Nanda enquanto ela subia no trem, e adimirei em silêncio a sua beleza ao lado da mãe. Mas a cena foi interrompida quando Lucas se aproximou da porta do trem.

Algum tipo bizarro de pânico se instalou em minhas entranhas com o simples pensamento de meu irmão entrar no trem junto com elas e me deixar para trás novamente, e considerei me jogar a seus pés e implorar que não fosse.

Mas para a minha agradável surpresa, ele parou no limite da estação. Bem de frente para Amanda. Não me toquei do que estava acontecendo até ele começar a conversar com a minha amiga.

- Faz muito anos desde a última vez que te vi, Amanda... - ele disse suavemente - Mas fico feliz que você cresceu feito uma bela signora de respeito. Fico mais feliz ainda por você sempre ficar perto e proteger minha sorellina. Mas daqui em diante a gente assume, okay? - ele apaguizou-a com um sorriso - Você tem talento, Amanda, talento de verdade! Quando sair da faculdade, saiba que sempre terá um lugar dentro de Bloody esperando por você...

Os olhos de Amanda se iluminaram tanto que pareciam luzes de Natal. Ela olhou para a mãe, surpresa e orgulho brilhando em suas esmeraldas quando a mãe assentiu, igualmente orgulhosa.

- Muito obrigada Luc-, quer dizer, Prata! - ela assentiu e meu irmão lhe devolveu um sorriso encorajador - Espero poder trabalhar com você algum dia. Vocês dois...

O olhar dela encontrou os meus e, por um segundo, me permiti sonhar com um futuro daqueles.

Amanda e eu fazendo algum tipo de plano louco para uma invasão de um prédio perigoso, ou para nos infiltrar numa festa de gente rica, ou para simplesmente encontrar algum alvo que eu precisaria matar a pedido do Lucas.

Já imaginava com clareza o Matthew zombando de uma das nossas ideais. O Leo provavelmente bateria nele, mas depois diria que o nosso plano realmente parecia uma bosta e nós teriamos que começar tudo de novo.

A Verdadeira História de Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora