A Verdadeira História de Uma Assassina

Surpresas

Chloe estava tão bonita quanto da última vez que a tinha visto, na plataforma do trem.

Com uma jaqueta de couro simples combinando com as botas de salto alto, as calças jeans escuras e o cabelo loiro preso por uma tiara ela até parecia mais jovem.

Mas seus olhos não podiam estar mais diferentes. Aqueles olhos verdes, que antes tinham aquele leve tom de azul misterioso, nunca estiveram mais limpos. Nunca estiveram mais decisos e precisos.

- Amélia Stones... A mais inteligente da turma e a mais mentirosa também! - ela sorriu, o mesmo sorriso doce de sempre - Você realmente é a versão feminina do Lucas!

- Professora...? - Amanda murmurou confusa, ainda do meu lado.

Minha raiva só estava aumentando conforme mais pessoas do meu dia a dia apareciam pra me puxar o tapete.

- Pelo visto eu não sou a única mentirosa, Chloe... - me recusei a virar pra encara-la - Qual é a sua relação com ele então? Eu imagino que pra conseguir esse estágio pra mim de maneira tão rápida e fácil, além de ter o contato pessoal dos gêmeos, você deve ter alguma relação com o meu irmão...

Minhas palavras eram praticamente cuspidas, como o veneno que corria nas minhas veias ao invés de sangue.

- Não acho que importa agora... - ela murmurou, dando de ombros enquanto se aproximava.

Claro que não importa...

- O que eu vim fazer é ver como vocês estavam. A gente ficou preocupados com vocês.

Ela estava falando com os gêmeos, me ignorando completamente.

Eu sabia que se eu ficasse lá por mais tempo eu ia estourar e ia ser feio, além de ser visível que ninguém naquele lugar ia me dar uma resposta clara sobre o que estava acontecendo. Então, fiz a única coisa que era capaz e sai dali... Como uma covarde.

- Amélia... - Vic tentou me chamar.

- Foda-se, não é importante mesmo... - eu murmurei com raiva, batendo o pé pra longe como uma criança mimada.

Se tinham ouvido ou não, já não era mais da minha conta. Eu queria bater em alguma coisa com uma foto minha pendurada. Que ódio... por mim mesmo acima de tudo.

Eu escutei Amanda e Matthew falando alguma coisa, direcionada aos adultos da gangue, mas minha raiva me proibiu de ouvir.

Acho que eles me seguiram, mas também não me importei com aquilo.

Eu precisava de ar.

- Amélia! - Matthew chamou, tentando me acompanhar junto de Amanda.

Os ignorei e segui em frente, apertando o passo e virando um corredor, depois outro e mais outro.

Não sabia mais onde eu estava, mas continuei andando.

- Amélia, calma! - Amanda pediu, tentando ainda me alcançar, mas eu me impedi de parar.

As lágrimas de puro ódio caiam com tudo pelas minhas bochechas. Se eu parasse agora, não conseguiria viver com a vergonha de ter sido vista por Matthew no meu estado.

- Cai fora... - eu sussurrei, alto o suficiente para que eles ouvissem.

- Não, a gente não vai pra lugar algum! - Matthew insistiu, finalmente me alcançando e pegando meu braço. Seu toque era gentil, mas forte. Não forte o bastante para me machucar, apenas o suficiente para que eu não avançasse. Se eu quisesse, poderia facilmente me desvencilhar dele e continuar em frente.

Mas isso envolveria mais esforço do que eu era capaz de dar naquele momento. Minha raiva era grande, mas seu combustível estava acabando e dando lugar a aquele sentimento amargo que eu odiava: traição.