O quartel de Bloody

81 14 2
                                    

Eu não sei o que eu esperava da base da maior gangue do mundo, mas com certeza não era um sistema de metrô abandonado e modificado.

Olhei em volta, surpresa ao ver o tamanho do lugar subterrâneo.

Gatto tinha cochichado, momentos mais cedo conforme seguíamos meu irmão e o trio misterioso pelas escadas que nos levariam a base, que o sistema de metrô cobria toda a parte inferior de Bloody Rise.

Aparentemente, cada túnel tinha uma finalidade, e até mesmo alguns carrinhos abandonados de metrô ainda serviam como escritório ou base de treino.

Era impressionante ver como a gangue mais temida do mundo conseguia reutilizar uma cidade subterrânea inteira a seu favor.

Inspirei o ar frio e úmido de uma Bloody chuvosa conforme desviava de um chiclete mascado na escada principal. A entrada era como qualquer outra entrada de transporte subterrâneo que já vira antes, mas o aviso que as linhas e os trens estavam desativados estava claro.

A primeira vista, tudo parecia normal. Tão normal e tedioso quanto qualquer estação em qualquer lugar do mundo, senão um pouco mais porca. Os pilares de concreto tinham pichações meio apagadas pelo tempo, e as luzes fluorescentes piscavam de vez em quando pelos corredores mofados.

Até mesmo alguns anúncios antigos — a maioria de antes mesmo da Nova Era — saiam de suas molduras rasgados pela umidade. As goteiras e poças d'água ocasionais provavam meu ponto.

Conforme descíamos as escadas, indo mais e mais adentro da antiga plataforma, menos aspectos da imunda Bloody Rise eu via.

Menos drogados e menos putas pelos corredores. Menos traficantes que, ao ver o cabelo do meu irmão ou o cigarro apagado na boca de Gatto, curvavam as cabeças em medo e respeito.

Menos ratos, goteiras, pichações e luzes piscando.

Menos chicletes mascados.

Aos poucos fui vendo diferenças sutis. Mais reformas, como paredes relativamente novas, chão polido, sem rachaduras ou sujeiras. Luzes novas e tão brancas quanto os dentes de uma Miss Universo.

E mais frio também. Tão frio que quando chegamos a um certo ponto das alas reformadas eu conseguia ver a minha respiração condensando na minha frente.

Olhei ao redor e comprovei que eu não era a única sofrendo pelo frio.

Matthew, andando atrás de mim, estava com a jaqueta bem fechada na frente do corpo e as mãos no bolso, seus dentes travados para não baterem.

Vic e Gatto, ambos andando atrás de nós como se nos guardassem contra qualquer perigo, tinham produzido luvas e cachecóis de dentro de seus agasalhos, e pareciam completamente a vontade no clima antártico.

Na frente, o trio que continuava um pouco atento quanto a Matthew e eu, pareciam igualmente confortáveis apesar da temperatura baixa. Eles estavam acostumados com aquilo, sem dúvida.

Ainda mais a frente, Lucas e Chloe andavam lado a lado, comandando nosso grupo em um silêncio tenso e focado. Eles mal pareciam perceber que a temperatura ao nosso redor tinha caído drasticamente.

Tentei encontrar o conforto na personalidade gélida de sempre — aquela que tinha aprendido a não sentir nada para não ser fraca — mas só encontrei mais frio em troca. Meus dentes começaram a bater e a ecoar junto com os nossos passos.

Só andar não era exatamente um bom jeito de me aquecer.

- Com frio, Pirralha? - Gatto perguntou, se aproximando um pouco mais de mim.

Vi quando Victoria se aproximou do irmão e perguntou algo parecido.

- Um pouco... - respondi sincera, a voz pouco além de um sussurro.

A Verdadeira História de Uma AssassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora