Ressaca

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Izzy Ballard-Hunt

Abro meus olhos e os cubro com uma mão, sinto um cobertor grosso me cobrindo e viro de costas para a janela para ver Ian com um caderno na mão e o lápis. Respiro fundo e começo a me sentar sentindo uma tontura por causa da bebida.

-Que horas são?- minha voz sai rouca.

-Uma da tarde.- fala sério e nem olha para mim.

-Uma?- começo a levantar e percebo que estou com um pijama largo.

-Sim.- fecha o caderno.- Suas roupas estão ali.- aponta para a ponta da cama.

-Você dormiu onde?- me abraço.

-Não dormi muito.- explica.- Você pode se vestir logo?

-Posso.- pego minhas roupas e vou até o banheiro.

Entro e afasto os cabelos do rosto enquanto apoio a roupa em cima da pia, fecho os olhos com força e abro a tampa da privada, amarro meus cabelos rapidamente e não consigo segurar.

Coloco tudo para fora e começo a suar frio sentindo meu corpo todo falhar, minhas lágrimas descem pelas bochechas e agarro as bordas da privada. Sinto a mão de Ian nas minhas costas e ele fica bem atrás de mim.

-Aqui, bebe isso.- ele mostra o copo d'água.

-Não...- afasto.

-Bebe, Isabella.- ele ergue meu queixo e começo a beber.

A água faz minha garganta ficar molhada e fecho os olhos me sentindo melhor, deito a cabeça no ombro de Ian para descansar. Ele parece surpreso e dá tapinhas nas minhas costas para me deixar tranquila.

-Desculpa.- sussurro e ele parece parar de respirar.- Eu invadi totalmente o seu espaço pessoal.

-Tudo bem...

-Não, eu odeio quando fazem isso.- sinto o cheiro do perfume dele.- Desculpa.

-Desculpas aceitas.- ele fala mais leve.- Acha que vai vomitar mais?

-Não.- balanço a cabeça.- Só estou me sentindo mole.

-Acho melhor você tomar um banho para acordar.- consegue me levantar.- Fica em pé?

-Sim, acho que sim.- me apoio na parede.- Eu consigo.

-Vou estar na porta.- ele abre a porta e me observa.- É só me chamar.

-Ok.- abro o box.

Tiro o pijama e então a lingerie, respiro fundo ao abrir a água gelada e entrar de baixo dela. Fecho os olhos e coloco os cabelos para trás sentindo a água passar pelo meu corpo lentamente.

Com os olhos fechados, eu lembro do que aconteceu ontem e faço careta me sentindo uma idiota. Olho por cima do ombro e vejo a porta meio aberta, consigo ver a nuca de Ian pela fresta.

Deslizo na água e bato meu corpo de lado, do mesmo lado do braço ferido, solto um gemido baixo e sangue começa a cair na água. Olho de novo para a porta e Ian parece perceber isso.

-Você está bem?- pergunta.

-Bati meu braço.- tiro a bandagem.- É só fazer pressão.- desligo o chuveiro e puxo a toalha.

-Aqui.- ele pressiona o meu braço enquanto me seco.

-Eu fiz algo ontem?- pergunto baixo e Ian me encara.- Eu não consigo lembrar bem.

-Não, você não fez nada.- ele me ajuda a sair do box.- Só bebeu meu uísque.

-Desculpa.- fecho os olhos com vergonha.

-Tudo bem, Iz.- ele fala e o encaro.- É, sério.

-Ok.- começo a tremer de frio.

-Olha, esquece essas roupas.- ele pega as minhas.- Eu vou pegar umas quentes e vou pedir alguma coisa para você comer, então vou deixar você em casa, ok?

-Ok.- assinto.

Ele sai do banheiro e me enrolo mais forte, ajeito o papel que ele colocou no ferimento e faço careta quando começa a latejar, respiro fundo e ele me trás algumas roupas para que eu vista. Então sai do banheiro de novo e começo a me vestir.

Engulo em seco sentindo o cheiro das roupas dele e percebendo que é um perfume masculino bom de sentir o cheiro, saio do banheiro e vejo ele ajeitando as coisas para cuidar do meu braço.

Sento em uma cadeira, a única cadeira que ele tem aqui, e Ian começa a colocar soro no meu braço enquanto passa um pano limpo. Mordo o lábio e ele faz o curativo rapidamente, levanto a cabeça e o encaro para perceber que ele desvia o olhar rapidamente.

-Eu posso ir embora agora, deixar você em paz.- explico.- Você não descansou....

-Estou no meu turno, então teria que ir com você.- explica.- É melhor você ficar aqui, está segura.

-Meu pai....

-Avisei a ele que passou mal e preferiu não entrar em um carro.- explica.- Tá tudo calmo, não se preocupa.

-Tá.- respiro fundo e vejo ele pegar o celular.

-O que você quer comer?- pergunta.

-Qualquer coisa.- mexo os ombros e vejo ele sentar na borda da cama.

Ian começa a pedir e cruzo minhas pernas em cima da cadeira e observo ele passando a mão pelo ombro enquanto mexe no celular. Desvio o olhar de Ian e abaixo a cabeça para encarar o chão invés dele.

Estava tão envergonhada por ter agido assim na frente dele e não sabia o motivo, passo a mão pelo meu rosto e penso no porque que eu estou tão envergonhada de ficar na frente dele. Eu devo ter feito algo bem idiota e não me lembro, mas ele deve, por que não olha para mim.

Só vou ficar calada.

Ian García

Escondo o caderno embaixo do colchão enquanto Izzy está distraída com a comida e como uma batata frita que veio com o bife que pedi para mim. Lembro de ontem a noite e fico calado enquanto as imagens vem na minha mente.

Olho para Izzy de novo e a observo com uma camiseta minha e um calção que parava no seu joelho. Passo a mão pelos cabelos e vejo Izzy mexendo no celular para responder as mensagens.

-Ah, não.- ela levanta.

-O que?- pergunto.

-Eu prometi que ia pro parque com Nico.- ela começa a pegar as roupas.- Pode me deixar em casa para trocar de roupa?

-Posso.- guardo a comida dentro do fogão.

Ela simplesmente começa a trocar de roupa na minha frente e desvio o olhar sentindo que já invadi a privacidade dela demais. Quer dizer, me masturbar pensando nela quando ela estar dormindo no outro cômodo parece doentio.

Pego as chaves do carro e abro a porta para ela passar, deixo que ela vá primeiro e me forço a esquecer o que aconteceu esse dia. Pareceu uma quebra de rotina tão grande que eu não podia me deixar afetar, só tinha que esquecer o que tinha acontecido essa noite.

Era fácil.

O Protetor - 4° GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora