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Haechan inspirou profundamente, expirando logo em seguida, se sentindo mais relaxado. Ficar no enorme jardim da sua casa lhe trazia tranquilidade. Infelizmente ele não podia sair ao mundo exterior, não porque não lhe era permitido, mas sim porque o magoava.

-Jovem Haechan.- Uma garota responsável pela limpeza, que estava atrás dele, o chamou.- Logo começará a chover. Recomendo que o senhor entre.

-Claro. Só quis sair por alguns segundos.- Respondeu amavelmente. Ele levantou o olhar para mirar o céu cinzento com nuvens dispersas. Seu celular começou a tocar e ele o pegou. Era Mark.

-Sim? - Haechan atendeu.

-Achei que ia ter que ligar para algum dos seus empregados. Fico feliz que você tenha atendido minha ligação.

-Você sabe porque eu atendi.

Mark bufou em frustração. Antes, Haechan atendia suas chamadas com uma voz alegre, agora parecia que ele estava sendo obrigado a atender.

-Por que ele ainda não está aqui?

-Ainda estou trabalhando nisso.

-Ainda? Não se esqueça que eu não vou ficar aqui por muito tempo.- Murmurou com uma voz gentil, porém severa.

-Haechan... Isso é mesmo necessário?

Haechan apertou seu punho ao escutar a voz irritada do outro.

-Ele te perdoou, eu sei disso.- A voz de Mark soava como uma súplica.

-Não, você não sabe. Você não é o Jaemin.

-O robô também não é. Ele só tem a cara do Jaemin e não sua personalidade. Ele é uma máquina.

-Você não entende.

-Eu sei. Sei que não entendo, mas isso te fará mal. Sendo honesto, isso me dá medo. O médico disse que você pode se curar. Você pode viver sua vida tranquilamente se sair com sucesso de tudo isso.

-Viver tranquilamente? - Haechan perguntou sentindo as palavras lhe queimarem.- Como eu vou viver tranquilamente tendo em mente que eu matei o Jaemin?

-Você não o matou, não diga isso... Ele teve seus motivos.

-Eu fiz a vida dos meus...

-Já chega Haechan! - Mark gritou, aumentando o tom da sua voz com força.- Você me deixa preocupado, não gosto de te ver sofrendo por causa disso. Por que é tão difícil para você esquecer isso?

"Como se fosse fácil, como se a vida de Jaemin não tivesse valido nada", Haechan pensou.

-Tu sabes que eu não quero que você o veja, mas... Se Jeno continuar enrolando, então eu vou cuidar disso.

-Está bem.- Haechan sussurrou secamente, desligando a chamada.

Ele apertou o celular em sua mão e notou que uma gota havia caído na tela. Haechan levantou o olhar e outra gota tocou sua bochecha.

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-O que faremos quando o encontrarmos? Apenas digo o código e ele desliga? - Jisung perguntou observando o GPS no seu celular.

-Não. Vamos vigiar um pouco.

-Não entendo porque cê complica tudo. Somente vamos atrás dele, se ele estiver acompanhado, então distraímos a pessoa e levamos o JAE01. Ela não poderá fazer nada.

-Exceto nos processar e fazer um escândalo.

-Esquece isso. O ponto é: só pegamos ele, levamos para o laboratório e seguimos nossas vidas.

-Fica quieto.- Jeno mandou, observando pelas janelas escuras.

Ele olhou a vizinhança conforme iam avançando. Seu estômago revirou e ele sentiu um nó na sua garganta ao sentir-se melancólico. O bairro não havia mudado nada. Tudo estava igualzinho, até o parque onde Jeno havia esperado o humano Jaemin para irem ao primeiro encontro deles.

-Está começando a chover. Isto vai ficar mais difícil.- Jisung avisou, ligando o limpador de para-brisa.

-Já está difícil.- Jeno sussurrou para si mesmo.

Jisung adentrou pela rua à sua esquerda, estacionando, pois mais adiante deles, se encontrava um beco cheio de casas e não tinha como seguir com o carro. Jeno estava a ponto de abrir a porta, mas Jisung o deteve, trancando o veículo. O mais velho o olhou pelo retrovisor frontal com a sobrancelha franzida.

-Eu não deveria cuidar disso, já que isso está te matando?

-Isso não tá me matando.

-Você parece assustado e todo o seu rosto dá a entender que você está com medo. Entendo que estas ruas te encham de lembranças, então é melhor que você espere no carro.- Jisung pegou o guarda-chuva que estava no assento do passageiro e saiu do automóvel.

Jeno não protestou, já que o outro tinha razão. Seu coração não iria suportar estar na frente daquela casa. Em qualquer momento, ele desmoronaria e isso seria um problema. Custou meses para que ele pudesse seguir a diante.

Ele recostou sua cabeça no banco, tratando de se acalmar. O som da chuva o ajudou, mas também o arruinou.

Jeno se lembrou da vez que Jaemin saiu tarde da escola e não tinha guarda-chuva. O bom era que Jeno tinha ido buscar ele e levou um guarda-chuva consigo. Ele o acompanhou até em casa, enquanto ambos sorriam debaixo da chuva, se divertindo.

Ele não pode evitar de sorrir ao se lembrar. Sorria com pesar.

Jeno abriu os olhos e girou sua cabeça para a esquerda, vendo as gotas de chuva se chocarem contra a janela. O que chamou sua atenção foi ver um grande gato caminhando no meio da chuva. Ele ficou tenso instantaneamente, sem crer.

-Bongsik? - Sussurrou Jeno com a voz quebrada.

O gato se parecia demais com ela, só que agora ela estava grande e velha. Já não era mais a gatinha bebê como ele se lembrava.

Imediatamente, Jeno se aproximou do assento do motorista e destrancou o veículo, desesperado.

Ele saiu do carro e correu desesperadamente até a gatinha, sem se importar com a chuva que estava o molhando. A gata tombou a cabeça para o lado familiarizada e deixou ser pega por Jeno.

A gatinha miou e Jeno a escondeu entre o seu peito e o seu pescoço, para que a chuva não a molhasse mais. Porém, ela girou sua cabeça para frente. Jeno olhou para onde a gatinha estava mirando e ficou sem palavras ao observar a cena à sua frente.

Jaemin tinha um guarda-chuva em mãos, com um grande sorriso em seu rosto, enquanto, ao seu lado, havia um garoto mais baixo que ele. Os dois riam e se empurravam com delicadeza, como se fossem namorados passeando por aí.

Jeno não soube se era a chuva escorrendo por suas bochechas ou se eram suas lágrimas caindo sem piedade.

Second Life (Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora