Second Life (Tradução)

32

-O que você tá fazendo aqui? - Jeno perguntou assim que abriu a porta.

-Renjun trouxe um amigo para casa e me mandou vir aqui para que ele não saiba de mim.

Jeno levantou uma sobrancelha sem entender se isso era verdade. Ele saiu para ir até a casa do garoto, mas Jaemin o deteve se colocando à sua frente.

-Acho que ele saiu com um amigo que bebeu demais.

-Ele sabe que você está morando com ele. Que moleque irresponsável.- Jeno comentou seriamente.

-Não o culpe, ele provavelmente não queria isso.

Jeno soltou um suspiro discreto ao ver o rosto calmo de Jaemin, tão discreto que ele nem pôde escutar. Esse tipo de atitude não o agradava.

-Não lhe cause mais problemas.- Jaemin pediu.- Deixe ele por hoje.

Jeno deu a volta e entrou em casa, sem mais, tendo Jaemin atrás de si. O robô observou ao seu redor e notou uma casa pobre, vazia e miserável. Não havia nada para decorar, só uma enorme mesa em um canto com três telas enormes com computadores e um teclado. Parecia a residência de um adolescente universitário com problemas financeiros e viciado em videogames que afundariam a sua vida.

Aproximou-se da cozinha e notou que havia apenas uma mesa com duas cadeiras. Abriu a geladeira e negou com a cabeça ao notar que estava cheio de energéticos e uma cerveja ao fundo. Jeno sequer se alimentava direito.

Jeno o olhava com o canto dos olhos, enquanto se sentava e prosseguia com o seu trabalho, teclando em grande velocidade, arquivando alguns e-mails. Jaemin seguia investigando o local e o único som que preenchia o ambiente era o som do teclado sendo usado.

Jaemin aproximou-se de Jeno lentamente e notou algumas latas esmagadas em sua mesa, umas que estavam com o conteúdo pela metade e outras que estavam cheias. Ele as cheirou como se fosse um cachorrinho.

-Você cheira a pizza.- Jaemin falou.

-Pedi uma para comer.

-Seu lar é horrível, o do Renjun é bem melhor.

Jeno mordeu a língua ao escutar esse comentário e somente o deixou passar.

-Tem alguma sacola?

-Tem do lado da geladeira.

Jaemin foi em busca de uma, se aproximando da mesa de Jeno em seguida para recolher as latas, atirando-as dentro da sacola.

-Você é um folgado.- Jaemin sussurrou baixinho, mas mesmo assim Jeno havia escutado.

Jeno parou de se mover e seu rosto ficou tenso. Era a mesma frase que o Jaemin humano lhe dizia quando ele se comportava dessa maneira.

Então ele teve um déjà vu. Estava na mesma situação, só que anos atrás, com Jaemin. A única diferença era que Jeno jogava videogames. O mais velho sempre tinha seu quarto bagunçado e quando Jaemin ia visitá-lo, sempre reclamava.

Doía tanto ver o seu rosto e entender que aquilo não era real.

Jeno observou cada movimento que JAE01 fazia. Ele recolhia o lixo que se encontrava no chão e seguia olhando ao seu redor como se estivesse resolvendo algum mistério.

Não podia odiar o robô, era como odiar-se a si mesmo. Ele facilmente poderia se deixar levar pela dor, mas o fez. Em vez disso, tirou seu pai da empresa e criou o projeto JAE01.

Ele havia sido criado graças à dor que Jeno nunca pôde superar.

Jeno chorou muito durante todo o processo. Ele tratou de colocar a mesma personalidade e a mesma aparência física de Jaemin, como se fosse o seu clone. Não ficou perfeito, mas era extremamente similar a ele, tanto que seu coração doía algumas vezes.

-JAE01.- Jeno o chamou e ele imediatamente se aproximou.- Alguma coisa fora do comum aconteceu essa semana?

-Renjun me convidou para um encontro.

-Ele fez o que?! - Perguntou impetuosamente.

-Ele me chamou para um encontro.

-O que você vai fazer?

-Vou aceitar. Se isso o faz feliz, então direi que sim.

-Não. Você tem que negar.

-Por que? Isso vai deixar ele triste.

-Não faça com que ele fique apegado a você, nem demonstre carinho por ele.- Jeno disse seriamente.

-Por que você diz isso? O que tem de errado em ser carinhoso com ele?

-Quando te levarmos embora ele vai entrar em negação e fará todo um drama para que você fique ao seu lado, só porque ele te ama. Não quero ter que lidar com uma criança chorona como se você fosse o brinquedinho dele. Só vai deixar ele mais dramático.

Jeno se levantou, disposto a ir até seu quarto, mas as palavras de Jaemin o detiveram.

-Não quero.- Jaemin declarou em um tom severo.

-O que disse?

-Eu... Quero sair com o Renjun.

-Você não está seguindo as minhas regras? Está me desafiando? - Perguntou irritado ao se aproximar.- Porque eu posso te levar de volta para o laboratório agora mesmo sem avisar o Renjun. Posso fazer você sumir da vida dele se eu quiser.

-Eu gosto de estar com ele.- Jaemin admitiu.- Ele me faz sentir bem.

-Sentir? Você não sente nada, para de dizer bobagens.

-Sei que não sinto, mas... De alguma forma, Renjun me faz feliz. Se eu tivesse um coração, estaria batendo por ele.

-Não diga isso! - Jeno gritou com força. Suas emoções estavam se mesclando.- Você tem que me escutar! Por que você está agindo assim?

-Sinto muito se meu comentário te irritou.

-Não me irritou, é só que...

Jeno não terminou a frase, já que não soube como. As lágrimas iriam sair a qualquer segundo e ele odiava a si mesmo por estar tão fraco perante a isso.

-É só que...? - Jaemin indagou, desejando que ele continuasse.

Jeno abaixou o olhar e fechou os olhos tentando se acalmar, mas isso não ajudou em nada, pois ele sentiu os braços do outro o rodearem.

-Chora tudo o que quiser, não é bom ficar com dor.- Jaemin murmurou.

E ele tinha razão. O mais velho tinha aguentado tanta dor que tinha medo de chegar ao ponto de não suportar mais.

Jeno lentamente levantou o olhar até encontrar o rosto de Jaemin. O mais velho deixou sua testa cair até o ombro de Jaemin e começou a chorar após corresponder o abraço.