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Angel


Medicina, um trabalho notável por sua admirável complexidade e também aterrorizante para os médicos. Passamos a maioria do tempo alocados em ambientes hospitalares, o que eu diria ser nossa segunda casa tentando salvar vidas. Embora as pessoas dizem que ser médico é algo incrível, uma profissão linda,  a verdade do que vivenciamos frequentemente escapa ao entendimento geral. Nos matamos de estudar para decorar ou realizar cara procedimento existente. Recebemos, por vezes, olhares de desdém provenientes das famílias dos pacientes que, lamentavelmente, não conseguimos salvar. Testemunhamos de perto o sofrimento de pessoas que lutam incansavelmente por suas vidas, porém, de maneira cruel, não conseguem ser curados. Eu diria que ser médico é um desafio e tanto...

Los Angeles, Califórnia 23:00 PM

Encontrava-me no final de uma cirurgia cerebral, tudo ocorria bem, até demais. Concentrada em finalizar a ressecção de um tumor no lobo temporal, ouço o monitor começar a falhar. O sangramento se espalhava muito rápido e os batimentos do paciente se aceleravam rapidamente.

— Preciso de sucção, agora! — Falo autoritária, para a residente ao meu lado.

Pego o instrumento cirúrgico rapidamente, conduzindo o procedimento e esforçando-me para achar de onde vinha o maldito sangramento.

— As pupilas dele estão dilatadas, e não corresponde a nenhum sinal. — Informa o anestesista, após examiná-lo com a lanterna clínica.

Droga! Eu xingava mil vezes droga mentalmente. Outra vida perdida, só naquela noite era o terceiro. Tentava não desistir, ainda procurando de onde vinha o sangue, na esperança que ele reagisse às massagens cardíacas ou ao desfibrilador.

— Dra. Ramsey... — Uma voz alcança meus ouvidos.

Ignoro, ordenando o aumento da potência do desfibrilador. Não queria desistir, não queria perder mais um naquela noite. Mas eu já havia perdido e sabia disso. Interrompo minhas ações, direcionando meu olhar ao relógio.

Hora do óbito 23:15. — Retiro minhas luvas descartáveis e o avental cirúrgico jogando no lixo.

Saio da sala de cirurgia frustrada. Não era um bom dia, tampouco uma boa noite para mim. Em passos lentos e exaustivos, escuto alguém me chamar. Volto minha cabeça para trás, avistando Jackson se aproximar.

Jackson era um cirurgião plástico e muito bonito, pele morena, olhos verdes e um sorriso perfeito. O homem que encanta o coração de muitas mulheres, principalmente as internas e enfermeiras do hospital.

— Perdeu mais um? — Pergunta, andando ao meu lado.

— Sim, o terceiro da noite. — Retiro a toca cirúrgica, soltando o coque desajeitado em meu cabelo que se espalha sobre meus ombros.

— Sinto muito! — Murmura. — Acho que precisa se distrair, podemos ir em algum bar por perto, beber e conversar. — Sugere.

Sorrio levemente, por outro convite só essa semana. Jackson me convidava para sair quase todos os dias, apesar da minha recusa ele não desistia. É bem insistente e como dizem minhas duas melhores amigas, ele só quer me levar para cama. Um canalha.

— Estou cansada Jackson e em uma péssima noite. Só quero ir para casa. — Respiro fundo. — Mas... quem sabe outro dia?

— Você sempre diz isso, Angel! — Ri nervoso. — Mas vou respeitar, porque está em uma péssima noite. Tenho que ver alguns pacientes antes de finalizar o plantão, tenha uma boa noite! — Despede-se.

— Boa noite! — Aceno.

...

Após comunicar à família do paciente sobre a triste notícia de sua não sobrevivência e testemunhar o contínuo sofrimento, dirijo-me à sala dos Staff.

Ao entrar na sala, já trocada de roupa, vejo minha melhor amiga. Louise estava sentada no sofá, ela era chefe do departamento da cardiologia.

— Procurei por você no hospital inteiro e não te encontrei. — Diz, saboreando seu chá.

— Estava em cirurgia. — Sento-me. — Como foi hoje?

— Exaustivo, como sempre. — Suspira.

— Imagino que tenha sido. — Pego um café. — Jackson me convidou para sair hoje. — Observo, vendo-a franzir a testa.

— De novo? — Ri. — Ele não cansa?

— Pelo visto, não. — Respondo. — Mas nem adianta, só quero ir para casa e dormir.

— Você precisa mesmo, sua cara está horrível! — Levanta-se.

— Obrigada, pela parte que me toca. — Falo irônica, recebendo uma risada como resposta.

— Vamos, temos que buscar Zoe na empresa. — Pega sua jaqueta.

— Que diabos Zoe está fazendo na empresa essa hora? Não me diz que o carro dela quebrou de novo. — Levanto.

Zoe, também era uma das minhas melhores amigas. Éramos um trio, eu diria inseparáveis. Ela é advogada chefe de uma empresa famosa, aqui em L.A.

— Disse que teve tantos assuntos importantes e pendentes que acabou ficando até mais tarde e sobre o carro, nem me fale. Aquela mulher e um perigo dirigindo. Só essa semana é a terceira vez que aquele carro quebra. — Solto uma risada e saio com Louise.

...

Saímos do hospital, dirigindo-nos ao estacionamento. Entrando no meu carro, sigo em direção à empresa para pegar Zoe.

— Vocês demoraram, quase pedi um Uber! — Entra no carro, reclamando.

— Reclame mais, que a próxima vez te deixamos aqui! — Respondo sorrindo, voltando minha atenção para o caminho. Morávamos no mesmo prédio, o que facilitava.

— Como estão minhas cirurgiãs favoritas? — Sorri.

— Exaustas. — Responde Louise.

— Péssima e cheirando a hospital. — Sorrio de maneira falsa.

— Poxa! Quando não estão cansadas? Queria sair para beber com minhas melhores amigas! — Fala, indignada.

— Quando tirarmos férias. — Diz, Louise.

— Então, nunca! — Fala de maneira óbvia. — Angel e Louise, sei que este fim de semana vocês não trabalham. Iremos sair para beber e pegar pessoas, entendido?

— Vou olhar na minha agenda do sono. — Rio de Louise.

— Vamos pensar no seu caso, com carinho, Zoe. — Pisco.

Chego na cobertura, após despedir das garotas. Deixo a chave do carro na mesinha e vou direto para o banheiro, onde tomo um banho quente e relaxante. Saio vestida e me jogo na cama, fazendo a coisa que mais queria fazer depois de hoje. Dormir.




Primeiro capítulo atualizado, não teve tantas mudanças. Espero que tenham gostado e aproveitem a história!!

Com amor Ju

Medicine | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora