Capítulo 24.

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Mariana.

Girei na cama mais uma vez e bufei, irritada pelo sono não estar vindo. Levantei puta e encarei o meu reflexo de acabada no espelho, passei a mão no rosto e abri a cortina do meu quarto vendo que já era de manhã.

Sentei na cama e peguei o meu celular, vendo que já ia dar oito e meia. Inacreditável, nem cochilar essa noite eu cochilei.

Quando voltei aqui pra casa da minha mãe depois da conversa com o Lucca, eu fiquei pensando em altas paradas. Fiquei girando na cama igual um ioiô durante a noite toda.

Será que eu tomei a decisão certa?

Escutei o barulho de algo caindo lá de fora e calcei minhas havaianas antes de abrir a porta e ir ver o que era.

-Mãe!-Olhei ela caída desacordada no chão da cozinha do lado de uma forma de bolo e fui correndo na direção dela.-Mãe pelo amor de Deus, acorda.-Abaixei e deitei a cabeça dela no meu joelho.

Levei a mão no peito dela, e o coração ainda tava batendo. Suspirei aliviada.

Coloquei a cabeça dela no chão com cuidado e fui correndo pro banheiro, peguei algodão, álcool etílico e voltei pra lá correndo.

Umedeci o algodão com o álcool e aproximei do nariz dela pra ela sentir o cheiro.

Não tava funcionando, eu já tava me desesperando e ficando puta com os atores mentirosos que fazem isso nas novelas e dá certo. Quando fui levantar pra pedir ajuda ela foi abrindo os olhos devagar.

-Mãe.-Fui até ela e a ajudei a se levantar.-Que susto você me deu, o que houve?-Caminhei devagar com ela, e a ajudei a sentar no sofá.

Lúcia: Eu não sei.-Fechou os olhos, buscando na memória.-Eu ia fazer um bolo pra você comer quando acordasse, aí quando tirei a forma do armário a minha cabeça começou a doer muito e me deu uma tontura muito forte.

-Cê passa a vida com dor de cabeça agora. Melhor a gente ir pro hospital.-Falei preocupada.

Lúcia: Nem deve ser nada filha.

-Deus te ouça, mas vamos mesmo assim só pra desencargo de consciência.-Fui pra cozinha rápido e servi água num copo pra ela.-Aqui, bebe e fica aí sentadinha. Eu vou me arrumar rapidinho e a gente vai pro hospital.

Fui pro quarto pegar a minha toalha e depois pro banheiro escovar os dentes e tomar banho. Voltando pro quarto eu vesti a primeira roupa que vi pela frente, passei desodorante e saí fazendo um coque nas minhas tranças.

Peguei a minha bolsa, a chave do carro e saí de casa com a dona Lúcia atrás de mim. Tranquei o portão e embarcamos no carro, quando saímos da favela peguei a estrada rumo ao Barra D'or.

Assim que chegamos, para a nossa sorte não tinha muita gente. Em menos de trinta minutos já chamaram a minha mãe pra fazer os exames. Ela foi lá e eu fiquei sentada na sala de espera.

Quase trinta minutos depois a minha mãe voltou e sentou do meu lado.

-E aí?-Desliguei o meu celular, olhando pra ela.-Por que a demora?

Lúcia: Tava tudo certo nos exames de rotina, então eles resolveram fazer uma ressonância magnética só pra garantir que tá tudo bem mesmo. O resultado sai em uma hora, prefere esperar aqui ou vir pegar depois?

-Já tamo aqui né, vamo esperar.-Bocejei e vesti o meu moletom, tava frio pra porra aqui.

Deitei a cabeça no ombro da minha mãe e fechei os olhos, sentindo o sono me dominar.

Acordei com a minha mãe enchendo o meu rosto de beijo e sorri, me espreguiçando.

Lúcia: Aqui o resultado, quero abrir logo e esfregar na tua cara que viemos pro hospital à toa.-Falou sorrindo e já saiu rasgando o envelope.

Ela tirou o papel de lá e o olhar dela foi passando pela folha. O sorriso só ia diminuindo, até que ela terminou e ficou quieta olhando pro nada.

Peguei na hora o papel da mão dela, e senti o meu coração errar uma batida quando eu li o que tava escrito no final:

"Conclusão: Tumor maligno no cérebro."

Olhei pro teto segurando as lágrimas que queriam descer dos meus olhos a todo custo, como se a minha vida dependesse disso.

Olhei pra ela que tava chorando em silêncio, sem expressão nenhuma, olhando pra um ponto fixo e as lágrimas rolando uma atrás da outra.

Eu queria chorar, mas não podia. Eu tinha que ser o pilar dela, passar confiança, segurança, não posso desmoronar junto.

-Vai...-Pigarreei, tentando controlar a minha voz pra ela não sair falha.-Vai correr tudo bem mãe.-Peguei na mão dela que tava gelada.-Eu vou falar com o doutor e ver o que a gente pode fazer, eu juro que você vai ficar bem.

Lúcia: É castigo.-Falou baixo sem olhar pra mim.-É castigo pelo que eu fiz contigo, eu mereço.-Fungou.

-Quê? Para de falar isso, mãe. Esse assunto já foi ultrapassado.-Falei me levantando.-Vem.-Peguei na mão dela e a ajudei a se levantar.-A gente vai falar com o doutor pra ver o que dá pra ser feito.

Nosso Reinício. ‐ Livro II Onde histórias criam vida. Descubra agora