Mariana.
-QUE DROGA.-Soquei o porta-luvas, sentindo a pele do meu dedo se rasgar e fechei os olhos por conta da dor.
Lucca: Para com isso, preta.-Pegou na minha mão, olhando o machucado.-Como foi lá?
-A mesma merda que eu tô cansada de ouvir.-Suspirei.-Esqueci a porcaria do papel com o número de outro doutor, vou lá pegar.-Fiz menção de abrir a porta do carro e o Lucca pegou no meu braço e afastou da maçaneta com cuidado.
Lucca: Outro doutor, pra quê?
-Como pra quê? Pra ouvir a opinião, né Lucca.-Bufei.
Lucca: Esse é o décimo cirurgião que diz a merma parada que os outros nove falaram, preta. Eu não acho que falar com mais um vai adiantar algum bagulho.
-E o que a gente vai fazer então?-Perguntei sentindo o meu olho lacrimejar.
Lucca: Troca uma idéia com a tua mãe pra começar, depois a gente vê.-Pegou na minha mão e deu um beijo.
Deitei a cabeça em seu ombro enquanto olhava a vista da rua toda embaçada, pelas lágrimas que se formaram no meu olho.
-Obrigada.-Falei entrelaçando os nossos dedos.
Lucca: Por quê?
-Você sabe o porquê, Lucca.-Falei e ele assentiu, parando o carro quando o sinal fechou.
Essa semana eu passei todinha indo atrás de vários cirurgiões, na esperança de ouvir um deles falar que dava sim pra garantir que a minha mãe ia sair viva de uma cirurgia.
Mas isso não aconteceu, todos diziam a mesma merda; "Não há garantia de que ela vá sair viva da sala de cirurgia, vai ser oito ou oitenta."
Se o Lucca não estivesse me dando esse apoio incondicional eu já teria desmoronando, tá foda. Ele se arriscou, descendo pra pista junto comigo e com a minha mãe durante essa semana toda.
Óbvio que ele não sai do carro, mas só de saber que depois de ouvir aquelas palavras, que parecem pedras sendo lançadas contra mim, ele vai estar aqui me esperando de braços abertos, alivia muito a minha dor.
Minha mãe tava tão cansada de escutar sempre a mesma coisa que hoje resolveu nem vir com a gente hoje.
Quando chegamos na favela o Lucca estacionou o carro do lado da calçada e entramos na casa da minha mãe, ela tinha acabado de fazer o almoço, já puxou a gente pra comer.
Minha garganta parecia que tinha pedra, não tava passando nem água direito, quem dirá comida.
-Olha só mãe.-Falei sentando do lado do Lucca no sofá e suspirei.-Eu achei um site com mais contatos...-Comecei e ela me interrompeu.
Lúcia: Pra quê, filha? Pra escutar de novo o que passamos a semana ouvindo?-Sentou também.-Não há nada que os dez doutores disseram que outros não vão dizer.
-Mas...-Senti a mão do Lucca acariciando a minha.
Lucca: Preta tu já parou pra escutar a tua mãe?-Perguntou e eu neguei com a cabeça.-Vamo ouvir a opinião dela então, pô.
-Sou toda ouvidos.-Olhei pra ela que engoliu em seco antes de começar a falar.
Lúcia: Eu quero passar pela cirurgia, Mariana.
-O QUÊ?-Levantei na mesma hora e balancei a cabeça em negação.-Isso é um absurdo.
Lúcia: Absurdo é continuar procurando por algo que já encontramos, filha.
-Não!-Exclamei.-Fala pra ela, Lucca.-Olhei pra ele.-Fala pra ela que é um absurdo se arriscar desse jeito.
Ele levantou e me puxou pra um abraço, já senti lágrimas rolando pelos meus olhos.
-Não.-Tentei me soltar dele e ele me abraçou mais forte.
Lucca: Essa é a decisão dela, preta.-Beijou a lateral da minha cabeça e me ajudou a sentar.
-É perigoso, mãe.-Chorei, escondendo o meu rosto com as mãos e ela me deitou com a cabeça nas pernas dela.
Lúcia: Perigoso é não encarar a realidade, Mariana.-Passou a não no meu cabelo.-A minha decisão já está tomada.
-Eu não quero te perder, eu não vou aguentar.-Apertei a perna dela, sentindo o meu peito subir e descer rapidamente.
Lúcia: Vai ser o que Deus quiser, meu amor. Não sofre por antecedência.-Pediu se levantando.-Eu vou deitar, minha cabeça tá doendo muito.-Passou a mão na testa.
Deitei a cabeça no peito do Lucca, chorando baixinho e ele passou ps braços em volta do meu corpo, me aconchegado.
Lucca: Tua mãe é forte, pô. Logo menos essa parada não vai passar de uma lembrança infeliz.
-Deus te ouça.-Funguei.
Lucca: Gosto de te ver assim não, preta. Cê não tá dormindo direito, não come, tá perdendo peso.-Começou a fazer cafuné na minha cabeça e eu fechei os olhos.-Cê tem que se manter forte pela tua coroa, cara.
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Nosso Reinício. ‐ Livro II
Romantizm+16| Reinício: Ato ou efeito de reiniciar, de iniciar novamente, de dar início mais uma vez; recomeço. Nossa história não terminou do jeito que a maioria termina, com um final feliz, mas você está de volta e eu vou correr atrás do nosso reinício. 2°...