Capítulo 33.

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Mariana.

Tirei os óculos de grau, colocando sobre a minha secretária e passei a mão na testa, fechando os olhos. Enxaqueca hoje veio pra valer.

Eu tava trabalhando horrores e descansando pouco, nunca mais eu vou acumular trabalho na minha vida. Tô morta!

Bateram na porta e eu me esforcei pra conseguir gritar pelo menos um "entre" decente.

Evelyn: Ih, tá com enxaqueca de novo?-Perguntou e eu só balancei a cabeça positivamente.

-Senta aí.-Convidei dando um gole na minha garrafinha de água.

Evelyn: Ai Mari, isso que você tá fazendo não é saudável não.-Falou sentando.-Essa afobação toda não é só por trabalho em atraso, o jeito que você tá trabalhando muito e descansando pouco só pode ser pra fugir de algo.

-Lá vem tu de novo, mulher.-Cruzei as pernas e ela semicerrou os olhos.

Evelyn: Eu não posso te obrigar a falar a verdade, mas eu sei que tô certa.-Deu de ombros.-Bom, queria perguntar se você ainda vai precisar de mim hoje.-Disse olhando pro relógio de pulso dela.-Vai dar nove da noite já, todo mundo já foi.

-Cê pode ir, já já eu vou pra casa também.-Sorri pra ela.

Evelyn: Beleza, mas é pra ir mesmo.-Veio me abraçar e depois saiu do meu escritório.

Ela tinha razão. Eu tava real focando no trabalho em uma tentativa, pra lá de falha, de tentar esquecer os últimos acontecimentos.

Peguei a minha bolsa e depois de trancar a clínica direito e me despedir dos seguranças fui pro carro e meti o pé pro meu apartamento.

Assim que cheguei joguei a minha bolsa no sofá e me joguei no chão fresquinho, tava calor pra porra.

-Alexa liga o ar condicionado.-Ordenei e logo senti o vendo fresco do ar bater no meu rosto.

Fui pra cozinha ver o que a dona Sara, uma senhora que eu contratei pra cuidar da casa, deixou de almoço. Era estrogonofe de frango com arroz e batata palha, já servi em um prato e comi sentada na bancada da cozinha mesmo.

Terminei de comer e liguei pra minha mãe pra saber como ela tava, ela falou que tava ótima. Depois de falar com ela eu liguei pro Lucca, que só atendeu na terceira ligação.

📞

-E aí, preta. Como tu tá?

-Eu tô bem, e você? Como tá a Larissa?

-Tá levando, pô. Tô pagando uma psicóloga maneira e ela tá fazendo terapia.

-Encontraram alguma coisa sobre os caras?

-Nada.-Suspirou.-Não tamo achando porra nenhuma!

-Fica calmo, logo menos cês acham. Tô com saudade.

-Eu sei preta, também tô. Mas não vou arredar o pé desse caralho até encontrar quem fez isso.

-Você que sabe, cê tem o meu endereço e a senha da minha porta. Quando a saudade apertar eu vou estar aqui.-Falei e desliguei logo antes que ele notasse o meu descontentamento.

📞

Se há uma coisa que eu tô sendo; essa coisa é compreensiva, mas isso não me impede de ficar com saudade ou triste. A gente não se vê tem quase duas semanas, há quase duas semanas ele não pensa em outra coisa senão achar os autores do absurdo que rolou comigo e com a Larissa. Mesmo quando eu vou pra favela ver a minha mãe, ele não sai da boca pra nada!

Quando fui levar o celular no meu quarto pra carregar ele começou a tocar, era o Pedro.

Caralho, tinha esquecido total do homem.

Atendi, ele perguntou se o tempo que passei sozinha já não foi suficiente, coitado. Resolvi pôr um fim nisso de uma vez por todas, chamei ele pra vir aqui.

Acionei o porteiro quando o Pedro falou que já tava lá embaixo e mandei liberar a entrada dele.

Coloquei o a senha e abri a porta, dando espaço pra ele entrar.

Pedro: Isso aqui tá surreal de lindo.-Falou se referindo ao apartamento e eu sorri, agradecendo.

-Mau gosto eu nunca tive, né?-Ele riu e concordou com a cabeça.

Ele fez menção de tocar no meu rosto e eu desviei rápido, vendo a cara dele de confuso.

Pedro: O que foi?

-A gente precisa conversar.

Pedro: Tô ouvindo.

-Olha Pedro...-Comecei.-Você foi uma pessoa que fez muito bem pra mim.-Ele franziu a sobrancelha mas não me interrompeu.-Você sabe que eu nunca te amei, isso eu nunca escondi de você.-Ele confirmou com a cabeça.-Eu achei que com o tempo isso fosse mudar, mas não rolou. Não posso casar com você, e menos ainda continuar com esse relacionamento onde o mais importante está em falta; o amor.

Pedro: Quê? Do nada?-Gesticulou.-Cê disse que tava disposta a tentar cara, o que mudou?-Perguntou passando a mão na nuca.-Eu entendo que cê passou por muita coisa desde que voltou, mas pensei que esse tempo serviu pra pensar melhor...

-E eu pensei!-Cortei ele.-Eu não me orgulho disso, mas...-Engoli em seco.-Eu traí você.

Pedro: Ah Mariana, chifre trocado não dói.

-O que você tá querendo dizer com isso?

Pedro: Você é inteligente Mariana, não se faz de lerda.-Soltou uma risada sarcástica.-Esse tempo todo que a gente namorou à distância você acha que eu me contententei em fazer sexo só uma vez por mês?-Falou na maior naturalidade e eu arregalei o olho.-Quando você voltou eu até quis parar, mas você só ligava pra trabalho e pra sua mãe. Tive que procurar na rua o que você não me deu em ca...-Nem deixei ele terminar de falar, já virei a mão no rosto dele que virou pro lado pelo impacto.

-VOCÊ ME ENOJA!-Gritei e ele me agarrou pelos ombros, apertando forte.-Tá doendo, Pedro.-Falei baixinho, sentindo uma fraqueza tomar conta do meu corpo pela força imposta por ele.

Fechei os olhos porque já não aguentava olhar pra cara dele sem querer vomitar, e escutei o barulho de uma arma sendo destravada.

Abri os olhos, vendo o Lucca apontando o cano da glock dele na cabeça do Pedro. Na mesma hora ele me soltou e levantou os braços como quem se rende, fazendo eu cair no chão.

Lucca: Últimas palavras?-Perguntou pro Pedro e eu já levantei e me enfiei no meio deles.

-Pelo amor de Deus, não mata ele.-Pedi e ele nem tirou os olhos do Pedro.-Por favor, Lucca.-Peguei em seu rosto, fazendo os nossos olhares se encontrarem.

O Lucca abaixou a arma e eu suspirei aliviada, minha paz não durou muito, pois logo escutei a risada alta do Pedro.

Pedro: É por esse maldito, que precisa de arma pra se garantir, que você tá me trocando?-Começou a rir, mas logo calou com o impacto do punho cerrado do Lucca em seu rosto, o fazendo cair no chão com os lábios vermelhos de sangue.

Lucca: Caça teu rumo antes que eu mude de idéia.-Levantou ele pelo colarinho e jogou contra a porta.-Da próxima vez que tu tocar nela eu não vou te deixar viver tempo suficiente pra se arrepender, abraça o meu papo mermo.-Encarou ele com o maxilar travado e o Pedro saiu, batendo a porta com força.

Nosso Reinício. ‐ Livro II Onde histórias criam vida. Descubra agora