Capítulo 2.

9.3K 647 345
                                    

Lucca Pinheiro, LC

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Lucca Pinheiro, LC.| 25 anos.

Joguei os maços de dinheiro na gaveta da escrivaninha e fechei com chave, escutando o meu celular tocar logo em seguida.

Era a dona Benê ligando, antendi logo porque ela só me liga quando é grave. Uma das poucas moradoras que têm o meu contato pessoal, trabalha na minha goma, simpatizei à beça com a cria dela, passam muita necessidade mas sempre que posso dou uma ajuda maneira além do salário e da cesta básica que todo morador já recebe, dona Benê é senhora de idade já mas tem uma piveta mó novinha com idade pra ser neta dela até.

-Quero atividade hein caralho.-Falei pros vapores fazendo a contenção da boca após finalizar a ligação e fui pro barraco da dona Benê.

Todo lugar que eu ia eu era cumprimentado, respeitado sem ter que apontar arma pra ninguém sem necessidade, isso que é foda, o respeito que eu consegui através das minhas ações em prol da evolução da favela.

Te falar, não foi fácil tomar o controle de toda favela mas pela minha promessa ao Negão eu bati no peito e honrei. O mano foi morto na mó covardia, mas por um bem maior, a família.

Tinha X9 na área, o filho da puta do jp, ajudou os cana a entrar na miudinha e pegar o filho dele e a Ana, óbvio que ele foi resgatar eles, coisa que ele conseguiu, mas acabou sendo morto. Antes de morrer ainda ligou pra mim e me fez prometer que eu ia cuidar de tudo aqui.

Benê: Oi LC, obrigada por ter vindo.-Abriu mais o portão e deu espaço para eu passar.

-Tranquilo, pô.-Entrei.-A senhora parecia preocupada, qual foi?

Benê: É a Luma, balançou a cabeça.-Ela não quer comer, não quer abrir a porta do quarto, não responde. Chegou da escolinha e tá lá enfurnada desde então.

-Vou lá ver se consigo falar com ela então.-Ela agradeceu e fomos entrando.

Tentei abrir a porta mas tava trancada mermo, dei algumas batidas mas ela não respondeu.

-Princesa?-Chamei e mais uma vez nada.-Cadê a princesa do tio Lucca?

Luma: Vai embora, eu não sou princesa.-Falou com a voz fina dela baixinho.

-Como não, neguinha? Abre aqui e explica pro tio por que tu não é princesa.

Luma: Você promete que não vai rir de mim?-Perguntou baixinho e escutei ela fungando.

-Eu prometo princesa, agora abre aqui.-Pedi e escutei a chave passando na fechadura, e a porta ser aberta, revelando a silhueta baixinha dela.

Benê: Finalmente sorriu passando a mão nos cachos da Luma.-Eu vou deixar vocês conversarem, qualquer coisa estarei na sala.-Acariciou o rosto dela e se afastou.

Luma: Pode entrar tio.-Pegou na minha mão e sentamos na cama dela.-Hoje lá na escola.-Abaixou a cabeça antes de continuar.-Uma menina falou pra mim que eu sou uma macaca.-Finalizou chorando baixinho.

Porra, me deu mó ódio, papo reto. Vai começar essas putaria de fazer a piveta se sentir insegura na própria pele.

-Olha pra mim princesa.-Pedi e ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas.-Você não é macaca não neguinha, cê é uma princesa, a princesa mais linda que eu já vi. Papo dez, liga pras invejosas que te fala isso não.-Beijei a testa dela e ela me abraçou.-Ela tem é inveja da tua melanina, pô. Da próxima tu chama ela de Gasparzinho fantasminha.

Luma: Por que eu não sou igual a mamãe?-Perguntou contornando as minhas tatuagens da mão com a ponta do dedo.

-Porque tu é mais bonita, pô.-Dei risada vendo a cara de chocada que ela fez, deve ser mó confusão na cabeça de uma criança de cinco anos ter uma mãe branca que não entende o que ela passa.-Não fala pra ela que eu disse isso, beleza?

Luma: Beleza.-Deu um sorriso de cumplicidade e cruzou os nossos dedos mindinhos.

Mandei um vapor trazer sorvete pra ela e depois me despedi, sendo acompanhado pela dona Benê até o portão.

Benê: Muito obrigada mais uma vez.-Suspirou, passando a mão no cabelo.

-Não foi nada, pô. Mas por que cê me chamou? Como sabia que ela ia sair?

Benê: Instinto de mãe.-Deu de ombros.-Ela gosta muito de você.

-Hm.-Assenti.-Ela tá sofrendo racismo na escola, eu queria muito poder ajudar aconselhando mas eu e a senhora não entendemos a dor pela qual ela tá passando.-Expliquei.-O máximo que eu posso fazer é ir atrás da mãe da criança que tá fazendo isso e mandar educar a cria direito.

Ela agradeceu de novo e eu meti o pé pra boca.

Mal cheguei o radinho já tocou, puta que pariu. Os soldados que ficam na entrada mandaram o papo que uma patricinha tá dando mó show porque o carro dela não pode subir.

Peguei no meu radinho e acionei o Ht.

Ht: Qual foi?-Entrou com a cara mó fechada e sentou na poltrona que fica na minha frente.

-Porra, mandaram o papo que tem uma patricinha dando show lá embaixo então por favor vai lá explicar que carro desconhecido não sobe, porque se eu for vou acabar pipocando a cara dela todinha.

Ht: Ih porra, tava quase comendo a tua irmã de jeito seu empata foda!-Bufou e saiu batendo a porta atrás dele com força.

Nosso Reinício. ‐ Livro II Onde histórias criam vida. Descubra agora