Nosso Reinício. ‐ Livro II

Capítulo 52.

Mariana.

Lucca: Que papo torto é esse?-Franziu as sobrancelhas.

-Eu não quero ter esse filho, eu sinto muito.-Falei.-Eu vou abortar, só não queria fazer sem antes te falar.

Lucca: Tá maluca, Mariana?-Fechou a cara.-Tá certo que o corpo é teu e os caralho a quatro, mas pô, tu não pode fazer isso sem motivo plausível.

-Não é sem motivo plausível, Lucca.-Respirei fundo.-Eu não quero passar por essa experiência traumatizante de novo.

Lucca: Como assim de novo, Mariana?-O olhar dele tava confuso. Permaneci calada e ele bufou.-Responde, cara.

Engoli em seco, reunindo coragem pra contar o maior trauma da minha vida.

-Depois que eu fui embora...-Comecei.-Assim que cheguei nos Estados Unidos eu comecei a passar muito mal. Vomitava, ficava cansada por tudo e por nada, tinha muita oscilação de humor, e sentia mais fome do que de costume.-Ele continuou me encarando, esperando eu continuar.-Minha tia resolveu me levar pro hospital e...-Mordi o meu lábio inferior, abaixando a cabeça.-Eu descobri que tava grávida.

Escutei o suspiro alto que ele soltou e em seguida sua voz, que tava mais grossa do que o normal.

Lucca: Eu tô tentando lembrar do momento que tu me ligou falando que tá grávida.-Se abaixou pra olhar no meu olho.-Ah, pera.-Fingiu estar pensando.-Tu não ligou.-Soltou uma risada forçada e uma lágrima desceu do meu olho.

-DÁ PRA VOCÊ ME DEIXAR TERMINAR?-Gritei e ele se levantou.

Lucca: Tô ouvindo.-Cruzou os braços.

-Eu tava destroçada, magoada. Na minha cabeça, naquele momento, você não merecia ficar sabendo disso. Porém, com o tempo a minha tia conseguiu me convencer de que o bebê não tinha nada a ver com o que rolou entre nós dois.-Falei com a voz trêmula.-Então eu decidi que quando ela nascesse eu ia vir pro Brasil com ela pra vocês conhecerem.

Lucca: Ela.-Repetiu.-Era menina?-Assenti sentindo as lágrimas molharem o meu rosto.-Por que a gente tá falando dela no passado?-Coçou a cabeça e eu funguei.

-Porque ela nasceu morta.-Chorei alto, e ele sentou no chão com a cabeça abaixada.-Eu juro que eu fiz tudo certo durante a gravidez, eu não entendo por que ela nasceu daquele jeito.-Respirei pela boca, porque o meu nariz ficou entupido.

Lucca: QUE PORRA!-Chutou o espelho do guarda-roupa dele, fazendo uma parte quebrar e cair cacos no chão.-Em menos de um ano eu descubro que já perdi dois filhos.-Fechou os olhos e eu escutei a sua respiração pesada.-Foi por isso que tu ficou daquele jeito quando a Larissa perdeu o bebê?-Concordei com a cabeça.

-Eu tinha trancado essa fase da minha vida em um lugar qualquer na minha consciência, e ver ela passando por aquilo meio que destrancou. Me deu gatilho.

Lucca: Quem mais sabe disso?-Perguntou e eu quase não consegui ouvir de tão baixo que ele falou.

-Bem pouca gente. Nem a minha mãe sabe, ficou entre mim e os meus tios.-Sequei as minhas lágrimas com a gola da blusa.-Eu fiz terapia mas é impossível ultrapassar isso, Lucca.-Solucei.-Eu não vou aguentar passar por isso de novo, eu não tenho força pra isso, eu não consigo.-Abracei o meu joelho e chorei baixinho.

Lucca: Eu tô aqui contigo, preta.-Veio do meu lado e me puxou pro colo dele.-Se você não tem força eu tenho por nós dois, pô.-Limpou as minhas lágrimas e eu balancei a cabeça em negação.-Não tem como tu saber se vai acontecer de novo.

-Eu não quero, Lucca. Eu vou abortar com ou sem o seu apoio porque se isso voltar a acontecer eu vou morrer.

Lucca: Não diz isso, Mariana.-Passou a mão no meu cabelo e eu deitei a cabeça no peito dele, molhando sua camiseta com minhas lágrimas.-Quando a gente casou eu falei o quê pra tu?

-Que...-Funguei.-Que nunca ia soltar a minha mão e me apoiar em qualquer decisão que eu tomasse.

Lucca: É isso mermo, pô. Não vou negar que queria pra caralho ter crias contigo, mas se isso é um bagulho que faz mal pra ti eu não vou te forçar.

-Eu sou uma fracassada, me desculpa.-Apertei o braço dele, sentindo o meu peito doer.

Lucca: Pelo contrário.-Negou com a cabeça e pegou no meu rosto, fazendo eu olhar pra ele.-Tu é foda, Mariana Vanessa Andrade Pinheiro. A mulher mais forte que eu já conheci, tu já passou por tanta merda e ainda assim tá aqui firme e forte. Eu te admiro mais do que tudo nesse mundo, papo dez.-Passou os braços em volta da minha cintura e me abraçou, escondendo o rosto na curva do meu pescoço logo em seguida.

-Mesmo depois disso você ainda me ama?-Fiz biquinho, sentindo a respiração quente dele no meu pescoço e ele depositou um beijo ali antes de responder.

Lucca: Tanto que tô abrindo mão da nossa cria, por ti.-Falou e em seguida várias lágrimas saíram de seus olhos.

-Eu te amo tanto, tu não tem noção.-Passei a mão no rosto dele, secando.-Obrigada por ser você.-Deitei a cabeça no ombro dele.

Lucca: Eu te amo, tô contigo sempre minha preta.-Acariciou as minhas costas e eu fechei os olhos, deixando o cansaço me vencer.