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Quando Raphael e Adonis nasceram numa última noite de outono todos pensaram que seriam crianças idênticas, parceiras e que fariam tudo juntos, mas a realidade foi totalmente diferente. Claro que quando eram bebês Adonis e Rapha eram inseparáveis, seus pais sempre estavam juntos, mantendo eles juntos e os criando da maneira mais amorosa possível. Gwyn era uma mãe excepcional que cantava baladas de ninar aos filhos todas as noites e Azriel era um pai amoroso, carinhoso, mas também rígido em certos pontos, principalmente quando os gêmeos cresceram e foram enviados ao Refúgio do Vento. Az queria que fossem grandes guerreiros, assim como ele, e não via diferença nos filhos e no treinamento de ambos, até o dia em que Adonis demonstrou ter afinidade com as sombras, a partir daí o gêmeo ruivo passou a ser treinado pessoalmente pelo pai passando a maior parte do tempo com esse enquanto Raphael treinava com sua mãe e as Valquírias a maior parte do tempo.

Os gêmeos ainda eram próximos, mas distantes, tanto que muitos sequer desconfiavam que eram gêmeos por não serem totalmente idênticos, alguns chamavam Adonis apenas de filho de Azriel, enquanto outros chamavam Raphael de o filho de Gwyneth Berdara.

Rapha não se importava, ele amava muito a mãe e o pai, mas sabia que entre os dois iria preferir sempre Gwyn, o que sempre o dava um sentimento de culpa, mas ele se sentia... Para trás, empacado enquanto Azriel e Adonis andavam lado a lado na frente, Raphael sempre estava atrás, nunca ao lado do pai ou irmão, ele sempre se sentiu mais fraco e inferior por não ter sombras espiralando seu corpo e sussurrando em seu ouvido, se sentia... Excluído.

Mas quando cresceu e se aproximou mais de Nyx, que era anos mais velho e que o vira nascer, tudo pareceu melhorar de certa forma. Nyx o via como igual e sempre queria estar em sua companhia, sempre estavam juntos, treinavam juntos, saiam juntos, até mesmo compartilharam fêmeas na cama. Rapha também se culpava por se sentir mais irmão de Nyx do que de Adonis.

O monstro acertou um golpe em cheio na lateral do rosto de Raphael fazendo com que o guerreiro perdesse o sentido por alguns segundos, aquilo fora o suficiente para que a criatura de carne, árvore e lodo chegasse a deferir golpes atrás de golpes ferindo Raphael com brutalidade, mas logo o macho recobrou os sentidos, sentia sua pele e os cortes feito pelo monstrengo ardendo como se veneno tivesse sido enjetado, ele não descartava essa possibilidade. A criatura novamente investiu contra Rapha que habilidosamente manobrou a espada cortando o braço do monstro, mas outro cresceu no lugar quase que instantaneamente e se transformou em um chicote de cipó. O monstro golpeou Raphael com violência fazendo com que o macho fosse jogado para trás até bater com as costas contra uma árvore cujo os ganhos e raízes amarraram-no e o desarmou. Algum galhos perfuraram as asas de Raphael o fazendo berrar de dor, elas agora também estavam atadas.

Os olhos azuis oceano cheio de lágrimas de dor olharam para o monstro que agora andava lentamente até si com uma babá tóxica caindo de sua boca cavernosa e cheia de dentes afiados de madeira. Rapha respirou fundo e fechou os olhos, ele iria morrer ali e parecendo ser uma forma de reconforta-lo uma lembrança surgiu em sua mente.

" Adonis e Raphael ainda eram crianças, tinham aproximadamente oito anos de idade, ainda não haviam sido enviados para o Refúgio do Vento, então ainda eram muito amigos e próximos. Era Solstício de Inverno, todos estavam reunidos na casa do rio como tradicionalmente, os gêmeos receberam vários presentes e se divertiram muito, mas sempre chegava a hora de ir e geralmente estavam cansados demais para caminhar. Azriel poderia atravessa-los até em casa, mas Gwyn gostava de caminhar de volta, segurando Adonis adormecido no colo e a neve caindo em volta da família.

- Eles se divertiram muito hoje - disse a ruiva com sua voz doce. Nem ela e muito menos Azriel que carregava Raphael no colo de maneira carinhosa desconfiavam que o menino estava fingindo dormir.

- As vezes eu penso que queria que fossem meninos assim para sempre - continuou Gwyn e um suspiro longo veio depois. - Az... Tem certeza que enviá-los já no próximo ano é seguro?

- Foi a idade em que Nyx e Cassandra foram. Eu também preferia que eles ficassem aqui, mas eles são parte illyrianos - respondeu Azriel com sua voz baixa e roçando o queixo nos cabelos negros de Raphael. - Mas eles vão ficar bem.

- Mas e o Rito de Sangue? - perguntou Gwyn apertando mais Adonis contra deu peito.

- Isso vai demorar muito, Gwyn, e quando forem participar estarão fortes o suficiente.

Gwyn então parou de andar fazendo com que o parceiro parasse um pouco a frente e a olhasse. O rosto sardento estava corado pelo frio, a neve acumulava no cabelo ruivo e os olhos azul oceano tinham medo estampado.

- Não quero que eles sofram, Azriel - ela disse com a voz trêmula. - São nossos filhos, são tudo para mim... Eu jamais me perdoaria se algo... - afagou a mão nos cabelos ruivos de Adonis e pressionou a boca contra o ombro do menino. Azriel semicerrou os olhos olhando a parceira, mas em seguida deu um pequeno sorriso e suspirou. O illyriano se aproximou daquela que amava e levou uma mão ao rosto dela a fazendo olhá-lo com os olhos ainda marejados.

- Como você disse ele são nossos filhos, jamais serão fracos Gwyneth, eles vão se sair bem - roçou o polegar na face quente da fêmea que respirou fundo e olhou para Raphael que estava com os bracinhos agarrados ao pescoço de Azriel.

- Eu os amos demais... - ela disse levando uma mão ao pulso de Azriel que inclinou o corpo para frente e depositou um beijo carinhoso e demorado nos lábios de Gwyn.

- Eu também os amo muito - juntou sua testa a de Gwyn que sorriu doce e deu um beijo na cabeça de Adonis e em seguida nas costas de Raphael.

Quando chegaram em casa naquele noite os quatro dormiram juntos na cama do casal, os dois pequenos entre eles que os abraçavam como eram, o maior tesouro de ambos."

Raphael abriu os olhos novamente agora com fúria neles quando olhou para a criatura que sem dúvidas queria devora-lo, mas e jamais permitiria que isso acontecesse, jamais. Uma dor lancinante percorreu todo o corpo do macho mestiço e ele berrou com todas as suas forças enquanto aos poucos libertava o corpo das amarras das árvores, de maneira doloroso e com a face dos pais e de Adonis passando diante de seus olhos.

Corte de Asas Perdidas. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora